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Amor incondicional – Paul Ferrini

Postado às 13:37 do dia 19/02/14

Se você não frequenta o meio das terapias naturais, nem círculos de meditação, muito menos lê auto-ajuda, o título deste livro vai lhe soar um romance daqueles bem chinfrins. Sabe o ledo engano? É o caso: Amor Incondicional – Reflexões da Mente de Cristo, de Paul Ferrini, será, possivelmente, um dos dez melhores livros que você lerá na vida. Claro, se você for um leitor daqueles que tem ojeriza a autoajuda, jamais passará pela lombada dele. Mas, se quiser rever seus conceitos sobre o que é certo ou erudito ou bonito ler, compre o livro, leia, rabisque, fique embasbacado.

Você não precisa ser cristão pra aproveitar o livro. Aliás, nem acreditar em Deus você precisa. O livro usa a “voz” de Cristo, mas fala aos valores universais humanísticos. Também não é um livro psicografado; pode ser – pra ficarmos num conceito moderno – , um livro escrito por um autor que entra no campo quântico da consciência crística, que é a mesma de Buda, Krishna, Alá ou qualquer outro nome que você queria dar ao que É.

Aqueles que estudam Um Curso em Milagres (UCEM) encontrarão os três quilos desse condensados neste, que tem a surpreendente capacidade de transportá-lo para o estado de Ananda. Não sei como, mas leva. É como se você desse de cara com a Verdade e isso produz aquele relâmpago de Conhecimento. Dura um tico – e some. Mas deixa a sensação da Experiência em você. Talvez porque ele demonstre compaixão – e nisso é uma mensagem budista; ou porque aja com devoção – e nisso é hinduísta; quem sabe porque provoque redenção – quando se torna cristão. Ou porque nós todos precisamos urgente resgatar a fé no amor. Quer saber? Fico com essa última alternativa.

Agora um pouco sobre o autor: Paul Ferrini já escreveu uma vintena de livros, traduzidos pelo menos em dez línguas, e se dedica há 35 anos à cura espiritual. É norte-americano e conferencista que viaja o mundo todo. Você pode ouvi-lo, em inglês, em seu próprio canal no You Tube. Alguns livros dele têm tradução bancada por editoras consagradas no Brasil, como a Pensamento, outros você só consegue ler no esquema da auto-publicação, traduzidos por voluntários.

Vamos ao crème de la créme:

 

Nada a ver com religião

“Quem caminha com Jesus não defende nenhum tipo de separação. Jesus pratica o amor e o perdão por todos os seres, incluindo ele mesmo. Jesus aceita os judeus, os hindus e os mulçumanos como seus irmãos. Ele não procura converter ninguém, mas repousa com segurança na sua própria fé. Ele tampouco acredita que àqueles que escolhem caminhos diferentes será negada a salvação. O verdadeiro seguidor de Jesus sabe que Deus tem muitas maneiras de nos levar de volta para casa e nunca duvida do caminho que a vida lhe propôs.” (p. 9)

– Achamos que apenas os fanáticos religiosos querem converter, mas mesmo aqueles que não confessam regilião alguma lutam pra converter os diferentes: vegetarianos convertem não-vegetarianos, adeptos da bicicleta convertem motoristas, macmaníacos convertem windowsdinossauros, esquerdistas convertem direitistas. A verdade é que todos fazemos campanhas e a lição mais linda deste livro é: não faça campanha, não há necessidade de fazê-las – apenas ame.

“As crenças nos separam, os pensamentos nos unem.” (p. 11)

– Evidente, porque uma crença não se discute, e um pensamento se compartilha.

“Todas as experiências acontecem por uma razão apenas: para expandir a sua consciência.” (p. 31)

– Alguém falou em pecado? karma? expiação? Também não ouvi.

“Ninguém pode forçar outra pessoa a despertar.” (p. 77)

– E ponto.

“A espiritualidade autêntica nunca é linear. Nunca é prescritiva.” (p. 142)

– Talvez você ache útil ler Depois do Êxtase, Lave a Roupa Suja, de Jack Kornfield.

“Cristo é aquele que concede a recebe a dádiva de Deus. E Cristo nasce em você sempre que você concede ou recebe a dádiva. Não importa quem lhe ofereça a dádiva do perdão. Pode ser seu filho, seu pai, sua mãe, seu amigo ou seu inimigo. Tudo o que importa é que você a receba. E quando você recebe essa dádiva, tanto você quanto essa pessoa se tornam o Cristo.” (p. 158)

“O perdão opera neste mundo, mas não é deste mundo.” (p. 154)

– Errar é umano, perdoar é divino.

