Casa Máy > As Melhores Partes - Posts > botânica > Plants as persons: a philosophical botany – Matthew Hall
Peter Singer nos deu a libertação animal. Mas Matthew Hall dificilmente obteria a libertação vegetal porque seres imóveis e silenciosos não capturam nosso afeto tão facilmente. Há esforços pra que comecem a capturar: Stefano Mancuso, Peter Wohllenben, Francis Hallé, Ernst Zürcher são nomes que têm buscado transformar nossa relação com as plantas. Matthew Hall se junta à trupe com este seu Plants as persons: a philosophical botany [Plantas como pessoas: uma botânica filosófica].
Seu livro parte do diagnóstico de que humanos sofrem de plant blindness, ou seja, de uma cegueira vegetal. Quem cunhou o termo foram dois autores, Wandersee e Schussler, em 1999, com o artigo Preventing plant blindness para a revista The American biology teacher nº 61. Na origem desse fenômeno, elencaram 4 fatores:
Então, de onde surgiu, para onde nos levou e o que fazer com o zoocentrismo é sobre o que Hall se debruçará. A esperança, claro, é que o reino vegetal comece a ser levado em conta em nossas considerações morais. Até bem pouco tempo, dizer que animais domésticos tinham direitos parecia estranho. Ainda que não tenhamos chegado a estender estes direitos a outras categorias de animais (o próprio fato de haver categorias demonstra como a questão é tratada, sempre de forma hierárquica), cogitar que plantas também o tenham começa a ser feito – nem que seja necessário passar pela fase de categorizar as plantas entre aquelas “com mais direitos” e aquelas “com menos”, o que de certa forma já ocorre quando pensamos em plantas com risco de extinção, que recebem proteção estatal contra exploração.
Como sempre, li o livro, grifei aquilo que me chamou atenção e agora lhe trago as melhores partes comentadas e traduzidas do inglês.
Povo planta
“O risco que corremos por ignorar a pessoalidade das plantas é perder de vista o conhecimento de que nós, humanos, somos seres ecológicos dependentes.” (pos. 221, trad. livre Mayra C. e C.)
– Difícil traduzir personhood, que é a qualidade de ser uma pessoa. Ora fica bom falar em pessoalidade (como pus acima), ora em sujeitalidade, ora em individualidade. Eventualmente, cabe personalidade (de persona). No final, a mensagem do livro é bem fácil de ser compreendida. É quando dizemos, em bom português, que planta também é gente.
“Para perceber e se conectar com essa natureza nas plantas, é necessário seguir o conselho do poeta zen Basho, que disse: ‘vá até o bambu se quiser aprender sobre o bambu’ e ‘deixe a si mesmo suas preocupações subjetivas’.” (pos. 1352, trad. livre Mayra C. e C.)
– Leitores de Goethe de Steiner e de Hallé devem ter identificado o conselho de Basho em seus métodos.
“Como sujeitos [persons], as plantas não se tornam ingenuamente dotadas de faculdades humanas. Elas são compreendidas como seres vivos com sua própria perspectiva e com a habilidade de se comunicarem de seu próprio jeito.” (pos. 1461, trad. livre Mayra C. e C.)
– Críticos da forma de chamar as plantas de “povo” gostam de usar o argumento da antropomorfização, que ele seria errado. Bem no final do livro, Hall traz uma discussão sobre a quão improdutivo é insistir nessa crítica: temos que dar um jeito de melhorar nosso relacionamento com as plantas, do contrário enfrentaremos as consequências mais duras do Antropoceno. Então, sendo ou não antropomorfização, investir as plantas de um parentesco ontológico ou de características humanas fará com que as enxerguemos com respeito e consideração.
