Casa Máy > As Melhores Partes - Posts > autoconhecimento > O eu integrado – Nair Ribas D´Ávila
Talvez você não tenha sido introduzido à biografia enquanto estudo antroposófico. Talvez sequer tenha sido introduzido à Antroposofia ou, como ela também é chamada, “ciência espiritual antroposófica”, por mais que pareça estranho juntar em um mesmo nome “ciência” e “espiritual”. Bom, Aconselhamento Biográfico é uma das formações que institutos de antroposofia oferecem ao redor do mundo e ela emerge como uma atividade profissional voltada para o autoconhecimento a partir da compreensão das próprias memórias e experiências vividas à luz dos setênios em que é dividida e explicada a vida humana.
O Aconselhamento Biográfico não é um trabalho original de Rudolf Steiner, mas claro que se baseia em sua obra. A metodologia chegou ao Brasil nos anos 1980 e requer um processo formativo longo (e caro) de 4 anos até que o aluno ganhe um certificado reconhecido internacionalmente. Hoje, são três as escolas que ministram esta formação. A autora deste livro, Nair D´Ávila, fez sua formação na escola sediada em Juiz de Fora/MG e, atuando também como terapeuta transpessoal e floral, transpôs seus anos de experiência em uma abordagem em que o trabalho rumo a um Eu integrado passa por 7 passos rumo à congruência entre o pensar, o sentir e o querer.
Contos, meditações guiadas, técnicas de respiração, trabalhos com artes visuais e música fazem das ferramentas desta abordagem de Nair, bem como as essências florais de Bach. A autora também chama esta abordagem de Terapia para o despertar do eu. É um livro cujo conteúdo abordo na formação profissional de aromaterapeutas da Casa Máy, quando falamos sobre psicoaromaterapia. Recomendo demais a leitura.
Seguem algumas melhores partes comentadas.
SONHO ACORDADO
“De acordo com esta filosofia [xamanismo], é possível afirmar que nós sonhamos 24 horas por dia, dormindo ou acordados. Quando dormindo, sonhamos os nossos sonhos, e quando acordados, sonhamos os sonhos do Planeta, que são as regras da sociedade: crenças, leis, religiões, costumes etc..” (p. 55)
– Alguém aqui pensou no UCEM?
A PSICOTERAPIA
“A alma é o campo de atuação de nosso trabalho terapêutico; por isso nós precisamos ousar, adentrar um pouco o modo como esse corpo anímico, tão sutil, pensa, sente e quer.” (p. 57)
– Vale a pena ler a resenha que fiz do livro de Karl König, A Alma Humana. O livro destrincha bem o que e a alma e suas qualidades segundo a antroposofia.
“O terapeuta precisa detectar junto ao cliente até onde ele quer e consegue ir. Às vezes, dependendo do nível de consciência e resistência, a pessoa não consegue perceber para onde o terapeuta quer caminhar com ela. Então é hora de parar, para respeitar essa individualidade.” (p. 63)
– Provavelmente, saber quando parar é uma habilidade subestimada na formação de profissionais holísticos. Tenho a impressão que se dedica muito pouco tempo às limitações nas formações.
“Continuando com as comparações, a motivação pertence ao passado – um motivo para a ação. O motivo para agir, a pessoa a busca no passado, em sua história de vida; a intenção, a meta, aonde quer chegar, é o futuro. Esses dois tempos, passado e futuro, pertencem ao cliente. O presente é o processo que irá acontecer entre cliente e terapeuta; é onde se dá a consciência.” (p. 72)
– Gosto de pensar na ideia de que o presente é um processo…
“Na alma ternária, o sentir é o elo entre o querer e o pensar. Esse sentir é o fofo principal de nossa atenção. É aí que a Terapia para o despertar do eu acontece.“ (p. 76)
– Sentir, querer e pensar são as qualidades da alma na antroposofia.
“O sentir é caracterizado pelo belo. A pessoa precisa orgulhar-se de seus sentimentos para considerar-se em harmonia, para ficar satisfeita ao olhar para si mesma.” (p. 90)
“Na pessoa sadia, o querer não pode estar desvinculado do pensar e do sentir.”(p.102)
– É tão simples quanto isso.
” – A cura do sentir está na Beleza.
– A cura do pensar está na Verdade.
– A cura do agir está na Bondade.” (p. 153)
– É uma ética objetiva: guie-se pelo que é belo, bom e verdadeiro.
“No caso do ser humano, existem tratamentos que aliviam a dor anímica, como ansiolíticos ou outros, mas que não trazem crescimento, pois não trazem a consciência do processo. Fique claro que nada temos contra tratamentos para aliviar o sofrimento; aqui, porém, falamos de outra coisa: de consciência.” (p. 171)
– Consciência, neste caso, conforme diz a autora, seria integrar as três qualidades da alma: pensar, sentir e agir.
O VERBO
“Nomear faz com que nos afastemos para observar; e quando nos afastamos, tomamos uma distância saudável, que permite perceber as sensações e emoções de fora. Já não somos mais a emoção; temos uma emoção. E se conseguimos nomeá-la, então nos apropriamos dela e podemos decidir o que fazer com isso.” (p. 85)
– Alguém aqui se lembrou do que Dumbledore fala sobre as palavras serem a mais potente forma de magia?
“Poucas pessoas sabem nomear o que sentem, pois esse é um tema de consciência, o que ainda não é comum ao ser humano. Este é o trabalho terapêutico para despertar o eu.
“Quando a pessoa começa a dar nomes aos sentimentos, começa a trazer luz à consciência. Viver na sombra é não dar nome aos sentimentos.” (p. 100)
– Joel Birman, conhecido psiquiatra e psicanalista brasileiro, em uma palestra sobre o mal-estar na pós-modernidade, comentou como a pobreza semântica atual é geradora de sofrimento.
PARA PARACHOQUES DE CAMINHÕES
“A pessoa livres da autoimportância não tem medo do ridículo.” (p. 94)
– Quando li esta frase, estava lamentando as dancinhas à la Tik Tok em postagens na conta do Instagram da Câmara Municipal de Curitiba. Acho que instituições não podem se livrar da consciência de sua importância, certo?
“Vitalidade e consciência são polos opostos.” (p. 109)
– Ou a gente gasta as energias pra ser fortão ou gasta as energias pra ser sábio. Por isso que não existe jovem sábio, nem velho forte.
Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2021
D´AVILA, NAIR RIBAS. O eu integrado: uma abordagem terapêutica da biografia humana. São Paulo: Ad Verbum Editorial, 2017, 2ª. ed. rev e ampl.