 

 

Tá em nossas mãos

“Definitivamente, o fim do sofrimento humano só ocorre quando decidimos que já sofremos o bastante.” (p. 11)

– Sei, sei, é um clichê, mas ninguém ainda o superou.

“Apenas os pensamentos que nos abençoam e evocam em nós a verdade devem ser conservados.” (p. 18)

– Uma técnica que minha avó me ensinou foi de visualizar um saco plástico que vem, envelopa os pensamentos nocivos, e daí assoprá-los pra bem longe. Ajuda.

“O amor é a única resposta que dissipa o medo. Se você não acredita nisso, pelo menos tente. Ame qualquer pessoas ou situação que lhe desperte medo e o medo desaparecerá. Isso é verdade não só porque o amor é o antídoto do medo, mas porque medo é ‘ausência de amor’”. (p. 22)

– Pergunta: como sentir amor? Sentindo. Não, fala sério, como? Tá bem; tente a empatia.

“Sua liberdade básica depende do fato de você aceitar as experiências da sua vida e aprender com elas.” (p. 32)

– Não existe fardo na responsabilidade, apenas na obrigação.

“Para entender qualquer coisa neste mundo, você precisa ir além da forma e ver a intenção. Procure observar a intenção por trás da maneira como uma pessoa se expressa e você vai ver com mais clareza o que essa expressão significa para ela. Contudo, se você olhar apenas a forma, nua e crua, verá apenas o que ela significa para você.” (p. 40)

– Não é bacana isso? não serve de fato pra despertar a compaixão além de autoconhecimento?

“Para se desapegar das formas é preciso conhecer as pessoas, não se afastar delas. O distanciamento não produz desapego e sim o oposto.” (p. 40)

– Vou explicar isso pra você: imagine termos um amigo em comum; eu o conheço há anos e você o conhece há pouco tempo. Você se queixa do jeito duro, grosseiro, rude e eu lhe digo que, na verdade, nosso amigo é um coração mole super generoso. Sacou? Eu, que convivo com ele, me distanciei da forma; você ainda não pôde se desapegar dela.

“Caso esteja difícil para você perdoar e amar alguém, então admita. Não condene essa pessoa para poder justificar a sua própria fraqueza. Se você está com medo, diga a verdade. A verdade sempre traz a sanidade.” (p. 44)

– Quão bom não é isto, hein?! – A  verdade sempre traz a sanidade.

“O amor é um presente que se deve dar constantemente em toda situação em que ele é solicitado.” (p. 53)

– Não sei se você reparou, mas existe uma condição aí: “em que ele for solicitado.”

“A transição do julgamento para a aceitação e da separação para a empatia é a essência da cura.” (p. 58)

– E não é mesmo? Isso se resume à modéstia – a virtude máxima (com perdão do trocadilho).

“Você acredita que tem de escolher entre o certo e o errado. Mas você ou qualquer pessoa é capaz de determinar o que é certo e o que é errado? No momento em que acha que sabe, você perde o fio da verdade.

Então não tente escolher. Você não sabe o que é verdade e o que não é. Não aceite um lado nem rejeite o outro. Aceite ambos ou nenhum. Seja neutro e verá

a vida como é e não com o significado que você quer.” (p. 65)

– Gente! Isso é show! Tem que ser ensinado desde pequeno porque só quando se é velho se aprende isso, e ainda assim só depois de uma lambança boa da vida. Mas, agora, advogado do diabo: qualquer aplicação leviana desse parágrafo pode resvalar pra omissão, pra falta de comprometimento e pro cinismo – o que não é o caso, como você pode intuir.

“A disposição de perdoar a si mesmo e de libertar os outros dos seus julgamntos é o maior poder que você pode conhecer enquanto viver esta encarnação. O único poder maior que o do perdão é o poder do amor. E sem o gesto do perdão, que remove o véu do medo, o poder do amor permanece inatingível.” (p. 67)

– Sabe aquele papo dos siddhis? Esquece. Desapego, meu chapa, é o verdadeiro siddhi.

“Honestidade emocional é fundamental para o crescimento espiritual.” (p. 83)

– Chupemos que a cana é doce!

“Eu não estou pedindo para você meditar ou rezar uma hora por dia, apesar de não haver nada de errado nisso. EU simplesmente peço que você se lembre  da sua Essência Divina durante cinco minutos a cada hora ou que faça desse um pensamento a cada dez.” (p. 99)

– Factível, né? Depois a conta vai aumentando espontaneamente.

“Para conviver pacificamente com as outras pessoas, é preciso que você veja aquilo que liga vocês a elas e não o que os separa. Ao ver aquilo que os une, você começará a respeitar as diferenças.” (p. 150-151)

– Quando a gente discute, um bom modo de parar de discutir é se perguntar: a gente tá discutindo porque se ama é quer ficar junto ou porque se odeia e quer distância? Isso põe as coisas em perspectiva.