“Os oglalas compreendem que todos os seres e espíritos são pessoas no sentido completo do termo, compartilhando valor inerente, integridades, senciência, consciência, poder, desejo, voz e, especialmente, a habilidade de se relacionar. Humanos, ou os ‘duas-pernas’ são apenas um dos tipos de pessoas existentes. Os humanos dividem seu mundo com Wakan [poder sagrado] e com pessoas não-humanas, incluindo pessoas-humanas, pessoas-pedras, pessoas-quatro-pernas, pessoas-com-asas, pessoas-rastejantes, pessoas-paradas (plantas e árvores), pessoas-peixe, entre outros tipos. Essas pessoas possuem tanto importância ontológica quando moral. A categoria de pessoa se aplica a tudo que existe e que, portanto, pode se relacionar.” (apud Detwiler, pos. 1468, trad. livre Mayra C. e C.)
– Os estudos linguísticos sempre são capazes de tangibilizar as diferenças de estruturas de pensamento entre culturas e povos. É fascinante. Talvez tenha sido sentir esse fascínio que me fez sair de Letras e ir pra Linguística depois da primeira aula sobre Saussure.
“A atribuição de uma humanidade inicial às plantas não é antropomorfismo, mas uma forma significativa de ‘representar interioridade’ ou ‘subjetividade’.” (pos. 1483, trad. livre Mayra C. e C.)
– Deixarmos de ser a medida de todas as coisas provavelmente é impossível. Então, que seja com uma visão ampliada de que aquilo que está fora de mim me atinge completamente – melhor fazê-lo meu.
“Na Amazônia, mulheres da tribo Achuar se relacionam com as plantas que cultivam como seus “filhos planta”. Este relacionamento de consanguinidade é bem interessante porque não surge de uma ancestralidade comum. Pelo contrário, é baseado no fato de plantas e humanos compartilharem o mesmo espaço.” (pos. 1593, trad. livre Mayra C. e C.)
– Novamente, é fácil sentir o conceito: é quando a gente diz que é mais família quem convive conosco do que quem nasceu da mesma barriga.
“A consciência da interdependência ecológica de toda vida leva ao reconhecimento da interpenetração corporal entre diferentes seres vivos.” (pos. 1601, trad. livre Mayra C. e C.)
– Um exemplo de interpenetração corporal: micorriza e microbiota.
“Pode ser o caso de que ‘a primeira coisa que um filósofo diga a uma árvore seja desculpe-me‘, mas pedir desculpas ao reino vegetal precisa ir mais longe. Um relacionamento respeitoso, moral com as plantas precisa acontecer em nosso comportamento.” (pos. 2235, trad. livre Mayra C. e C.)
– Sou bem cética quanto a isso ocorrer. Mas percebo que para algumas pessoas a aromaterapia funcionou como uma tomada de consciência em relação às plantas.
O passado nos condena
“O processo primário que pode ser identificado na filosofia clássica grega é o estabelecimento das plantas como criaturas passivas sem capacidade para a inteligência ou comunicação.” (pos. 263, trad. livre Mayra C. e C.)
– Estudar a filosofia clássica exige aquela postura tão difícil hoje em dia de admirar a obra mesmo que o autor seja um escroto. Todos eram escravocratas, patriarcais, bélicos, hierárquicos.
“Pela leitura dos diálogos de Platão, fica claro que a fim de sustentar o dualismo entre razão e natureza, tornou-se necessário a Platão desinvestir o reino vegetal de razão, já que ele domina o mundo natural.” (pos. 279, trad. livre Mayra C. e C.)
– Esta passagem me recordou uma reflexão que o pesquisador Avery Gilbert, autor do livro What the Nose Knows, fez sobre a inevitabilidade de categorizar o olfato como sentido inferior: ele estava associado aos animais.
“Às plantas foi atribuído o nível mais baixo da alma tripartite de Platão. No relato citado de Timeu, foi-lhes atribuída a alma apetitiva, mas lhes foram negadas as almas irascível (atividade e volição) e racional (inteligência e autocontrole). Os seres mais repetidamente associados com a alma apetitiva eram escravos, mulheres e crianças – seres no nível mais baixo na hierarquia social de Platão.” (pos. 279, trad. livre Mayra C. e C.)
