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Não É Tão Difícil (Cozinhar Vegetariano) – a estreia

Postado às 21:14 do dia 18/01/12

A revista Top View me procurou para uma entrevista sobre como uma família vegetariana se vira nos restaurantes de Curitiba. Falei à repórter Carolina que a gente se vira mal (a reportagem sairá na edição de fevereiro/2012), claro, porque todo mundo que pensa que faz comida para vegetariano na verdade só faz guarnição, nunca o prato principal substancioso.

No dia seguinte à entrevista, fiz um almoço delicioso em casa e pensei: “Ah, não é tão difícil assim atender aos vegetarianos, basta ter boa vontade.” Boa vontade muitos chefs e donos de restaurantes não têm. Canso de ir em restaurante em que a gente pergunta se dá para fazer um molho de tomate sem bacon e o chef responde azedamente que não dá; em que a gente pede para colocar um brócolis na massa para não comer apenas queijo e trigo e o chef diz que não dá; em que a gente pergunta se dá para substituir o mignon do risoto por batatas e o chef diz que não dá. A má vontade dirigida aos vegetarianos impera em Curitiba.

Por isto, talvez, o movimento seja forte e unido na cidade, porque nós sobrevivemos e, mesmo pagando caro para comer macarrão só com tomate, mesmo pagando caro para passar a noite toda só na batata-frita, mesmo pagando caro para tirar o carpaccio ou o frango ou o presunto ou o mignon da salada, nós, vegetarianos, sobrevivemos e temos vida social em Curitiba.

Mas a entrevista acabou me inspirando a editar um blog que se chamaria NaoÉTãoDifícil.wordpress.com Acabei deletando o domínio criado e vou trazer a ideia aqui pro meu Casa Máy mesmo, pra me facilitar a vida. Mostrarei, sempre na TAG  “naoetaodificil” como é simples adaptar pratos para vegetarianos, como é fácil preparar comida vegetariana em casa e, sobretudo, como vegetariano se alimenta bem e não precisa passar – apesar da torcida contra – só com macarrão com queijo nos restaurantes curitibanos.

É minha mais acabada intenção que os chefs e donos de restaurantes tomem conhecimento destes textos para arejarem a cabeça a esta crescente clientela que se chama “vegetariana”.

***

Não É Tão Difícil (Cozinhar Vegetariano) – A Estreia

Em primeiríssimo lugar, criatividade, ô chef. As opções a seguir são a coisa mais chata do mundo de ver num cardápio que supostamente atende vegetarianos. Você e todos os restaurantes de Curitiba têm as mesmas opções. Nada me fará preferir ir ao seu restaurante e não ao de seu concorrente se vocês vendem absolutamente a mesma coisa. Portanto, esforce-se para fazer coisas diferentes de:

(1)

– Sanduíche de mussarela de búfala, tomate-seco e rúcula

– Risoto de mussarela de búfala, tomate-seco e rúcula

– Pizza de mussarella de búfala, tomate-seco e rúcula

DEFEITO DESTAS OPÇÕES: além de serem previsíveis e onipresentes, têm queijo, meu chapa, e há trocentos mil vegetarianos que não comem nada de queijo. Fora que, no sanduíche, fica seco; no risoto, salgado; e na pizza, gosmento. E se os clientes vegetarianos em questão forem crianças, NOT, as opções não as agradarão.

CRIATIVIDADE: quer colocar um queijo, ok, mas lembre que sanduíche fica igualmente cremoso com húmus, com patê de berinjela, com patê de azeitona, e até mesmo com requeijão. Varie o recheio, quem aguenta comer tomate-seco em todo bistrô de Curitiba? Já ouviu falar de tofu defumado? Picles de pepino? E de chicória? Radiche? Tem tanto verde gostoso por aí…


(2)

– Folhado de quatro queijos

– Quiche de quatro queijos

– Nhoque de quatro queijos

– Pizza de quatro queijos

DEFEITO DESTAS OPÇÕES: novamente, caro chef, a gente não come tanto queijo assim! Aliás, muitos de nós não comemos queijo nenhum. E cadê o valor nutricional nestes pratos? Você não se sente mal por estar entopindo as artérias de seus clientes com este tipo de comida?

CRIATIVIDADE: folhado de escarola (e não ponha alho; ponha cominho, curry, noz-moscada, páprica, cúrcuma. Você não estudou quatro anos para temperar escarola apenas com alho, né?), folhado de abobrinha; quiche de PTS (vá lá, te dou esta colher de chá); quiche de brócolis com tofu; quiche de batata-inglesa com alho-poró e tomates frescos; pizza sem queijo, mas com tofupiry – tofupiry, aposto que nunca ouviu falar, hein?


(3)

– macarrão ao sugo

– nhoque ao sugo

– ravióli ao sugo

– talharim ao sugo

DEFEITO DESTAS OPÇÕES: eu como isto em casa, às vezes o miojo é mais saboroso e não tem valor nutricional nenhum nenhum.

CRIATIVIDADE: chef, coloque legumes na massa, mas sem que fique parecendo sopa de legumes com macarrão, tá bem? Vou te dar uma dica: pegue abóbora-moranga, cozinhe e desfie tudo. Refogue com tomates, curry, louro, alho, cebola, azeitonas e cheiro-verde. Até com coentro fica bom! Bata toda esta abóbora no liquidificador e sirva como sendo o molho de tomate. Não é bem mais nutritivo e criativo? Se quiser atender lacto-vegetarianos, acrescente creme de leite à abóbora; se quiser fazer um agrado aos veganos, bata no liquidificador com tofu. Você terá clientes vegetarianos fazendo fila e este público é bem fiel até por falta de opções.


(4)

– Empadinha de palmito

– Pizza de palmito

– Risoles de palmito

– Pastel de palmito

DEFEITOS DESTAS OPÇÕES: sabe alcachofra, aquele vegetal que nem todo mundo gosta? Palmito tá de mãos dadas com ela…

CRIATIVIDADE: chef, nem pense em usar queijo pra caprichar as opções acima, hein? Vou lhe dar uma lista: champignon (use com parcimônia o shimeji, com menos o paris), batatinha-salsa, abóbora kabotiá, repolho, cenoura, milho, camarada, milho!


Então, tá aqui a estreia do NaoETaoDificil. Nos próximos posts começo a mostrar umas fotos do que preparo de comida em casa e do que sofro de comer na rua. Vá acompanhando e comentando e compartilhando. Vamos pôr criatividade nos restaurantes curitibanos!

Vegs abs, Mayra.

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