Casa Máy > As Melhores Partes - Posts > autoras > O Cérebro no Mundo Digital – Maryanne Wolf
Maryanne Wolf responde à pergunta que nos inquieta: estamos ficando todos burros com tanto uso de celular? Desaprendemos a ler? Desaprendemos a interpretar um texto? Burros, não; mas que estamos perdendo uma capacidade importante ao preferir ler textos curtos e em dispositivos eletrônicos, sim. Com o subtítulo “Os desafios da leitura na nossa era”, este livro traz dados da ciência e de quem tem uma vida dedicada ao estudo do letramento e suas disfunções pra mostrar que o cérebro humano precisa ler livros – de papel, de preferência – pra construir o tipo de raciocínio que criou nosso mundo. O óbvio – não nascemos sabendo ler, mas aprendemos a fazer isso (em contraste com “nascemos sabendo falar um língua e aprenderemos qualquer uma como língua-mãe”) – tem implicações nada óbvias, desde gerar incapacidade de fazer correlações até, no extremo, risco à democracia.
O livro tem tradução do linguista Rodolfo Ilari, professor de linguística da Unicamp/SP, com quem tive oportunidade de estudar na faculdade (Mayumi Ilari também assina a tradução). Isso é um aval à leitura do livro, pelo fato do jargão linguístico ter sido bem traduzido. É também um aval à qualidade da obra, já que Ilari e a Unicamp, através do IEL – Instituto de Estudos da Linguagem, são pioneiros na área e referências do assunto no país.
Maryanne Wolf escolheu uma forma diferente pra escrever sobre letramento, que é um assunto árido: optou por se dirigir ao leitor em tom intimista, contando as próprias experiências de leitura quando mais jovem e em formato de missivas. Não tenho certeza se foi uma escolha acertada. A quantidade de referências literárias, que são de grandes clássicos, porém clássicos da língua inglesa que dificilmente fazem parte da bagagem cultural de um brasileiro, atrapalha um pouco, faz-nos perder o fio da meada, sobretudo se você quiser ler as notas de rodapé que os tradutores acrescentaram pra contextualizar as citações. Ponto positivo, o livro não peca por verborragias estatísticas, algo bem comum quando um cientista escreve. A autora primeiramente nos situa no universo de um cérebro que sabe ler e depois nos oferece o prenúncio de cérebros que, nativos digitais (Marc Prensky), “talvez” estejam perdendo algumas habilidades de leitura, sendo que “talvez” estejam adquirindo outras.
Algo fácil de compreender do que estaríamos perdendo é a memória de informações. Como as informações estão no Google, elas não precisam mais estar em nossas cabeças. O problema disso é que diminuímos nosso “repositório de sentidos”, algo crucial pra criatividade. Não é um problema novo. A autora aponta que os gregos antigos já ficavam chocados com o fato de que sua juventude não decorava as lições porque preferia as ler em um livro. Então, é preciso relativizar se nosso repositório de sentidos efetivamente está ou não diminuindo. Poderíamos pensar que o construímos através da visão (vídeos e vídeos na internet); Maryanne, porém, explica que ver não constrói um repositório de sentidos como ler. Ouvir – que era a forma como os alunos de Platão, Aristóteles e Sócrates faziam – , ouvir deve ajudar a construir, já que ouvir abre espaço pra que as imagens se formem dentro do cérebro, em vez de que sejam recebidas de fora dele. Quem sabe o crescimento de podcasts não esteja sendo uma reação instintiva dos tempos atuais pra que nosso cérebro continue criando um repositório de sentidos através da palavra?