– Seria o caso de cogitar se o renascimento da botânica e o surgimento da ecologia se deve a uma melhor posição de mulheres nas sociedades liberais.
“Neste trecho, Aristóteles remove a volição, escolha, inteligência e comunicação das atividades de crescimento das plantas, afirmando ainda mais um vácuo subjetivo no reino vegetal. Na tradição botânica, esta talvez tenha sido a primeira afirmação de que as plantas não possuíam atributos mentais e pode-se dizer que todas as afirmações posteriores se basearam nela.” (pos. 331, trad. livre Mayra C. e C.)
– Imagina a hecatombe se descobrissem que as plantas nos cultivam? Hahaha.
“Apesar desse retrato, Plínio não atribuiu autonomia ao reino vegetal. De fato, Plínio ignorou ou escolheu ignorar uma das mais importantes descobertas de Teofrasto, a de que o propósito primário das plantas (do ponto de vista delas) não é prover comida ou remédios para os seres humanos, mas crescer e se multiplicar.” (pos. 544, trad. livre Mayra C. e C.)
– Plínio ter ignorado isso não surpreende; ignorarem isso ainda hoje é que é surpreendente.
“Bacon manteve a atitude zoocêntrica de dominação em relação ao reino vegetal.” (pos. 591)-, trad. livre Mayra C. e C.)
– Também, com este nome! Rs.
“Em outras áreas da ciência, Bacon advogou o método empírico experimental para revelar a verdade, mas em sua compreensão sobre as plantas, ele subscreveu alegre e inteiramente o indisciplinado raciocínio dedutivo do Aristotelismo.” (pos. 642, trad. livre Mayra C. e C.)
– Ah, o que seriam dos gênios sem suas contradições.
“Embora Descartes rejeite a teologia geral de Aristóteles, no seu olhar sobre as plantas, ele manteve a noção aristotélica de que são insensitivas e sem vontade.” (pos. 665, trad. livre Mayra C. e C.)
“Então, Locke ajudou a arraigar uma compreensão do reino vegetal baseada em observações falhas, no zoocentrismo e feita para excluir as plantas das considerações humanas.” (pos. 682, trad. livre Mayra C. e C.)
“A rejeição cartesiana e lockeana da possibilidade de pensamento e ação no mundo natural foram fortes exclusões que continuam ressoando, mas ela deve ser tomada como reiteração das exclusões e hierarquias encontradas nos trabalhos de Platão e Aristóteles.” (pos. 691, trad. livre Mayra C. e C.)
– Como estabelecer que o homem pode dominar a natureza sem torná-la inferior, não é mesmo?
“Para Lineu, as plantas são inferiores porque não são capazes de sentir nem de pensar.” (pos. 739, trad. livre Mayra C. e C.)
– Ainda assim, julgou oportuno que a nomenclatura tratasse com as mesmas hierarquias todas as espécies vivas.
“Portanto, em vez de também reconhecer autonomia e propósito autodirecionado no reino vegetal, Ezequiel 47:12 diz das plantas que ”seu fruto será para comer, e suas folhas para curar’.” (pos. 851, trad. livre Mayra C. e C.)
“Metáforas vegetais ocorrem com frequência na Bíblia, mas nessa associação de plantas com seres vivos, elas são usadas como símbolos da vida e não verdadeira e explicitamente reconhecidas como seres vivos.” (pos. 876, trad. livre Mayra C. e C.)
– É sempre tortuoso o caminho dos nossos argumentos…
“São Tomás de Aquino olha as plantas como destituídas de alma, seja esta mortal ou imortal. Seu argumento contra a hipótese das plantas possuírem uma alma permanece até hoje: poucas pessoas pensariam que as plantas vão para o céu depois de morrerem!” (pos. 982, trad. livre Mayra C. e C.)
– Isso é verdade, ninguém pensa. Mas alguns desses não o pensam por entenderem que uma Terra deixada às plantas e aos demais animais seria o céu.
