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Harper´s Bazaar e Diana Vreeland – Uma Elegia

Postado às 10:05 do dia 30/01/17

Meu primeiro emprego, um cargo de trainee na escola de moda ESMOD, ganhei por dois fatores: eu falava francês, e eu citei Diana Vreeland numa dinâmica de grupo. A moda me enfurecia, mas de um jeito bom. Eu via possibilidades na moda: arte, dinheiro, cultura, personalidades marcantes, vida. Ainda na faculdade, quando eu recebia a bolsa de iniciação do CNPq, pegava os cruzados e ia em duas lojas: numa revistaria, comprar meu exemplar norte-americano da Harper´s Bazaar, e num sebo completar minha coleção de Claudia dos anos 60 e 70. Quando entrei no yoga, doei tudo para a biblioteca de Londrina: todas minhas revistas, todos meus livros de moda. Mas continuei firme na leitura da Bazaar e, eventualmente, da Vogue – que sempre achei mais vangarde e, portanto, sempre me interessou menos, pois sou no fundo uma caipira.
Diana Vreeland disse duas coisas ótimas sobre estar no mundo: primeiro, perguntaram-lhe como Diana se tornou Diana Vreeland, e ela respondeu “em primeiro lugar, deve-se nascer em Paris”; e a segunda, quando, já com o marido, foi morar em Londres nos anos 20, disse que “a melhor coisa a respeito de Londres é Paris”. Não posso deixar de concordar. Mas devemos entender que Paris foi a referência cultural do mundo até os anos 60.
O Brasil, numa época não muito longe, também se tornou a bola da vez. Gisele Bündchen, num maiô preto e branco sobre fundo amarelo, estampava a capa da primeira Harper´s Bazaar brasileira, um trunfo do grupo Carta Editorial. Maria Prata, uma diretora de redação sensacional que depois foi substituída pela insípida Cami Garcia, fazia jus ao legado de Diana, até fisicamente: tinha um perfil nasal incomum, mas igualmente incomuns estilo e inteligência.

capa Gisele Bündchen Harper s Bazaar 1

Foto: Harper´s Bazaar, novembro 2011 – Grupo Carta Editorial

Hoje a Bazaar no Brasil sumiu, como teria um dia sumido a coluna Why Don´t You que Diana escrevia e interrompeu quando o vermelho do nazismo começou a descolorir o mundo. Talvez seja adequado este sumiço, digo, da Bazaar brasileira, que não responde emails, mensagens em redes sociais, tweets: em tempos descoloridos, há que se enfiar num moletom surrado. Fico aqui torcendo pra que as coisas mudem. Um país que tem uma Bazaar é um pouco mais vibrante, um pouco mais alegre, um pouco mais inteligente, um pouco mais Paris dos anos 20. Até lá ficaremos em jejum. Por que não?

 

escrito por Mayra Corrêa e Castro (R) 2017

Publicado originalmente no perfil social de Mayra no Facebook em  28/jan/17.

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