 

 

Erros comuns

“Você pode libertar seu irmão do julgamento que faz dentro da sua própria mente.” (p. 17)

– Verdade. A gente até aprende a não pronunciar um julgamento, mas julga, sempre julga.

“Você escolheu seus pais para agravar cada vez mais a sua culpa até o ponto em que tome total consciência dela.” (p. 19)

Nota bene: acreditamos que escolhemos quem será nossos pais quando reencarnamos. Como Jack Kornfield disse: a iluminação termina na família.

“Buscar amor incondicional num mundo feito de condições é absolutamente inútil.” (p. 20)

– Isso é quase herético, porque pode ser usado a favor do utilitarismo em todas as relações humanas.

“Acusar é ensinar a culpa e perpetuar a crença de que a dor e o sofrimento são necessários.” (p. 22)

– Ou seja, bastou um J´accuse na história e a humanidade não precisa mais pronunciá-lo (piadinha literária, não resisto).

“Pedir ao outro para que o perdoe demonstra que você está pronto para mudar de opinião sobre o que aconteceu. Esse é o primeiro passo importante nesse processo.

Entretanto, não cometa o erro de dar ao seu irmão o ‘poder’ de perdoá-lo. Isso coloca o poder fora de você, onde nunca pode estar. Peça perdão, mas se seu irmão não aceitar, não pressuponha que o perdão não lhe tenha sido dado. Na verdade, o perdão é sempre você quem dá. Aqueles que se recusam a perdoar apenas se recusam a perdoar a si mesmos.” (p. 29)

– Todos nós já lemos inúmeros livros que falam do perdão, mas agora você entendeu, não entendeu?

“A liberdade do seu irmão é um símbolo da sua própria. (…)

Ajude-o quando puder e receba a ajuda dele com gratidão quando precisar dela. Essa troca simples e digna é um gesto de amor e aceitação. Ela demonstra confiança e respeito mútuo.

Mais do que isso já é demais. Menos que isso é muito pouco.” (p. 30)

– Isso é quase o ideal da cortesia britânica. Não se envolva a ponto de parecer que não tem domínio sobre quem é, não fique indiferente a ponto de se esquecer quem você é.

“A tentativa de encontrar amor fora de si mesmo vai sempre falhar, porque você nunca recebe de outra pessoa aquilo que ainda não deu a si mesmo.” (p. 52)

– Pow! Pow! Pow!

“Não tente amar os outros antes de aprender a amar a si mesmo. Você não vai conseguir.

Se alguém entra na sua vida e não o agrada, não tente amar essa pessoa. Simplesmente evite criticá-la. Não a acuse, não a culpe nem a veja como um inimigo. Simplesmente admita e reconheça que ela não o agrada e se afaste por algum tempo.” (p. 59)

– Ditos populares perdem força, mas vale a pena lembrar: os incomodados que se mudem.

“Entretanto, você não vai conseguir eliminar os pensamentos negativos apenas se concentrando nos positivos. Na verdade, quanto mais atenção der aos pensamentos positivos, mais poder dará aos pensamentos negativos. Você não pode escapar desse paradoxo.

Por isso, você pode esquecer as afirmações positivas. Elas são apenas um artifício ilusório. Pare de tentar mudar seus pensamentos negativos. Basta que se conscientize deles. Tenha consciência das emoções ligadas a eles e deixe que a sua consciência o conduza.” (p. 64)

– Ouvi alguém aí sussurrar PNL?!

“O ritual da confissão, assim como a maioria dos rituais, perdeu seu verdadeiro significado. A confissão não tem nada a ver com a absolvição por parte de outra pessoa. Ela tem tudo a ver com o ato de rejeitar a densidade do engano e de trazer o medo e a culpa à luz da consciência. Aquele que ouve a confissão não é um juiz, mas uma testemunha.” (p. 68-69)

– Treinamentos comportamentais usam a técnica da “confissão”: você escreve seus propósitos e os entrega a alguém. Só pelo fato de alguém ter testemunhado, tem mais chance de você seguir seus propósitos. A gente sempre fala, pro outro, aquilo que, no fundo, quer falar pra nós mesmos.

“O pensamento de escassez resulta da crença de que você não é digno de amor.” (p. 81)

– Disso decorre que: não importa que situações de infância construíram essa crença; entenda que hoje você é uma pessoa adulta e que, sim, merece todo o amor do mundo.

“A abundância passa a fazer parte da sua vida não porque você tenha aprendido a memorizar algumas baboseiras decoradas, e sim, porque você aprendeu a levar amor aos aspectos feridos da sua psique.” (p. 84)

– Cara, como isso é sério.