“Apesar de admitir a qualidade da vida às plantas, para Aquino sua espiritualidade inferior ajuda a justificar o direito a que elas sejam exploradas pelos seres humanos. Segundo Agostinho, Aquino observa que a utilização das plantas não envolve matá-las. Já que não possuem nenhum tipo de alma, as plantas não estavam listadas no horizonte de considerações morais humanas já que elas não poderiam de nenhuma forma ser mortas ou feridas.” (pos. 982, trad. livre Mayra C. e C.)
– Veganos podem resgatar esse argumento de São Tomás de Aquino quando vierem lhes encher o saco de não matar bicho, mas matar plantas pra se alimentarem.
“´(…) Apenas em alguns casos particulares que certas árvores grandes possuem consciência espiritual. Nestes casos, não é que um ser reencarnou como árvore, mas um espírito ficou “ligado” a ela, como bem poderia ter se ligado a uma casa, a uma pedra ou a qualquer coisa que seja. O reino vegetal não existe como uma possibilidade de reencarnação. Assim, cortar uma planta não significa matar de nenhuma forma.” (pos. 1271, trad. livre Mayra C. e C.)
– Se me recordo bem, é do filme Sete anos no Tibet uma cena memorável de monges cuidando para que minhocas não fossem mortas durante a preparação de um terreno para erguer uma construção. Mesmo na vertente mais pacifista da mais pacifista das religiões, é preciso encontrar um raciocínio que justifique o óbvio: viver implica em comer algum ser vivo.
“Na obra de Peter Singer, as plantas foram excluídas pela presunção de que levam uma ‘vida subjetivamente estéril’. Tal processo de exclusão é a base para a subvalorização das plantas na sociedade ocidental.” (pos. 2166, trad. livre Mayra C. e C.)
– O topo da cadeia alimentícia, desconfio, sempre requererá algum processo de exclusão – o que não impede que se encontre uma forma de respeitar o verde.
Meu querido zoocentrismo
“Em última análise, pode-se dizer que a razão é valorizada acima de tudo porque ela é a marca do ser humano. Em outras palavras, as faculdades mais elevadas da alma são elevadas porque elas são tidas como pertencentes somente à espécie humana.” (pos. 347, trad. livre Mayra C. e C.)
– Você estudou isso na escola, o choque que foi a Teoria Evolucionista de Darwin: “como assim, viemos dos macacos?!”
“Assim, ainda que as plantas sejam descritas como possuidoras de natureza plástica inteligente, elas não são reconhecidas como inteligentes ou intencionais.” (pos. 723, trad. livre Mayra C. e C.)
– Atribuir natureza plástica inteligente às plantas é fácil, mas por que é tão difícil admitirmos como existe gente no mundo que parece possuir nada além disso?! Hahaha.
“De fato, as plantas foram incluídas no salvamento dos seres vivos apenas quando Deus informou a Noé para construir a Arca com madeira de gofer. Esta arca de madeira flutuante feita com partes de plantas mortas e preenchida com animais vivos encapsula a divisão ontológica radical entre plantas e animais. Um plano de fuga mais propriamente ecológico deveria ter incluído plantas dentro da Arca.” (pos. 815, trad. livre Mayra C. e C.)
– Eu sempre estranhei que os animais tivessem recebido nomes quando desfilaram em frente a Adão, mas não as plantas.
“Apenas as plantas úteis são encontradas no Éden, enquanto todas as demais ficam para além das fronteiras.” (pos. 884, trad. livre Mayra C. e C.)
– Se um dia o Antigo Testamento for reescrito à luz da ciência, haverá fungos por todo o lado no Éden – se a medida for utilidade.
“Santo Agostinho relaciona claramente o atributo da respiração não com a existência de vida, mas com a presença de uma alma. (…) Embora as plantas fossem reconhecidas como estando vivas, pelo fato de não ter-lhes sido dado o sopro de Deus, elas não possuíam uma alma.” (pos. 943, trad. livre Mayra C. e C.)
– Bom, mas agora sabemos que respiram e como respiram.
