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Ayn Rand e os Devaneios do Coletivismo – Dennys Garcia Xavier

Postado às 20:00 do dia 21/09/19

É recente, muito recente no Brasil você conversar e debater o liberalismo e não ser acusado de fascista. Ainda há muita confusão sobre o termo liberalismo, que reflete na forma como o seu suposto contrário – fascismo – também é usado. Nada mais distante de um liberal que um fascista. Mas também nada mais distante de um liberal que um comunista. Depois das eleições de 2018, no entanto, algumas constatações começaram a se formar na cabeça das pessoas: tanto quanto a esquerda possui alas democráticas e autoritárias, a direita também possui alas reacionárias e libertárias. O liberalismo, portanto, contempla matizes.

Quando o liberalismo é “liberal na economia e conservador nos costumes”, as pessoas o aproximam da ultradireita, tida como perpetuadora das desigualdades sociais. É de se questionar se este liberalismo de fato é liberalismo. Quando o liberalismo é “liberal na economia e liberal nos costumes”, as pessoas não sabem onde o colocar, se na direita ou na esquerda, porque não foram ensinadas de que o livre-mercado também pode combater racismo, machismo, homofobia, radicalismo religioso, xenofobia. Porém, é justamente nesta posição, na qual as pessoas o enxergam mal ajambrado entre a direita e a esquerda caricatas, que é o lugar de nascença do liberalismo: uma filosofia política que defende a liberdade individual, que inclui a econômica.

Desde a fundação do Instituto Liberal, em 1983, muita água rolou pra que o liberalismo começasse a ser compreendido em nossa terra. Neste blog, data apenas de 2012 a primeira resenha que fiz de um livro que dialoga com a vertente: Por Que Virei à Direita. Com exceção de alguns expoentes do liberalismo brasileiro, que ficaram lá pra trás depois do início da era Lula, não havia o que ler, não havia com quem trocar ideias, não havia quem seguir no You Tube ou no Twitter. Muito diferente está o cenário desde o primeiro mandato da presidente Dilma Roussef, quando começou um esforço pra trazer o liberalismo às suas raízes: Locke, Smith, Mill, Friedman, Hayek, von Mises, Rand – autores agora traduzidos, lidos, discutidos, pesquisados.

O livro Ayn Rand e os Devaneios do Coletivismo vem na esteira deste esforço. O professor Dennys Xavier, da Universidade Federal de Uberlândia, é também coordenador do Projeto Pragmata, que pesquisa como o liberalismo pode oferecer soluções pra educação no Brasil, e assina a organização deste volume da coleção Breves Lições da LVM Editora. Com o propósito de apresentar as principais ideias da autora Ayn Rand, o volume traz textos que tanto explicam, quanto citam esta mulher que foi uma das mais ardentes defensoras do capitalismo laissez faire, da liberdade individual, e também uma romancista incrivelmente bem-sucedida nos Estados Unidos, emplacando em 1943 e em 1957 dois best-sellers na lista do The New York Times: A Nascente e A Revolta de Atlas. Estima-se em 27 milhões os exemplares vendidos de seus livros em mais de 20 línguas pelo mundo.

No entanto, ela pode ser uma ilustre desconhecida a você.

E tudo porque foi uma mulher que, emigrando da Rússia para os Estados Unidos após a Revolução de 1917,  ousou pensar a vida em sociedade não mais pelo dogma do altruísmo e do coletivismo, mas pelo prisma do egoísmo, da realização individual e da razão. Chama-se Objetivismo a filosofia que desenvolveu com todas as suas partes clássicas: metafísica, epistemologia, ética, política e estética. O Objetivismo também é conhecido como “a filosofia pra ser viver na terra”.

A foto utilizada na capa do livro é forte o suficiente pra transmitir não apenas a personalidade de Ayn Rand, como a verve de sua obra. Madura, portanto cabelos curtos sedutoramente à la garçonne, com um cigarro na mão (que a levaria a desenvolver câncer nos pulmões), com um vestido preto onde se vê um broche ou um bordado do símbolo cifrão ($) – a foto é de uma mulher livre, independente, bem-sucedida e realizada: a caricatura do que as políticas identitárias de esquerda valorizam, se não fosse alguém que dedicou sua vida a demonstrar como as filosofias e as políticas coletivistas são um mal à realização do potencial humano e da felicidade. É bastante difícil você querer amar Ayn Rand tanto quanto é difícil você querer odiá-la. Talvez mais ou menos como o liberalismo de verdade: quer-se amá-lo, quer-se odiá-lo.

É que a liberdade pressupõe dois fardos difíceis: o uso da razão, e a sustentação da responsabilidade. Amamos a liberdade – só que detestamos a racionalidade e ter que assumir consequências. Quando penso neste amor/ódio pelo liberalismo, gosto de imaginar pessoas exigindo liberdade como se isso fosse um serviço público prestado pelo governo em troca de impostos e tributos. Liberdade não é assim. Liberdade não é uma transferência, não é uma concessão. Liberdade tem a ver com ônus e decisão individuais: você dar conta de si próprio, sem transferir esta missão a outrem, e entender que, do mesmo jeito que você rejeita interferências em sua vida, deve rejeitar interferir na vida dos demais. A liberdade é uma disciplina mental e emocional – e por isso que o uso da razão em Ayn Rand emerge como o pilar do homem e da mulher livres, que ela chama de ideais.

A leitura deste livro pode servir como uma introdução aos textos da própria autora. Recheado de citações, no entanto, você não deixará de ter contato com algumas de suas célebres frases e pensamentos, como o trecho abaixo:

Os direitos individuais não podem estar sujeitos a uma votação pública; uma maioria não tem o direito de votar e acabar assim com os direitos de uma minoria; a função política dos direitos é precisamente proteger as minorias da opressão das maiorias (e a menor minoria da terra é o indivíduo).” (p. 187)

O Objetivismo de Ayn Rand foi criticado de muitas formas, inclusive de ser utópico, dado que ele pressupõe seres humanos racionais – algo flagrante e cotidianamente desmentido. Não importa. Como um dos colaboradores do livro pontua, o Objetivismo é bom o suficiente pra nos fazer olhar pros problemas de nossas sociedades e questioná-los em seu próprio âmago: as motivações ilusórias, impossíveis ou simplesmente hipócritas que as moldam.

Vou deixar aqui o link pra um podcast em que o coordenador deste livro fala sobre Ayn Rand e o lançamento do volume. Acredito que quando o mesmo foi publicado pela editora LVM, trocaram o título, passando a se chamar Ayn Rand e os Devaneios do Coletivismo, em vez de “Ayn Rand e os Delírios do Altruísmo”, como está dito no podcast. Se puder confirmar que foi isso mesmo, agradeço, pois não identifiquei nenhum livro intitulado assim. Particularmente, prefiro “devaneios do coletivismo”.

Ouça o podcast.

 

Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2019

 

Ayn Rand e os devaneios do coletivismo. Coordenador por Dennys Garcia Xavier. São Paulo: LVM Editora, 2019.

 

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