“Vocês estão aqui para superar a crença enraizada de que algumas pessoas têm mais valor do que outras.” (p. 102)

– Eita nóis, então lascou-se!

“Vocês estão aqui para finalmente superar o vitimismo.” (p. 107)

– Começou a melhorar; é, ficou mais fácil.

“Somente aquele que se opõe a você pode ser um professor eficaz.” (p. 113)

– Ixi, voltou a ficar dificil.

 

 

Impermanência

“O apego ao hábito de dizer ou de fazer algo sempre da mesma maneira confina você no tempo.” (p. 38)

– Isso me lembrou demais o argumento do filme Total Recall (1990), com  Sharon Stone e Schwarzenegger, em que ele compra uma experiência neuronal convencido pelo vendedor de que, mesmo quando se sai de férias, a única coisa que não muda é você, sua mente, seus pensamentos. Sim, apenas com um total recall pra não nos confinarmos no tempo.

“Por favor, entenda isto: estar errado não significa ser ‘mau’ e estar certo não significa ser ‘bom’. Cada um de vocês vai estar tanto certo quanto errado centenas de vezes num único dia. Serão incontáveis as vezes em que vão estar certos ou errados no decorrer da sua jornada neste planeta.” (p. 46)

– Sensacional, concordo 100%. É o que vivo repetindo: pessoas são muito melhores do que as ideias que expressam.

“Há ocasiões em que a realidade externa simplesmente se fecha à sua volta e o único lugar apropriado para você ir é para dentro de si mesmo.” (p. 49)

– Nos yogasanas, por vezes, temos que fechar os olhos para que sejamos estimulados a olhar pra dentro.

“Para estar presente, você não pode ter planos em relação a si mesmo. Se tem expectativas com relação a si mesmo, à outra pessoa ou à situação em geral, você não consegue ficar totalmente atento àquele momento.” (p. 57)

– Anos lendo sobre o que é estar presente, dezenas de páginas de Tolle depois, e vem o Ferrini e explica isso muito singelamente. Catipimba, entendi!

“Você não conhece o significado de nada do que acontece, porque a tudo você impõe o seu próprio significado.

Se quer conhecer o significado do que acontece na sua vida, pare de dar a sua própria interpretação. Deixe que a situação se defina. Sinta-a por inteiro. Deixe que a situação lhe mostre a razão por que surgiu na sua vida.” (p. 61)

– Ok. É pra eu cancelar as sessões com meu psicólogo?

“Mesmo quando as árvores são arrancadas de suas raízes e arrastadas rio abaixo, não há nisso nenhuma tragédia, pois não existe diferença entre a árvore e o rio.” (p. 91)

– Já comentei em alguma outra resenha que um dia li assim: na Natureza, não existe milagre, porque tudo que ocorre nela é natural. Vai pro mesmo caminho a citação acima, não vai não?

“Não estou pedindo para você desistir de todos os seus apegos. Esse, meu irmão, não é um objetivo realista.” (p. 92)

– Adoro autores lúcidos. Aliás, mudando da filosofia espiritual pra política, por que você não lê a resenha de Por que Virei à Direita? Três pensadores brasileiros mostram por que abandonaram a esquerda em prol da lucidez e da realidade. Muito interessante.

“Sugiro que você aproveite a simples graça de estar vivo. Se você está procurando um significado maior na sua vida, vai ficar muito desapontado. Pois não existe nenhum significado além da dança.” (p. 93)

– Huahuahuah! E depois dizem que auto-ajuda é literatura fácil que passa a mão na cabeça do leitor. Vai catar coquinho, ô crítico-que-critica-mas-nunca-leu-autoajuda. Bem, depois dessa, você pode desligar o micro e ir dormir. No yoga, chamamos essa dança de Shiva Leela: aquela velha história de que somos joguinho nas mãos de Deus, saca.

“Este mundo é o lugar onde nasce o corpo emocional e mental. O nascimento e a morte físicos simplesmente facilitam o desenvolvimento da consciência do pensar/sentir, que é responsável pelas suas próprias criações.” (p. 93)

– Shiva Leela de novo. Pense que estamos numa plataforma de Role Playing: o personagem precisa evoluir pro jogo continuar.

 

revisto por Mayra Corrêa e Castro (C) 2014

(Se compartilhar, por favor, cite a fonte. É algo simpático e eu fico agradecida.)

FERRINI, Paul. Amor incondicional, reflexões da mente de Cristo. Tradução Maria Lucia Castro de Souza. São Paulo: Editora Pensamento, 2012, 3ª edição.

(O livro em português aparece como esgotado, mas você possivelmente conseguirá uma cópia na Mahatma Livraria, que entrega em todo o Brasil.)

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