“A partir de uma variedade de textos, Schmithausen lista um conjunto adicional de razões empregadas por uma variedade de estudiosos do budismo, entre os quais muitos que influenciaram a tradição tibetana, para separar as plantas dos outros seres vivos, negando-lhes um status senciente. Aqui estão 8 razões principais, que eu sumarizei pelo bem de ser breve:
“1. as plantas carecem de movimento autônomo ou de locomoção;
“2. as plantas carecem de calor corporal;
“3. as plantas não respiram perceptivelmente como os humanos e animais;
“4. as plantas não ficam visivelmente cansadas;
“5. as plantas não abrem ou fecham seus olhos, i.e., abrir e fechar as pálpebras demonstrando o estado de sono ou vigília e a mudança de consciência que decorre desses estados;
“6. as plantas podem crescer a partir de galhos e brotos que são cortados, mas os animais não conseguem fazer crescer de volta seus membros;
“7. as plantas não respondem quando são interpeladas;
“8. as plantas não se movimentam violentamente quando são machucadas, do que se deduz que não sentem nem dor, nem prazer.” (pos. 1256, trad. livre Mayra C. e C.)
– Razão 1: já caiu por terra; razão 2: há plantas que produzem calor – razão caindo por terra; razão 3: caiu por terra; razão 4: defina cansado pra que este argumento também não esteja caindo por terra; razão 5: as plantas percebem a luz, mas esta razão ainda permanece de pé; razão 6: mas o fato de que podem rebrotar não indicaria que são mais evoluídas?; 7: circunscreva bem o que significa interpelar, senão a razão cairá por terra; razão 8: violentamente, de fato; dor e prazer requerem definição. Mas hoje se sabe que anestésicos, por exemplo, eliminam certas atividades vegetais. Um pré-requisito à dor é a nocicepção – se ficar provado que elas têm, será difícil não supor a dor.
O passado nos redime
“Sua planta é algo variado e multifacetado; portanto, é difícil descrevê-la em termos gerais.” (Metafísica de Teofrasto) (pos. 401, trad. livre Mayra C. e C.)
– Teofrasto é uma espécie de pai do amor às plantas.
“Teofrasto enfatiza conexões entre a anatomia e a história de vida de plantas e animais.” (pos. 416, trad. livre Mayra C. e C.)
– Resenhei o livro Éloge de la plante, de Francis Hallé. Ele caminha por estas conexões. É uma leitura imensamente instrutiva.
“(…) para Teofrasto, o mundo das plantas merecia ser avaliado em seus próprios termos.” (pos. 425, trad. livre Mayra C. e C.)
– Tinha dificuldade de compreender como a observação fenomenológica coloca este preceito em prática: descrever as plantas em seus próprios termos. Então, li Pensamento vivo: as plantas como mestras, de Craig Holdrege (Bambual, 2023) e ficou claro. Vou resenhá-lo em breve.
“(…) em De Causis Plantarum, Teofrasto reconhece uma autonomia intencional.” (pos. 425, trad. livre Mayra C. e C.)
“A descrição de plantas intencionais e perceptivas em Teofrasto foi inacreditavelmente importante porque foi o primeiro, embora implícito, reconhecimento do fenômeno mental em plantas na tradição botânica ocidental.” (pos. 450, trad. livre Mayra C. e C.)
“Talvez de maior interesse seja o fato que, como possuidoras de uma natureza desiderativa, as plantas também estão conectadas de perto com a faculdade mental. Em Metafísica, Teofrasto afirma que ‘é na faculdade do pensar que o desejo se origina’.” (pos. 482, trad. livre Mayra C. e C.)
– Certamente, preciso ler Teofrasto.
“(…) há evidências em textos hindus de que as plantas estavam incluídas em considerações de ordem moral.” (pos. 1000, trad. livre Mayra C. e C.)