Anyway, o recado mais importante de tudo é: leia livros, de papel de preferência (ela também fala sobre escrever à mão no letramento). E não ofereça telas a uma criança até que ela entre na creche. Até lá, coloque-a ao seu lado e leia pra ela. Não se trata de ir contra a revolução digital: trata-se de preparar as crianças pra que consigam ler bem e em profundidade em qualquer tipo de mídia, tornando-se, assim, “comutadores de código experientes e flexíveis”. Abaixo seguem as melhores partes comentadas. Leia, mas se puder comprar e o ler todinho, melhor, né? 😉
Ler bem
“Nestas páginas, os sentidos das palavras ´bom leitor´têm pouco a ver com o grau de eficiência com que as pessoas decodificam palavras; têm tudo a ver com ser fiel àquilo que Proust já descreveu como o cerne do ato de ler, ou seja, ir além da sabedoria do autor, para que cada um descubra a sua própria.” (p. 21)
– Isso é bem romântico, mas não uso a palavra com escárnio nem cinismo. Quero dizer que é romântico porque por certo o ideal de leitor é aquele que consegue alcançar esta proficiência e que certamente achamos que todos são capazes de alcançá-lo, tanto quanto têm o direito de fazê-lo. O romantismo fica por conta de achar que está apenas na leitura esta proficiência. Penso que não esteja. Penso que “descobrir a própria sabedoria” depende de leitura, depende de repertório, mas também depende de algo que só vem com a idade. Sempre considerei que amadurecemos mais rápido lendo livros, porque adquirimos muitas vidas lendo sobre a vida dos outros. Então, ler encurta etapas. O que Proust descreveu é que gostaria de dar os meios a seus leitores pra que lessem o que há no fundo deles. Perfeito. Mas pra que isso ocorra, é preciso que haja coisas no fundo. E coisa no fundo vem mesmo é com quilômetros rodados.
“O que se pode afirmar, neste momento, é que, na pesquisa liderada por Mangeon, o sequenciamento da informação e a lembrança dos detalhes mudam para pior quando os sujeitos leem na tela.” (p. 960)
– Tenho 2 Kindles, um em que a tela ainda não é touch e a última versão do modelo Oasis. Também tenho o app Kindle instalado no meu iPad, no celular e no notebook. E acho um lixo ler no Kindle. Meu marido, que é um adepto inveterado da leitura em telas, não entende como eu possa gostar mais de ler livros de papel, sendo que pra mim a razão é incrivelmente clara: num Kindle, eu nunca sei em que parte da leitura estou; no papel, sempre sei, porque cada ponto de um livro está determinado numa “grossura de páginas”. Esta questão visual é importante e as pesquisas deste cientista, citadas por Maryanne, revelam justamente isso. A informação que você leu está no começo do livro, quando ele ainda está “grosso” de páginas, ou no final, quando ele já está “fininho”? Na parte de cima ou debaixo da página, na direita ou na esquerda? A única razão de eu ler no Kindle são os livros estrangeiros e o fato de que espaço pra armazenar livros custa caro. Sempre doei muitos livros, desde adolescente. Já doei minha biblioteca de moda e de linguística, de astrologia, de yoga, de alimentação vegetariana, de marketing. Já doei centenas de livros de ficção (a Freguesia do Livro de Curitiba é perfeita pra isso). Mas quando, em minha última mudança, precisei doar 15 caixas de livros porque não haveria espaço em meu escritório, confesso que doeu, pois tive que me desfazer de muita coisa que amava ter por perto. Livro custa espaço e esta é a única razão pela qual leio ebooks. Mas odeio ebook.
” A leitura profunda sempre tem a ver com conexão: conectar aquilo que sabemos com aquilo que lemos, aquilo que lemos com aquilo que sentimos, aquilo que sentimos com aquilo que pensamos, e o modo como pensamos com o modo como vivemos nossas vidas, num mundo conectado.” (p. 188)
– E tem gente que ainda acha que ler é atividade sedentária! Hehehe (brinks)
Concordamos que discordamos
“Você não vai concordar comigo o tempo todo, e é assim que teria que ser. Como São Tomás de Aquino, eu encaro a discordância como o lugar em que ´ferro afia ferro´. Esse é o objetivo primordial de minhas cartas: que elas se tornem um lugar em que minhas melhores ideias e as do leitor possam encontrar-se, às vezes em choque, afiando-se reciprocamente no processo.” (p. 23)
– Eu adoro discutir, debater com pessoas que pensam bem diferents de mim. 2018, então, foi uma experiência excitante, porque eu fiquei no meio do fogo cruzado dos petistas e dos não-petistas. Entretanto, tudo que excita, desgasta, e fiquei terrivelmente cansada e chateada por ter tomado porrada de ambos os lados, embora eu tenha aprendido mais sobre mim mesma. A virtude básica do debate é a curiosidade. As pessoas dizem que é o respeito. Respeito é pressuposto pra relação humana, seja num debate, seja num encontro. A curiosidade é que eu penso que leva as ideias pra frente. Curiosidade é como aquela pílula do filme Matrix: e se tudo o que você conhece estiver errado, não teria pelo menos curiosidade de conhecer o outro lado? Eu sempre tenho.
