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Você nunca saberá se falta mais luz do que deveria em seu bairro

Postado às 09:30 do dia 16/02/18

O que uma métrica tem a dizer para o cidadão comum (ou como você nunca saberá se falta luz no seu bairro além do que deveria).

indicadores aneel

Imagem: Aneel

Estamos aos 15 dias de fevereiro e, embora a temporada esteja sendo chuvosa, e embora – como curitibanos – estejamos acostumados a ver semáforos não funcionando quando chove na cidade -, não pude deixar de notar a quantidade grande de como um pedaço do meu bairro ficou sem luz desde começo de janeiro.

Morando por 6 anos perto do Parque São Lourenço, eu sabia que a incidência de raios na região é que causava a quantidade incrível de falta de luz. A informação me foi dada por um técnico da antiga GVT, que trocou mais modens na minha residência que em qualquer uma na região. Ele me conhecia pelo nome, eu tinha o celular dele e logo que chovia e a luz caía, lá ia eu abrir um chamado e conversávamos mais um pouco sobre as peculiaridades curitibanas quanto à chuva e à queda de luz.

Há um ano no outro lado da cidade, notei uma incidência de queda de luz parecida com a que eu vivia no São Lourenço. E, como consumidor é um bicho burro, burramente eu me debrucei na sacada do prédio pra notar, sempre, que a 50 metros os outros prédios têm luz, exceto toda a minha quadra e um pouco além.

Munida de anotações de alguns episódios de falta de luz, escrevo à Ouvidoria da Copel querendo entender o que ocorre. Claro que eu sou burra, então não posso supor que tenham sido relâmpagos, um carro que bateu no poste, um guindaste que arrancou o fio, um espírito de porco que fez um ato de vandalismo. Se eu tivesse suposto isso desde o início, não gastaria meu tempo precioso escrevendo à Ouvidoria.

Mas gastei porque ser burra é realmente algo que me motiva. E, como sou burra, a Copel me informa, na Ouvidoria, que tudo isso ocorre, e que os índices de falta de luz em meu bairro estão de acordo com os da Aneel.

Eu sou um tipo de burra persistente – uma mula, pra usar o termo. Então abri a legislação vigente da Aneel pra encontrar os tais índices. Foi quando descobri que não sou apenas burra, mas extraburra. A forma da Aneel expressar a consumidores e cidadãos como eu quais índices são estes é exemplificado pelas singelas equações da imagem abaixa, retiradas deste link.

Se você entendeu as equações, parabéns, meu caro. Você certamente fez valer os anos de estudo pra uma faculdade de engenharia, ou de medicina, ou de matemática.

Mas consumidores burros como eu ficarão eternamente relegados à dura realidade de que, embora paguemos impostos – e conta de luz -, somos eternamente reféns de técnicos. Exceto o gentil técnico da GVT. Este não: este vinha em casa e, talvez porque DE FATO atendia um consumidor, sabia me traduzir fácil o que era inacessível.

Nós somos consumidores burros, mas uma Ouvidoria que arrota índices da Aneel quando eu reclamo de faltas de luz constantes em meu bairro é simplesmente arrogante.

Arrotem, queridos, arrotem. A burrice, diferentemente do arroto, é contagiante, e haverá o dia em que vocês também preferirão a honesta tentativa de alguém que lhes explique genuinamente o que está ocorrendo, em vez de simplesmente dar uma resposta padrão, técnica e indigesta, por sinal. Neste dia, será como se ficassem sem luz.

Publicado em 15/fev/18 no Facebook.

Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2018

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