“Para fornecer alguns exemplos, o bambu (Bambusa spp.) é tratado como sagrado porque foi usado pelo deus Krishna como sua flauta. O manjericão-santo, tulasi ou tulsi (Ocimum tenuiflorum L.) também é fortemente associado a Krishna. Essas associações são obviamente poderosas pois o tulasi é frequentemente visto como a planta mais sagrada na Índia. Outros exemplos de sacralidade emergem quando deidades residem em plantas. A árvore neem (Azadirachta indica A. Juss.) é tida como a morada de Shitala (deusa da varíola); e da deusa Lakshmi diz-se que mora nos galhos da figueira-do-buda (Ficus religiosa L.).” (pos. 1016, trad. livre Mayra C. e C.)
“Nos textos bíblicos, plantas e humanos não compartilham a mesma natureza. Mas nos textos hindus, eles compartilham basicamente a mesma ontologia.” (pos. 1033, trad. livre Mayra C. e C.)
– As culturas milenares orientais sempre parecem mais inclusivas que as ocidentais.
“Como uma alma encarnada, como um jiva, a planta é reconhecida como senciente, volitiva e consciente. A Bhagavadgita estabelece que os sentidos e a mente estão associados com a alma e quando corpo morre, a alma carrega os sentidos para uma outra encarnação.” (pos. 1042, trad. livre Mayra C. e C.)
– Como brinco com meus alunos pra demonstrar meu amor por esta família de plantas, na próxima vida quero voltar conífera.
“Levando o caso mais adiante, o texto vedanta Yogavasishtha, que é extremamente influente, retratou as plantas vivas não apenas como sencientes mas como autoconscientes. Numa passagem notável está escrito:
“Como a árvore percebe em si o crescimento das folhas, frutos e flores em seu corpo; assim eu percebo tudo isso surgindo em mim.” (pos. 160, trad. livre Mayra C. e C.)
– Mas mesmo no yoga, a esmagadora maioria dos ásanas faz referência a animais. É claro que o motivo é que plantas não se mexem aos nossos olhos. Vrikshásana, contudo, é uma das posturas mais acessíveis.
“Embora seja verdade que não é possível observar as plantas respirando, Mahavira infere que ‘estes seres vivos que sentem também inalam e exalam, também inspiram e expiram’. Esta consciência é notável, seja à luz do conhecimento atual sobre a respiração vegetal, bem como em contraste à insistência bíblica de que as plantas não foram imbuídas com o sopro da vida.” (pos. 1125, trad. livre Mayra C. e C.)
– De fato, ter chegado a esta intuição ainda na era antes de Cristo é fenomenal.
“De fato, Ryogen não viu ‘melhor yogi budista no mundo que as plantas e as árvores em seu próprio jardim, imóveis, silenciosas, seres serenos disciplinando a si mesmos em direção do nirvana’.” (pos. 1343, trad. livre Mayra C. e C.)
– Quando eu digo que planta é o ser mais evoluído do planeta, agora você me entende, né?
“Construir a ideia de plantas sagradas apenas em termos de associações com divindades retrata as plantas como sinais ou símbolos, mas não como seres que merecem respeito. Para o estudo das atitudes e comportamento dos antigos pagãos em relação às plantas, essa abordagem é errônea. Ela falha em ressaltar que, enquanto a atitude bíblica para com o mundo natural é hierárquica, no antigo paganismo os materiais e a natureza eram percebidos mais como uma heterarquia. A partir de fragmentos disponíveis, evidencia-se que a visão geral do paganismo europeu envolveu o reconhecimento de parentesco entre seres humanos e plantas. Tais expressões de parentesco entre humanos e o mundo natural são a maior fonte para o relacionamento com a natureza no paganismo contemporâneo.” (pos. 1659, trad. livre Mayra C. e C.)
– Talvez lhe estranhe a expressão “novos pagãos”. Vou lhe deixar duas sugestões de contúos: este post sobre se a aromaterapia é um tipo de paganismo; e este vídeo sobre aromaterapia ser uma prática de ecologia profunda.
Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2024
HALL, Matthew. Plants as persons: a philosophical botany. E-book. Edição do Kindle. New York: State University of New York, 2011.