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Remarkable Trees – Christina Harrison e Tony Kirkham

Postado às 18:42 do dia 13/04/20

A história do Kew Gardens começou com a expansão do Império Britânico no século XVIII, mais precisamente em 1759 quando a Princesa Augusta, mãe do rei George III, inaugurou um jardim botânico com 9 acres no distrito londrino de Kew. Em 1768, Joseph Banks, botânico que participou da famosa expedição da Endeavor junto com o Capitão Cook nas costas da Austrália, onde conheceu plantas que usamos na fitoterapia e na aromaterapia, como eucaliptos e melaleucas, tornou-se o primeiro diretor do Kew, embora extraoficialmente. Iniciou-se então a colheita de espécies por todo o mundo. Naquela época, o conceito de biopirataria talvez não pudesse ser aplicado, embora boa parte do que impulsionasse as expedições marítimas inglesas como também holandesas, espanholas e portuguesas fosse obter novos fornecedores de plantas e sementes para cultivá-las, seja em território europeu, seja nas colônias na África, Américas e Oceania e alguns locais da Ásia. Então, a história deste estupendo livro é um pouco a história de como o ser humano se apodera e se apoderou da riqueza proporcionada pelas plantas.

Duas vantagens deste livro vêm do fato dele ter sido publicado sob os auspícios do Kew. Os especialistas que o escreveram trabalham lá: Christina é editora da revista Kew Magazine, possui mestrado em história de jardinagem, e é especialista nas árvores do Kew. Tony é o diretor do departamento de árvores – o Arboretum – do Kew. Ambos são autores de outros livros também. A segunda vantagem são as ilustrações: há 180 delas, todas vindas do acervo monumental do Kew. São pranchas botânicas, exsicatas e fac-símiles de fotografias antigas. Tudo isso nos traz um livro de tirar o fôlego.

A leitura também é agradável, porque os autores não se perderam no botaniquês. Aliás, a ideia é passar conhecimento botânico mostrando a relação das plantas com a história da humanidade e do papel que as árvores selecionadas desempenham em nossas vidas atualmente. Foi agradável também dividir as seções realçando as razões pelas quais determinado grupo de árvore é mais conhecido. Assim, temos os seguintes agrupamentos:

  • Construir e criar – árvores que são usadas na construção.
  • Banquetear e celebrar – árvores que são usadas na alimentação e em celebrações.
  • Curar e matar – árvores que são usadas como remédios e também as venenosas.
  • Corpo e alma – árvores que guardam significados e usos ritualísticos para a humanidade.
  • Maravilhas do mundo – árvores que se destacam por incríveis habilidades, como porte ou longevidade.
  • Ameaçadas ou em risco – árvores com risco de extinção.

Não deve ter sido nada fácil selecionar apenas 63 espécies de árvores entre as 60.000 que que são estimadas existir. O Kew possui mais de 50.000 plantas cultivadas (e é também um dos mais vastos centros de pesquisa sobre fungos) e seu Arboretum possui exemplares com centenas de anos. Ainda assim, foi necessário sair do Kew para falar de espécies que crescem apenas em microrregiões da Terra e que, por isso mesmo, estão infelizmente em risco, seja pela urbanização, seja pela introdução de novos patógenos, seja pelas mudanças acarretadas pelo aquecimento global.

Quando ler o livro, chamará atenção o fato de que entre as 63 árvores descritas boa parte sejam coníferas. Fósseis vivos, são espécies sobreviventes, resilientes e das mais longevas em nosso planeta. Também chamará atenção quais são as árvores brasileiras incluídas e quais são nossas velhas conhecidas na aromaterapia: castanha-do-pará, na parte das nativas, e cedro-do-atlas, cedro-do-himalaia, canela-do-ceilão, noz-moscada, tea tree, olíbano, abeto-de-douglas e junípero-comum na parte das aromáticas. Eu gostaria de ter visto uma copaibeira ou uma seringueira entre as plantas descritas, mas listas são ingratas e talvez eu superestime a importância de ambas por puro bairrismo.

Da leitura das árvores que são usadas na aromaterapia, consigo destacar alguns fatos que eu não conhecia. Veja quais são.

  • Noz-moscada – até o século XV, os europeus não faziam a menor ideia de onde vinha a especiaria, ainda que Marco Polo, no século XIII, já a tivesse descrito como uma das riquezas de Java. Tudo que os europeus sabiam, naquela época, é que a especiaria chegava até Constantinopla e, então, à Veneza. Mas de onde vinha de verdade, mistério. Foram nossos patrícios, os portugueses, que descobriram: a noz-moscada crescia em dez ilhas chamadas de Banda, no que hoje se constitui a província das Ilhas Molucas, na Indonésia. Os portugueses também foram os primeiros a descobrir de onde vinha a canela na época, do atual Sri Lanka.
  •  Tea tree – já sabemos que foi apenas depois de 1920 que o tea tree, a Melaleuca alternifolia, ganhou a Europa. Mas ela ressurgiu, de fato, após os anos 1970, e isso eu também confirmei com o Dr. Malte Hozzel, fundador da Oshadhi, quando ele esteve no Brasl durante o Conaroma Experiencie em 2018. O que eu não sabia é que, durante a 2ª Guerra Mundial, a Austrália considerou a produção do óleo essencial de tea tree como trabalho essencial, mantendo, assim, a atividade, de forma que os soldados pudessem usá-lo como tratamento de feridas.
  •  Olíbano – aqui, o livro fala a espécie Boswellia sacra especificamente. Depois de lermos tanto sobre o olíbano, depois que eu mesma fiz uma extensa pesquisa sobre ele, achei maravilhoso conhecer uma informação nova: os autores dizem que existe uma lenda segundo a qual as fênix fazem seus ovos nos galhos do olíbano-sagrado e que se alimentam de sua resina. Não é fantástico?
  •  Junípero-comum – os autores colocaram esta árvore na seção de ameaçadas de extinção. Então, logo fui pensando em adulteração do óleo essencial, porque usamos muito junípero na aromaterapia, embora ele esteja cada vez mais caro. Mas o junípero-comum está sob risco de ser extinto na área onde ele é nativo: nas ilhas britânicas, especialmente na Escócia. Felizmente, o banco de sementes do milênio do Kew possui algumas guardadas. Mas não tenho certeza se isso chega a ser exatamente algo feliz, saber que a humanidade precisa guardar sementes de sua flora porque a estamos extinguindo…

De todo modo, se puder pelo menos folhear o livro, garanto que ficará estupefato. O livro é glorioso, porque árvores são gloriosas.

 

Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2020

(Se compartilhar, por favor, cite a fonte. É algo simpático e eu fico agradecida.)

HARRISON, Christina; KIRKHAM, Tony. Remarkable trees. Thames & Hudson, Inc.: London, United Kingdom, 2019.

 

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