Casa Máy > Diário em Off - Posts > crônicas > Uma ode às estórias
Algumas pessoas escrevem vários livros ótimos que também são best-sellers (JK), outros escrevem livros ruins que viram best-sellers por conta de bons roteiros (S. Meyer), e há os que escrevem um livro razoável, que se torna um filme medíocre, mas que depois se redimem com um livro triunfante. É o caso de Elizabeth Gilbert e o seu A Assinatura de Todas as Coisas (o razoável/medíocre é Comer, Rezar e Amar). Eu li A Assinatura há pouco mais de um ano, mas suas estórias surgem a cada post que leio sobre botânica, a cada página que abro sobre aromaterapia.
Meus alunos sempre comentam como eu tenho tantas estórias pra contar. Não são minhas: são da minha biblioteca. A única coisa que faço é entrelaçá-las.
Nesta segunda mesmo, lia sobre a conclusão do State of World’s Plant levado a cabo pelo Kew Garden e por pelo menos 128 cientistas ao redor do mundo. Que eles fizeram? Estes cientistas percorreram o mundo levantando e mapeando o estado de conservação das espécies botânicas. Assim também o fez o personagem secundário do livro A Assinatura, que foi posto como pirata a bordo da Endeavor, ao lado de nada mais nada menos que Banks e Cook.
Depois li sobre uma manobra da bancada ruralista que conseguiu criminalizar manifestações dos povos indígenas, e me lembrei de outra personagem do livro, a principal, Alma, que tem seus pertences roubados por aborígenes, resgatando o karma de seu pai, que foi o maior biopirata em sua época.
Então quando vou falar sobre o tea tree, o eucalipto, o niaouli, o cajeput, consigo passar o espanto que há na história destes óleos, de quando chegaram a Europa como promessas de panaceias, de como foram usurpados dos aborígenes australianos, de como o Kew se formou, de como até a mais antiga das muambas – planta medicinais – está ameaçada hoje por conta de latifundiários e pecuaristas.
Mas estas histórias todas só se entrelaçam porque me conectei à emoção da estória contada por Liz Gilbert.
O intelecto não entrelaça: o intelecto apenas elenca. Se querem aprender, apreender, de fato, leiam literatura de ficção. Artigos científicos, tratados filosóficos, ensaios historiográficos, nada disso se compara à capacidade que um escritor tem de nos conectar à emoção da narrativa. Não abandonem a literatura e os livros de ficção. Me entristece ver livrarias minguando, festivais literários emagrecendo, livros deixando de ser objetos de um sensual desejo. É a emoção diante de uma narrativa a nossa mais poderosa capacidade – e não o intelecto. A emoção é o que nos entrelaça à narrativa da vida.
PS: resenha do A Assinatura: https://casamay.com.br/…/a-assinatura-de-todas-as-coisas-el…/
Escrito por Mayra Corrêa e Castro (R) 2017
Publicado originalmente em seu perfil do Faceboook em 01/jun/17.