Casa Máy > Diário em Off - Posts > crônicas > Melhores Partes 4 – Flores
Flores são um tem universal, e dizer que flores são um tema universal é um clichê. Como, então, coletar citações sobre elas fugindo do lugar comum? Para isso, convoquei Kakuzo Okakuro, escritor sobre o chamado caminho do chá – chaísmo – Alejandro Zambra e Clarice Lispector. São todos bem diferentes entre si, mas nos darão uma perspectiva nova sobre o tema.
Abro com uma citação de Kakuzo, de uma obra que explica como o chá pode se tornar uma prática de contemplação e autodesenvolvimento. Veja o que ele escreve:
“No tremular cinzento de uma madrugada de primavera, quando pássaros sussurram em misteriosa cadência no arvoredo, você nunca sentiu que eles falam de flores aos companheiros? Para a humanidade, a apreciação das flores foi sem dúvida contemporânea dos poemas de amor.” (Mais aqui.)
A cerimônia do chá transcorre em códigos estritos. A arte da ikebana, do incenso, da caligrafia e do haikai lhe são irmãs. É um caminho de contemplação do Todo através da disciplina dos sentidos, como se fosse uma ascese estética. A observação da natureza é requerida em todos os aspectos das artes japonesas, mas também sua idealização. Por isso que encontramos, em um livro sobre chaísmo, menção a pássaros conversando sobre flores.
Evidentemente que as flores têm um apelo óbvio para pássaros. Poderíamos questionar se eles também as apreciam como nós, se existem aquelas que acham serem mais belas, ou menos. Clarice nos diz que mesmo flores feias têm sua beleza:
“Vejo as flores na jarra. São flores do campo e que nasceram sem se plantar. São amarelas. Mas minha cozinheira disse: que flores feias. Só porque é difícil amar o que é franciscano.” (Mais aqui.)
Posso supor que, para Alejandro, flores “franciscanas” também teriam outra serventia, além da de nos encantar os olhos:
“As flores do meu jardim / vão ser minhas enfermeiras, canta Julián […]” (Mais aqui.)
Para mim, flores são enfermeiras, psicólogas e amigas. Não à toda estão na base da terapia floral formulada pelo Dr. Bach há mais de uma século, e continuam dando origem a tantos outros sistemas florais. Que tenhamos encarado as flores como portadoras de frivolidade não é culpa de nosso gosto por perfumes. Há pessoas que levam perfumes muito a sério e os consideram ferramentas pra fazer feliz.
As flores fenecem, entretanto, murcham, mesmo em um dia de sol. Mas o sol tem a capacidade de dar vida a um outro tipo de flor, como observa Kakuzo:
“A única flor que sabemos ter asas é a borboleta […]” (Mais aqui.)
Então você já sabe: em um dia de sol, se não encontrar flores pela terra, olhe pro céu: elas estarão lá, voando.
Assista ao vídeo do Melhores Partes 4 – Flores.
Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2020
(Se compartilhar ou citar, mencione a fonte. É simpático e eu agradeço.)