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O coração do mundo – Peter Frankopan

Postado às 20:12 do dia 24/03/24

É preciso ser bastante ambicioso pra reescrever a história universal, ainda mais antes que o termo “decolonialismo” caísse nas graças da cultura woke. Peter Frankopan teve esta ambição. Seu livro “O coração do mundo” foi publicado nos Estados Unidos em 2015 com o título The Silk Roads. Amealhou inúmeros elogios – e eles não são à toa. Seu livro é cativante.

O texto parte de uma memória afetiva: o maravilhamento do jovem autor diante de um mapa-múndi que ficava pendurado ao lado de sua cama – e cujas partes em pouco tempo ele conhecia de cor -, e a constatação, na adolescência, de que tudo que aprendia sobre história era a história eurocêntrica. Foi quando ele pediu ao pai para conhecer o mapa-múndi Hereford, no qual Jerusalém era seu ponto médio. Foi o gatilho pra que quisesse aprender mais sobre a Rússia, Ásia Central e como era a geografia dominante no mundo da Idade Média.

Meu interesse em ler O coração se deveu em parte à leitura de A casa da sabedoria, de Jonathan Lyons, um dos mais empolgantes livros de história que já li. Bom, O coração é menos empolgante, mais culto, mais técnico, embora a estratégia do autor de dividir os capítulos em rotas com nomes sugestivos como A rota das pelesA rota do ouroA rota do genocídio mantenha nosso interesse ao longo das 650 páginas.

A dificuldade com um livro deste é sempre nos localizarmos geograficamente. Penso que se os mapas incluídos fossem destacáveis ajudaria bastante na leitura. Outra dificuldade é guardar os nomes de civilizações, cidades e personagens militares, mesmo que em um passado mais recente como o século XX. Aquele leitor que não consegue avançar a leitura se não puder ter todo o quebra-cabeça em mente talvez demore muitos meses pra concluir o livro. Mas aquele que se interessar mais pelas ideias gerais em vez de pelos fatos poderá vencer a leitura em algumas semanas.

Principalmente, se o livro for lido com a ideia de adquirir uma nova perspectiva sobre a história universal, o aproveitamento será completo. Poucas vezes nos perguntamos por que afinal o mapa-múndi é como é e, quando a pergunta é feita, talvez nos convençamos de que ele o seja pra que a grande massa do Oceano Pacífico não ocupe todo o espaço central, dificultando enxergar os continentes. Ledo engano: mapas refletem visões de mundo e a visão que Frankopan nos propõe coloca o coração do mundo bem na ponte entre o Ocidente e o Oriente. Talvez devamos não nos esquecer disto pro bem de toda a humanidade. E talvez a leitura possa ser recomendada neste momento em que o coração do mundo volta a entrar em guerra, pois Frankopan nos ensina sobre a origem destes conflitos todos que teimam em perdurar.

Abaixo selecionei as melhores partes .

 

O coração do mundo

“Essas trilhas [as Rotas da Seda] são como o sistema nervoso central do mundo, ligando povos e lugares, mas ficam sob a pele, invisíveis a olho nu. Assim como a anatomia explica de que forma o corpo funciona, compreender essas conexões nos permite entender como o mundo opera.” (p. 16)

– Peter coloca o ponto médio entre Leste o Oeste como a extensão que vai das praias orientais do Mediterrâneo e do mar Negro até o Himalaia. Este é o coração do mundo.

“E eu não conseguia entender por que continuavam me falando da importância do Mediterrâneo como berço da civilização, quando parecia tão óbvio que não era ali que a civilização havia de fato sido forjada. O verdadeiro cadinho, o ‘Mediterrâneo’ no sentido literal – o centro do mundo -, não era um mar separando a Europa do Norte da África, mas ficava bem no centro da Ásia.” (p. 19-20)

– Daqui da América do Sul, é fácil olhar para cima e se sentir pequeno e distante. Mesmo que redijam a história do mundo para a Ásia, nós, sulamericanos, continuaremos na periferia da periferia.

