Casa Máy > Diário em Off - Posts > crônicas > Melhores Partes 5 – Árvores
Na pequena oração que recito quando me deito e quanto me levanto, agradeço às árvores deste planeta. Não sei precisar quando exatamente isso começou, mas me lembro, numa viagem de carro a São Paulo, parada na Serra do Cafezal na Régis Bittencourt, de não olhar mais as árvores como paisagem, mas como os seres que nos criaram.
Recentemente, em meu Facebook, fiz esta postagem:
A foto, tirei dentro da Universidade Positivo, campus CIC, em Curitiba/PR. Trata-se de uma uruvalheira, Platypodium elegans. Na legenda, está escrito: “Meu remanso, toda minha religião, os retorcidos de uma árvore.” Mas não escrevi livro nenhum pra colocar uma citação toda minha na seleção que faço abaixo. As que seguem, entretanto, são de pessoas que as amam tanto quanto eu, e que têm sensibilidade pra admirar estes seres incríveis.
Começo com uma citação do escritor japonês e Prêmio Nobel de literatura em 1968 Yasunari Kawabata:
“Kikuji levantou-se e seguiu para a sala de estar, passando pelo corredor. Havia uma grande árvore de romã no quintal. Parou por uns instantes diante dela, tentando se acalmar.” (Mais aqui.)
Dois comentários posso fazer sobre esta citação. A primeira, nostálgica e triste, é a constatação de que não temos mais quintais, quanto menos árvores frutíferas plantadas neles. A segunda é que, sim, parar em frente de árvores é terapêutico; abraçá-las é uma cura.
Talvez por isso o engenheiro florestal Peter Wohlleben diga:
“Apenas quem conhece as árvores é capaz de protegê-las.” (Mais aqui.)
A questão é entender por que as cortamos, por que as vemos apenas de um ponto de vista utilitário em vez de um ponto de vista de parentesco. Veja o que diz a jornalista Elizabeth Kolbert, ganhadora do prêmio Pulitzer:
“Uma das muitas consequências indesejadas do Antropoceno tem sido a poda de nossa própria árvore genealógica. Após eliminarmos nossas espécies-irmãs – os homens de Neanderthal e os hominídeos de Denisova – há muitas gerações, agora estamos fazendo o mesmo com nossos primos de primeiro e segundo graus. Quando tivermos acabado, é bem possível que não haja mais nenhum representante dos primatas além de nós mesmos.” (Mais aqui.)
Embora ela não fale exatamente da extinção de plantas, mas sim de outros tipos de animais, acho incrível que a metáfora de árvore genealógica exclua as próprias árvores. E considerando que este é um dos livros mais contundentes em relação às consequências das mudanças climáticas e da globalização, mesmo nele, não estamos acostumados a olhar pra vegetação com o mesmo sentimento de família com que olhamos praquilo que se mexe.
Mas prefiro terminar esta crônica com uma mensagem mais positiva. Afinal, sabemos que o planeta e as árvores resistirão.
“Mesmo quando as árvores são arrancadas de suas raízes e arrastadas rio abaixo, não há nisso nenhuma tragédia, pois não existe diferença entre a árvore e o rio.” (Mais aqui.)
Tragédia somos nós, pois sempre nos enxergamos separados das árvores e dos rios.
Assista ao vídeo do Melhores Partes 5 – Árvores:
Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2020
(Se compartilhar ou citar, mencione a fonte. É simpático e eu agradeço.)