O que talvez estejamos perdendo
“O ato de assumir a perspectiva e os sentimentos de outros é uma das contribuições mais profundas e insuficientemente anunciadas dos processo de leitura profunda.” (p. 57)
– Certamente você já cruzou com postagens assim na sua timeline: “Leitores de Harry Potter conseguem expressar melhor seus sentimentos, diz a pesquisa XYZ.”
“[…] o ato de ler é um lugar especial em que os seres humanos são libertados de si mesmos para se transportarem a outros e, assim, aprender o que significa ser outra pessoa com aspirações, dúvidas e emoções que nunca teriam conhecido de outro modo.” (p. 58)
– Viu?
“Muitas coisas serão perdidas se abrirmos mão, aos poucos, da paciência cognitiva de mergulhar nos mundos criados pelos livros e pelas vidas e sentimentos dos amigos [personagens e autores dos livros] que os habitam.” (p. 61)
– Simplesmente adoro a expressão “paciência cognitiva”. Acho que ela está no mesmo patamar de adoração que “honestidade intelectual”, que ouvi pela primeira vez numa entrevista do crítico Wilson Martins.
“A questão central não é sua [dos jovens adultos] inteligência nem, certamente, a pouca familiaridade com diferentes estilos de escrita. Mais que isso, eles podem regredir para uma falta de paciência cognitiva diante do pensamento crítico e analítico exigente e para uma incapacidade concomitante de adquirir a persistência cognitiva, aquilo que a psicóloga Angela Duckwirth celebrizou pelo nome de garra alimentada precisamente pelos gêneros que estão sendo evitados.” (p. 111)
– A lição mais profunda que recebi na faculdade foi na aula inaugural, quando o professor Sírio Possenti, através do erro ortográfico “sé-quis-so” (se-xo), mostrou como ele revelava, na verdade, compreensão ótima de gramática. Naquele momento eu introjetava o conceito de “norma culta” que, 25 anos mais tarde, se tornaria assunto banal no ENEM. Em retrospectiva, não parece mais tão empolgante que tenhamos aprendido a valorizar registros linguísticos dos extratos sociais mais populares. Na época, parecia muito revolucionário, muito progressista, muito certo. Hoje constato que não percebíamos que também estávamos perdendo o aprendizado de registros mais densos (associados às elites econômicas), como do romance novecentista, de cartas oitocentistas, de ensaios filosóficos do século XX. Ter lido Machado de Assis, Zola, Padre Vieira, Fernando Pessoa, João Cabral, Freud dos 14 aos 16 anos e estudar um tuíte aos 22 é um ganho; mas chegar aos 22 apenas estudando um tuíte me parece (de modo bem conservador, admito) uma perda… O que você acha?
“[…] me pergunto se o conteúdo do que estamos lendo em nosso contexto nos proporciona conhecimento de fundo suficiente para as necessidades específicas da vida no século XXI, e também para a formação do circuito de leitura profunda.” (p. 69)
– “Conhecimento de fundo”, guarde também esta outra elucidativa expressão.
“[…] estamos fragmentando demais nossa atenção para que nossa memória de trabalho possa funcionar de maneira otimizada; e, em segundo lugar, porque assumimos que, num mundo digital, não precisamos mais lembrar do modo como lembrávamos no passado. A versão atual da preocupação de Sócrates é que nossa confiança aumentada em formas externas de memória, combinada com os bombardeios fragmentadores de atenção recebidos de múltiplas fontes de informação, está mudando ao mesmo tempo a qualidade e as capacidades de nossa memória de trabalho em em última instância, sua consolidação na memória de longo prazo. E, de fato, existem estimativas sombrias indicando que o tempo médio de memória de muitos alunos diminuiu em mais de 50% na última década.” (p. 99)
– Meu amor, sem memória de trabalho, nem adianta cheirar alecrim. Em outra passagem, Maryanne usa a expressão “mordiscar palavras” pra explicar como se lê hoje em dia nos dispositivos eletrônicos. Não é que tenhamos feito um curso de leitura dinâmica: desenvolvemos um método de leitura falha mesmo, uma “leitura espasmódica”.
Vertigem?