“É fácil moldar o passado num formato que nos pareça conveniente e acessível. Mas o mundo antigo era muito mais sofisticado e interligado do que costumamos às vezes imaginar. Encarar Roma como a progenitora da Europa Ocidental omite o fato de que ela em muitos aspectos era moldada por influência do Oriente. O mundo da Antiguidade foi em muitos sentidos um precursor do mundo como o vemos hoje – vibrante, competitivo, eficiente e dinâmico.” (p. 46)

– Talvez pareça um pouco estúpido falar isto, mas se Roma fosse a progenitora do Ocidente, todos falaríamos línguas latinas.

“Na realidade, França, Alemanha, Áustria, Espanha, Portugal e Inglaterra nada tinham a ver com Atenas e com o mundo dos antigos gregos, e haviam sido em grande medida periféricos na história de Roma desde seus primeiros dias até seu ocaso. Isso foi encoberto à medida que pintores, escritores e arquitetos puseram mãos à obra, tomando emprestados temas, ideias e textos da Antiguidade para nutrir uma narrativa que fazia escolhas seletivas do passado para criar uma história que com o tempo se tornou não só crescentemente plausível, mas padrão. Portanto, embora estudiosos tenham há muito tempo chamado esse período de Renascimento, não houve renascimento algum. Ao contrário, foi um nascimento. Pela primeira vez na história,a Europa ocupava o coração do mundo.” (p. 248)

– Afinal, escolher uma boa narrativa não é um privilégio do século XXI e nem das fórmulas de marketing digital.

“Alguns historiadores consideram esse momento de reformulações dos fluxos de moeda tão importantes quanto a transferência de poder de Londres para a Índia e o Paquistão. Seu impacto, no entanto, foi mais similar à descoberta das Américas e à consequente redistribuição da riqueza global. As corporações ocidentais que controlavam concessões e que se concentravam principalmente na Europa e nos Estados Unidos começaram a canalizar dinheiro para o Oriente Médio e, com isso, desencadearam um mudança no centro de gravidade do mundo. A teia de oleodutos que cruzava a região e ligava o Oriente ao Ocidente marcou um novo capítulo na história da região. Dessa vez, não eram as especiarias ou a seda que atravessam o globo, e sim o petróleo.” (p. 450)

– O livro termina sua reescrita da história universal no primeiro decênio do século XXI, mas sem aprofundar, posto que não existe distanciamento suficiente pra entender as mudanças em curso, apenas pra adivinhar o impacto delas. Narrando os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA e a reação do governo Bush logo depois a Osama Bin-Laden, o livro entrevê a mudança de forças entre Ocidente e Oriente com a ascensão da economia chinesa e o o ressurgimento de velhas rivalidades no Golfo Pérsico e Rússia. Mas o que fica é que, pendule pra onde pendular, este movimento sempre trará sofrimento na mesma medida em que trará novas ideias e impulsionamentos. Yin/yang.

 

O “fabulosamente rico Oriente”

“Para Alexandre [da Macedêonia], como para todos os antigos gregos, cultura, ideias e oportunidades – assim como ameaças – vinham do Leste. Não foi nenhuma surpresa que seu olhar se dirigisse para a maior potência da Antiguidade: a Pérsia.” (p. 23-24)

– Onde a riqueza está, lá está o progresso. Aromaterapeutas que leem este blog devem se lembrar de Avicena. Não é acaso um Avicena ter surgido em uma região rica.

“Mas a transição de Roma para um império tinha pouco a ver com a Europa ou com o controle de um continente que oferecia um suprimento pobre do tipo de recursos e cidades que atraíam consumidores e pagadores de impostos. O que impulsionou Roma para uma nova era foi sua reorientação para o Mediterrâneo oriental e terras além dele.” (p. 33)

– Quando Roma tomou o Egito depois da resistência (falha) de Cleópatra, o império realmente começou enriquecer.

“Os muito procurados olíbano e mirra, que na realidade provinham de Iêmen e da Etiópia, eram conhecidos na China como Po-ssu – isto é, produtos persas.” (p. 40)

– Note que muitas vezes a origem especial de um produto liga-se mais ao local onde é processado que o local de onde vem as matérias-primas. Assim que amamos o chá inglês, sendo que as folhas vêm da Índia e Sri Lanka.

