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O poder do agora – Eckhart Tolle

Postado às 13:42 do dia 25/09/12

Um livro às vezes demora pra pegar fogo. O Poder do Agora, de Eckhart Tolle (1948) é um desses que, apesar de ter sido lançado no Brasil em 2002 (e nos EUA em 1997!), só começou a ser lido e comentado e festejado na virada de 2008 para 2009. A retomada dele aconteceu, me parece, com a popularização das redes sociais, que permitiram que cópias piratas de Um Curso em Milagres começassem a ser trocadas entre todos que queriam alguma coisa mais “quente” do que o ubíquo documentário O Segredo (2006), que em 2007 virou livro homônimo, mas que sempre deu a impressão de ter mais marketing que auto-ajuda. Esses dois livros podem ter sedimentado o terreno para o sucesso do volume de Eckhart.

Além disso, à época, o canal pago GNT começava a reprisar os programas da Oprah Winfrey; num desses programas, Tolle participou como convidado de honra – e o estopim foi aceso. De repente, entre terapeutas holísticos e estudantes de filosofias espiritualistas, só se falava sobre o livro. Mas, se ele não foi pirateado como Um Curso… e o documentário O Segredo, por outro lado suas ideias deram origem a inúmeros professores piratas de meditação (há exceções), que começaram a cobrar centenas de reais para ensinar a técnica de Tolle. Agora cabe uma pergunta: é dele a técnica?

De fato, a ideia do Agora não é nova. Pelo contrário, é o cerne de muitas filosofias do oriente, como o budismo e o yoga, que ensinam que a felicidade está no agir e se manter no presente. A novidade é o jeito com que Eckhart fala do assunto, misturando o jargão psicológico, quântico, cientificozinho e ocidental com a mística da espiritualidade que independe de religiões. O livro também é escrito no formato de pergunta e resposta que, sabemos, emplaca entre os best sellers do gênero: Dalai Lama, Thich Nhat Hanh, Sivananda, Aurobindo, Sai Baba, Samael Aun Weor, Osho e os mais prosaicos Deepak Chopra e Jean-Yves Leloup têm ensinamentos publicados do mesmo estilo, falas transcritas por fiéis e apaixonados discípulos que participaram de seus seminários. Assim, os ensinamentos vêm pras questões do dia a dia e adquirem a dicção da conversa ao pé do ouvido – ao invés da aridez do ensaio filosófico ou religioso. Quem pega um livro como O Poder do Agora quer receber um deeksa, isto é, uma iniciação, e ela não poderia vir num longo discurso em 3ª pessoa, poderia?

Bem. Selecionar as melhores partes desse livro é im-pos-sí-vel. O meu exemplar está inteiramente rabiscado, sublinhado, cheio de setas prum lado e pro outro, além de eu ter dobrado o canto de várias páginas para me lembrar das melhores passagens. Ainda assim, cometerei essa missão. Se você não conhece o livro, essa seleção, creio, irá estimular que o compre. Se já conhece, então preciso recomendar a leitura de Um Novo Mundo, que é o livro que Tolle escreveu depois do sucesso de O Poder do Agora e que uns consideram melhor ou consideram o manual prático daquele primeiro. Eu gostei mais de O Poder…, porque é sintético, e eu acho que o impacto das ideias do autor reside justamente na concisão com que as transmitiu.

 

 

Simplifique

“A palavra iluminação transmite a ideia de uma conquista sobre-humana – e isso agrada ao ego –, mas é simplesmente o estado natural de sentir-se em unidade com o Ser.” (p. 16)

“Adoro a definição simples de Buda para a iluminação: ‘ É o fim do sofrimento.’ “ (p. 16)

– No começo dessa resenha, não usei a palavra iluminação, mas ela é a meta. Acho que todos que já quebraram a cara atrás da iluminação se simpatizam de imediato com a abertura do livro de Tolle, porque ele elimina de imediato todo obscurantismo em torno dessa ideia, do qual se valem, aliás, inúmeros (falsos) mestres para amealhar discípulos que acham que a verdade, necessariamente, precisa estar oculta. Com Eckhart, a verdade é dada logo no início – e você continua lendo o livro se quiser.

“O que poderia ser mais insensato do que criar uma resistência interior a alguma coisa que já é?” (p. 37)

– Não tem mais nada.

“Aceite, depois aja.” (p. 38)

– Pois é, pois é, pois é. Anos de leitura de Karma Yoga e continuo patinando no mesmo ponto. Mas se até Arjuna encrencou antes, há esperança pra gente.

“Quando criamos um problema, criamos sofrimento. Por isso, é preciso tomar uma decisão simples: não importa o que aconteça, não vou criar mais sofrimento nem problemas para mim. É uma escolha simples, mas radical.” (p. 67-68)

– No budismo, esse sofrimento que adicionamos a algo que nos ocorre é chamado de 2ª flecha. A primeira, da vida, não tem como escolher não receber; mas a segunda a gente pode decidir não atirar.

“Não busque nenhum outro estado além daquele em que você está agora, do contrário, vai criar um conflito interno e uma resistência inconsciente.” (p. 189)

– Se for raiva, que raiva seja; se for impaciência, que impaciência seja; se for inveja, que inveja seja. Aceite o que é, mas não reaja; observe. Depois de um tempo, passa.