“A relação entre o que lemos e o que sabemos será fundamentalmente alterada por uma confiança prematura e excessiva em relação ao conhecimento externo.” (p. 69)
– Sem “repositórios de sentidos”, sem “paciência cognitiva”, sem “conhecimento de fundo”, apenas “mordiscando palavras” e fazendo “leituras espasmódicas” fica fácil entender por que as pessoas caem em fake news.
“[…] aqueles que leram amplamente e bem terão muitos recursos para aplicar àquilo que leem; aqueles que não o fizeram terão menos coisas para aplicar, o que, por sua vez, lhes dá uma base menor para inferência, dedução e pensamento analógico, tornando-os vítimas potenciais de informações não confirmadas, sejam elas falsas ou invencionices completas. Nossos jovens não saberão o que é que não sabem.” (p. 70)
– Sim, eu sei, parece estranho dizer que alguém seja capaz de saber o que não sabe. Releia assim: não serão capazes de saber o que precisam saber.
“[Maggie Jackson] defende que por recebermos tanto input, já não gastamos o tempo necessário para pôr à prova, fazer analogias e armazenar a informação recém-chegada, com consequências para o que sabemos e como estabelecemos inferências.” (p. 141)
– Fiquei aqui pensando que este excesso de input não é apenas com a gente, mas como todo mundo, inclusive jornalistas, em quem sempre confiamos (pelo menos eu confio) pra separar o joio do trigo. Mesmo o jornalismo padece deste mal, o mal do excesso de input – ou você acha que não? Já cansei de assistir o Globo News em Pauta “flagrando” os apresentadores lendo o celular quando a edição foca rapidamente neles na volta do intervalo. Sempre penso: cacete, não dá pra largar o celular pelo menos na hora de apresentar o programa? Imagine que um deles esteja recebendo uma notícia, um input de última hora. No afã de retransmiti-lo, você tem certeza da qualidade da retransmissão, de que este novo input já não impacta ali mesmo a informação que estamos recebendo? Por tudo isso, continuo preferindo ler um bom e velho jornal. Notícia fresca é notícia com input demais; bom é notícia requentada.
” Estamos pondo em risco o desenvolvimento intelectual de nossos jovens quando os ensinamos a confiar demais, muito cedo, muito rapidamente, nas fontes externas de conhecimento.” (p. 143)
– No último ano, quero confessar, perdi realmente a paciência pra ensinar, algo que julgava ser improvável. Fiquei, realmente, sacuda de dar aulas. Isso me deixou tão preocupada (afinal, é meu ganha-pão), que pela primeira vez em uns 5 anos resolvi tirar janeiro inteiro de férias, sem ver aluno, nem interagir com aluno, pra ver se consigo entender o que houve. Concluí o livro de Maryanne em julho, volto nele agora, 6 meses depois. Relendo este parágrafo, penso que a origem de minha irritação e impaciência tem tudo a ver com o fato de precisar ser o Google dos meus alunos. Antes, eu era a pessoa mais nova numa sala de aula, e meus alunos eram todos mais velhos que eu. Agora, com 46 anos, eu costumo ser a mais velha. Eu não lidava tanto com alunos que não sabem estudar, que não sabem pesquisar, que não sabem persistir pra aprender, que não têm, nas palavras deste livro, “estoques profundos de conhecimento internalizado”. Hoje, eles são a maioria em minhas aulas. É extremamente cansativo ensinar a pessoas que não têm estes drives instalados. Ainda não sei como lidar com isso. Talvez eu descubra, mas gostaria de fazer um apelo dramático pra que as pessoas diminuam drasticamente seu consumo de internet e comecem a ler livros. O Google jamais será um professor bom; e os professores jamais poderão ser um Google, nem mesmo um Google medíocre. Alunos têm que ser alunos e, pra isso, precisam ler, ler, ler, ler. Eu nunca poderei substituir as leituras que um aluno não fez. Isso é impossível. Nem eu nem professor nenhum.
“Conforme descrito antes, precisamos encarar o fato de que, ao sermos bombardeados por demasiadas opções, nossa tendência pode ser confiar em informações que exigem pouco do pensamento.” (p. 231)
– Se ainda não conhece o livro Rápido Devagar do prêmio nobel Daniel Kahneman, que vai fundo na questão do “pouco pensamento”, leia a resenha do livro aqui.