“A crescente preocupação do Ocidente com a Chia não surpreende, pois uma nova rede chinesa está em processo de construção, estendendo-se pelo globo. Até meados dos século XX, ainda era possível navegar de Southampton, Londres ou Liverpool até o outro lado do mundo sem sair do território britânico, fazendo escala em Gibraltar e depois em Malta, até chegar em Port Said; e dali até Aden, Bombaim e Colombo, parando na península Malaia e chegando por fim a Hong Kong. Hoje, são os chineses que fazem algo similar. Os investimentos da China no Caribe multiplicaram-se mais de vinte vezes entre 2004 e 2009, enquanto na região do Pacífico são construídas estradas, estádios esportivos e reluzentes edifícios governamentais com a ajuda de assistência, empréstimos a juros baixos ou investimento direto chinês. A África também teve forte intensificação de atividades á medida que a China vem construindo uma série de pontos de apoio para ajudá-la a avançar numa gama de Grandes Jogos em andamento – parte da competição por energia, recursos minerais, suprimento de alimentos e influência política, numa época em que a mudança climática provavelmente terá forte impacto em cada um desses aspectos.” (p. 568)

– Se uma coisa salta aos olhos com este livro é a irrelevância da América do Sul na história universal até aqui e a provável manutenção desta irrelevância no futuro.

 

Matéria pra mitologias

“As montarias mais famosas e valiosas eram ciradas no vale do Fergana (…). Esses animais, muito admirados por sua força, são descritos por escritores chineses como tendo sido procriados por dragões e chamados de hanxue ma, isto é, ‘sangue suado’ – resultado de sua característica transpiração avermelhada causada por um parasita local e pelo fato de terem uma pele fina demais, que como o esforço a que eram submetidos causava o rompimento de vasos sanguíneos.” (p. 29)

– Dragões também explicaram a origem do âmbar gris.

“Inscrições dessa época [III a.C.] dão testemunho das muitas pessoas que seguiam agora os princípios e práticas budistas em locais tão distantes como a Síria e talvez mais longe ainda [da Índia]. As crenças de uma seita conhecida como os therapeutai (terapeutas), que floresceu em Alexandria no Egito por vários séculos, tem similaridade inequívocas com o budismo, entre elas o uso de escrituras alegóricas, a busca da iluminação por meio da oração e o desapego da noção de eu, a fim de encontrar a paz interior.” (p. 49)

– Eu desconhecia que na origem da palavra terapeuta houvesse uma seita grega.

“É comum se esquecer que a festa do Dia de Ação de Graças, comemorada pela primeira vez pelos pais peregrinos para marcar sua chegada em segurança a uma terra de abundância, foi também a celebração de uma companha contra a globalização: saudava não só a descoberta de um novo éden, mas triunfalmente rejeitava o paraíso destruído que havia sido deixado para trás.” (p. 297)

– Muito se especula que a diferença entre o espírito dos norte e dos sul americanos reside no motivo da invasão deste continente pelos colonos.

 

Globalização

“Vemos a globalização como um fenômeno exclusivo da modernidade; mas há 2 mil anos já era um fato, e oferecia oportunidades, criava problemas e estimulava avanços tecnológicos.” (p. 32)

– Como sempre, a maior cegueira é da contemporaneidade que não enxerga o passado.

“Os cruzados desempenharam papel vital em moldar o Ocidente medieval. O poder do papado se transformara, com o papo tornando-se não apenas um clérigo com autoridade, mas uma figura com capacidade política e militar própria; as qualidades e o comportamento da elite haviam sido moldados por ideias de serviço, devoção e piedade cavalheiresca; e a ideia de cristianismo como denominador comum do continente europeu criara raízes. Mas numa análise final, a experiência deixara claro que, embora capturar e manter Jerusalém fosse maravilhoso em tese, na prática era difícil, caro e perigoso. E assim, depois de ter sido colocada no centro da consciência europeia por dois séculos, a Terra Santa silenciosamente saiu de cena. Como o poeta Willian Blake expressou no início do século XIX, seria infinitamente preferível construir Jerusalém num local mais fácil e prático – como na ‘verde e agradável paisagem da Inglaterra’.” (p. 201)

– Brexit da Terra Santa.