 

 

Coloque em prática

“Acreditar pode até trazer conforto. No entanto, a libertação só pode vir através da vivência pessoal.” (p. 19)

– Dentro dos aforismos que compõem o livro antigo Hatha Yoga Pradipika, existe um que fala diretamente sobre a importância da prática em relação à teoria. Veja: ‘O sucesso no Yoga não é alcançado pela mera leitura dos textos sagrados. O sucesso não é obtido ao se vestir a roupa de yogi ou de um sannyasin (asceta) ou falando sobre o Yoga. Apenas a prática constante é o segredo do sucesso. Verdadeiramente, não pode haver dúvida quanto a isso’. (in: COSTA, Elisa. Sadhana física ou espiritual. Site yoga.pro.br, 13/08/07.)  Já de Patthabi Jois, falecido professor indiano, codificador do método Ashtanga Yoga, é conhecida a frase de que yoga é 99% prática e 1% teoria. Êêêê, meu caro, pratique – a iluminação não vem das ideias.

“Uma quantidade maior de tempo não consegue nos livrar do tempo. Acesse o poder do Agora. Essa é a chave.” (p. 92)

– O ponto mais interessante de todo o livro é a ideia que não adianta você buscar no seu passado as causas de sua infelicidade. Tampouco no futuro, o que  seria bastante ilógico. Só o presente pode resolver o passado e nos livrar do futuro.

“A mente não consegue perdoar. Só você consegue.” (p. 121)

– Você = coração.

 

 

Estou no Agora?

“Para medir, sem errar, o seu sucesso nessa prática, verifique o grau de paz dentro de você.” (p. 24)

– Hum… not yet!

“Você está esperando para começar a viver?” (p. 87)

– Gente, e o que é a nossa civilização ocidental senão o aprendizado da espera paciente para começar a viver?!

“A consciência do corpo nos mantém presentes. Ela nos dá uma base firme no Agora.” (p. 95)

– Quer saber se está no presente? Responda: o que sinto no corpo? Na psicologia existe uma expressão – “sensação de órgão” – que quer dizer mais ou menos isso: o corpo traduz a mente e é a chave para transformá-la.

“Em um organismo que funcione perfeitamente, uma emoção tem vida curta.” (p. 120)

– Não é o tipo do ensinamento que vale o livro? Claro: a emoção É passageira. Se dura é porque os circuitos neuronais estão viciados.

“A maioria das doenças acontece quando não estamos presentes em nossos corpos. Se o dono não está em casa, todos os tipos suspeitos vão aparecer por lá.” (p. 124)

– Apesar de eu concordar com o livro seja “ótemo”, ele não resolve sozinho. Ele não ensina como estar no corpo da mesma maneira que, por exemplo, manuais de meditação.

“Em vez de brigar com o escuro, você traz a luz.” (p. 159)

– Esse é um teste bom pra verificar o nível de Agora numa discussão: estou adicionando luz ou mergulhando na escuridão?

“Se você se sentir leve, livre e profundamente em paz, é sinal de que você se entregou completamente.” (p. 208)

– Viu? Mas tem que ser uma sensação, sensação; não esqueça da dica do corpo, tá?

 

 

Passos anteriores

“O segredo da vida é ‘morrer antes que você morra’ – e descobrir que não existe morte.” (p. 49)

“O fim da ilusão – é isso o que a morte significa. Ela só é dolorosa enquanto permanecemos presos à ilusão.” (p. 144)

– A segunda citação explica a primeira, não?

“Nunca personalize Cristo. Não dê uma forma de identidade a Cristo. Avatares, mães divinas, mestres iluminados, ou pouquíssimos que realmente são, não têm nada de especial como pessoas. Como não têm de sustentar o ego, defendê-lo ou alimentá-lo, são mais simples do que as pessoas comuns. Qualquer pessoa com um ego forte os olharia como insignificantes ou, mais provavelmente, nem os veria.” (p. 106)

– O ponto é que Eckhart diz que as pessoas com um ego grande se seduzem por outras com egos tão grandes quanto – os falsos mestres.

“Para irmos além da mente e nos religarmos à profunda realidade do Ser, são necessárias qualidades muito diferentes: entrega, não julgamento, uma abertura que permita a vida existir em vez de resistir, a capacidade de sustentar todas as coisas no amoroso abraço do saber.” (p. 164)

“Perdoar o presente é até mais importante do que perdoar o passado. Se perdoarmos cada momento, se permitirmos que ele seja como é, não haverá nenhum acúmulo de ressentimento a ser perdoado mais tarde.” (p. 175)

– Sempre que vejo o mercado editorial de ficção metendo o pau nos livros de auto-ajuda, acusando-os de darem, todos, uma receita milagrosa para o sucesso e a felicidade, só me pergunto se quem critica auto-ajuda é leitor de auto-ajuda? Porque acho que não é! Cadê a solução fácil nos dois parágrafos acima? Auto-ajuda – mais até do que a ficção – é o tipo de leitura que depende 100% do leitor.

 

 

Próximos passos

“O predomínio da mente é apenas um estágio na evolução da consciência. Precisamos, urgentemente, passar ao próximo estágio, senão seremos destruídos pela mente, que se transformou em um monstro.” (p. 26-27)

– Deixa eu fazer aqui o meu merchan vegetariano: se para evoluir enquanto espécie, a humanidade precisou comer carne, hoje é imprescindível que ela pare de comer se quiser continuar existindo.

“A humanidade está sob uma grande pressão para se desenvolver, porque é a sua única chance de sobreviver como raça.” (p. 158)

– Entendeu por que a pressa?

“Através da entrega, a energia espiritual penetra nesse mundo.” (p. 205)

– Aceita, confia, entrega e agradece. Saravá!

 

revisto por Mayra Corrêa e Castro (C) 2012

(Se compartilhar, por favor, cite a fonte. É algo simpático e eu fico agradecida.)

TOLLE, Eckhart. O poder do agora: um guia para a iluminação espiritual. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.

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