“No primeiro quartel de nosso século, misturamos diariamente informação com conhecimento, e conhecimento com sabedoria – tendo como resultado a diminuição dos três.” (p. 226)
– E que fique claro: não se constrói sabedoria sem conhecimento; não se constrói conhecimento sem informação. A questão não é não consumir informação, mas fazê-la transformar em conhecimento que, com o tempo e muito boa sorte, se transformará em sabedoria.
Cérebro de criança é coisa séria
“O córtex pré-frontal e todo o sistema executivo central subjacente [das crianças] ainda não aprenderam as ´recompensas pelo esforço e atenção continuados´, e menos ainda o planejamento e a inibição que permitiriam à criança ´evitar o esforço rápido´. Em outras palavras, alternar seguidamente entre diferentes fontes de atenção faz com que o cérebro da criança interprete aquilo que para o adulto é uma perfeita tempestade biológico-cultural como uma chuva suave. Dispondo de uma desenvolvimento pré-frontal insuficiente, as crianças estão completamente à mercê de distrações sucessivas e pulam rapidamente de um estímulo novo cintilante´a outro.
“Levitin afirma que as crianças podem acostumar-se tão cronicamente com um fluxo contínuo de itens em competição por sua atenção, que seus cérebros ficam, para todos os efeitos, encharcados em hormônios como o cortisol e a adrenalina, os hormônios mais comumente associados à luta, à fuga e ao estresse. Crianças com apenas 3 ou 4 anos, às vezes até mesmo de 2 ou menos – e num primeiro momento recebem passivamente e depois, cada vez mais, passam a exigir ativamente e com regularidade os níveis de estimulação das crianças maiores. Segundo Levitin, quando imersos nesse nível constante de estimulação sensorial nova, as crianças e os jovens são projetados num estado de hiperatenção contínua. Diz também que ´A multitarefa cria uma círculo de feedback de dependência de dopamina, que recompensa eficazmente o cérebro por perder o foco e por buscar estimulação externa constantemente´.” (p. 129-130)
– A única razão de eu ter digitado um trecho tão grande assim do livro foi porque crianças já estão viciadas (vi-ci-a-das) em telas; mas nós, adultos, graças à neuroplasticidade, também estamos. E ficam é horrorizadas com a liberação da cannabis de uso medicinal… Ô falta de perspectiva, meu pai…
“Alguns, como o psiquiatra Edward Hallowell, chegam a sugerir que estamos criando jovens com quadro de déficit de atenção ambientalmente induzido pelo controle incessante e obsessivo das distrações digitais sobre a criança.” (p. 132)
– Ainda que com Foucault possamos dizer que o diagnóstico de TDAH é alto onde os médicos acreditam que TDAH seja de fato uma doença, se precisássemos de uma explicação desse tipo de diagnóstico ter crescido, aí está uma.
“O quarto ano é uma espécie de Linha Maginot entre aprender a ler e aprender a usar a leitura para aprender.” (p. 177)
– Oxalá tenhamos cada vez mais políticos que entendam isso.
Festina lente
” Durante estes últimos momentos juntos, portanto, peço que você experimente aquilo que Calvino descreveu como um ´ritmo do tempo que passa com o único objetivo de deixar que os sentimentos e os pensamentos assentem, amadureçam e abandonem toda impaciência ou contingência efêmera´. Ele usou a expressão festina lente, que se traduz ´apresse-se devagar´, para sublinhar a necessidade do escritor de retardar o tempo. Uso essa expressão aqui para ajudar você, leitor […].
“Eu quero que as crianças aprendam a ser capazes dessa paciência cognitiva […]. Dispor de paciência cognitiva é recuperar um ritmo de tempo que permite prestar atenção consciente e intencionalmente. Você lê depressa (festina) até tornar-se consciente (lente) dos pensamentos que cabe compreender, da beleza que cabe apreciar, das questões de cabe lembrar-se e, com sorte, dos insights que cabe revelar.” (p. 226-227)
– Portanto, queridões, como Ítalo Calvino, FESTINA LENTE! Isto, e o ócio criativo (Domenico de Masi).
Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2020
(Se compartilhar, por favor, cite a fonte. É algo simpático e eu fico agradecida.)
WOLF, Maryanne. O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era. Tradução Rodolfo Ilari, Mayumi Ilari. São Paulo: Contexto, 2019.