“Por instinto, os mongóis sabiam como construir um grande império: tolerância e administração cuidadosa tinham que se seguir à supremacia militar.” (p. 207)

– Tolerância e administração cuidadosa compram até o desejo de liberdade, alguns poderiam dizer.

“Três navios partiram de Palos de la Frontera, no sul da Espanha, em 3 de agosto de 1492, menos de um mês antes do fim do mundo previsto na Rússia. Ao enfurnar suas velas e rumar para o desconhecido, Colombo mal sabia que faria algo notável: estava prestes a mudar o centro de gravidade da Europa do Oriente para o Ocidente.” (p. 230)

– De certa forma, a previsão russa acertou então, né?

“A Era dos Impérios e a ascensão do Ocidente foram construídas com base na capacidade de infligir violência em grande escala. O Iluminismo e a Era da Razão, a progressão para a democracia, para a liberdade civil e os direitos humanos, não foram resultado de uma cadeia invisível remontando a Atenas na Antiguidade ou a um estado de coisas natural na Europa; foram fruto do sucesso político, militar e econômico em continentes distantes.” (p. 231)

– Quando eu vejo leitores abandonando a leitura de seus autores favoritos porque descobrem que eles não são pessoas 100% boas, penso: imaginem se soubessem de que cabeças surgiram as virtudes que cultivamos no mundo moderno, também o abandonariam? Treva e luz são faces de uma mesma moeda, um contém o germe o outro como se constata.

“A globalização não foi menos problemática há cinco séculos do que é hoje.” (p. 271)

– Isto traz algum tipo de alívio? Hahaha.

“O segredo por trás do sucesso holandês no século XVII era: senso comum aliado a trabalho árduo. Para os holandeses, a maneira correta de trabalhar era não seguir o exemplo da Inglaterra, onde as companhias autorizadas usavam práticas rígidas para limitar os beneficiários a um pequeno círculo de íntimos, todos cuidando dos interesses do grupo e usando práticas de monopólio para proteger suas posições. Na Holanda, ao contrário, o capital e os riscos eram compartilhados entre um número de investidores o mais amplo possível. No devido tempo, chegou-se à conclusão de que, apesar das ambições concorrentes e das rivalidades entre as províncias, cidades e mercadores individuais, a maneira mais eficiente e poderos e fortalecer o comércio era combinando recursos.” (p. 285)

– E deixando o governo atrapalhar o menos possível.

“Mas foi o inveterado relacionamento da Europa com a violência e o militarismo que lhe permitiu situar-se no centro do mundo após as grandes expedições da década de 1490.” (p. 288)

“A grande ironia, portanto, era que, embora a Europa experimentasse uma gloriosa fase áurea, produzindo uma arte e uma literatura florescentes, e avançasse no esforço científico, era forjada na violência.” (p. 290)

“Em 1500, havia cerca de quinhentas unidades políticas na Europa; em 1900, eram 25. O mais forte devorou o mais fraco.” (p. 290-291)

“Não foi, portanto, coincidência que a guerra mundial e o pior genocídio da história tiveram suas origens e sua execução na Europa; foram os últimos capítulos de uma longa história de brutalidade e violência.” (p. 291)

“A frequência e o ritmo das ações de guerra eram diferentes na Europa em relação a outras partes do mundo: nem bem um conflito se resolvia, outro estourava. A competição era brutal e incessante. Nesse sentido, obras seminais como o Leviatã, de Thomas Hobbes, foram essenciais para explicar a ascensão do Ocidente. Só um autor europeu poderia ter chegado à conclusão de que a condição natural do homem era ficar em constante estado de violência, e apenas um autor europeu poderia estar com a razão.” (p. 291-292)

– Essencialismo: não se altera a origem do homem.

“Somos todos diretamente afetados pela política de poder em curso, mesmo estando a milhares de quilômetros.” (p. 554-555)

– É aquela visão de que somos peões nas mãos de poucos que movem mundos em prol de seus interesses inconfessáveis.

“O que tem impressionado nos eventos das décadas recentes é a falta de visão do Ocidente a respeito da história global – do quadro geral, dos temas mais amplos e dos padrões em ação na região. Nas mentes dos estrategistas, políticos, diplomatas e generais, os problemas do Afeganistão, Irã e Iraque parecem distintos, isolados e apenas frouxamente vinculados entre si.” (p. 557)

– Se Frankopan acusa esta turma tarimbada de não ter a menor ideia do que ocorre no Oriente Médio, imagine a orda das redes sociais que fica grasnando opinião sobre qualquer conflito armado que ocorra na região.

 

Religião

“O comércio abriu as portas para que fé circulasse.” (p. 52)

“(…) a tolerância religiosa andava de mãos dadas com o crescimento econômico.” (p. 78)

– Embora a citação se refira à difusão do budismo, cabe às demais religiões, não? Embora a segunda se refira à difusão do cristianismo na Pérsia, cabe a muitos outros lugares, não? Esqueci onde li (talvez um autor liberal? talvez Nassim Taleb?) que o comércio faz mais bem à tolerância que qualquer política identitária, uma vez que o dinheiro não tem preconceitos.

“Na realidade, mesmo na Idade Média havia muito mais cristãos na Ásia que na Europa.” (p. 77)

– Inclusive também porque havia menos gente.

“Poucos entenderam melhor que os budistas a importância de tornar públicos e visíveis certos objetos que apoiassem as declarações de fé.” (p. 82)

– Poucos livros foram tão instrutivos pra eu compreender o poder sensorial das religiões como BrandSense de Martin Lindstrom. E poucos explicaram tão bem como as marcas se transformaram em religiões.

“O nome dessa nova cosmologia [o islamismo] não refletia o quanto era revolucionária. Inicialmente relacionado às palavras para segurança e paz, o termo ‘islã’ dava pouca indicação do quanto o mundo estava prestes a mudar. A revolução havia chegado.” (p. 84)

“A ascensão do islamismo teve lugar num mundo que havia visto cem anos de tumulto, discórdia e catástrofes.” (p. 85)

– Parece que ideias poderosas sempre surgem depois de períodos perturbadores.

“As muitas palavras tomadas de empréstimo do grego, aramaico, siríaco, hebreu e persa no Corão, o texto de registra as revelações transmitidas a Maomé, indicam um meio poliglota, onde era importante enfatizar as similaridades, e não as diferenças.” (p. 97)

– Parece-nos estranha a ideia de um mundo que sinaliza suas similaridades cooptando várias línguas porque hoje apenas através do inglês é possível sinalizá-las.

“Em um mundo onde a religião parece ser a causa dos conflitos e do derramamento de sangue, é fácil deixar de ver as maneiras pelas quais s grandes fés aprendem e tomam emprestados elementos umas das outras. Para o olhar moderno, o cristianismo e o islã parecem diametralmente opostos, mas, nos primeiros anos de sua coexistência, as relações eram não só pacíficas como de um caloroso incentivo. Na verdade, o relacionamento entre o islã e o judaísmo era ainda mais notável por sua mútua compatibilidade. O apoio dos judeus no OrienteMédio foi vital para a propagação e a difusão da palavra de Maomé.” (p. 101)

– Fazendo um paralelo com mercado nascentes e em expansão, me parece que ocorre a mesma situação: inicialmente todos se ajudam, porque tudo ainda está por ser conquistado e formado, e quando mercado se consolida, formam-se as rivalidades porque sobra pouco pra onde expandir; então, a polarização é que garante a sobrevivência de um ou outro. Até que venha um terceiro mudando tudo. Um dos competidores se aproxima do terceiro, na esperança de que a associação esmague o concorrente, mas não percebe que esta associação durará apenas o suficiente para o mercado mudar em um sentido no qual ele não conseguirá mais acompanhar.

“Muçulmanos haviam tomado um mundo que era bem ordenado e salpicado por centenas de cidades de consumidores – em outras palavras, cidadãos tributáveis.”

– O trecho se refere ao império abássida conquistando centros econômicos do Império Romano e da Pérsia a partir de 750.

“Enquanto o mundo muçulmano deleitava-se com inovações, progresso e novas ideias, boa parte da Europa cristã atrofiava-se na melancolia, incapacidade pela escassez de recursos e falta de curiosidade.” (p. 121)

“É praticamente o oposto do mundo da maneira que o vemos hoje: os fundamentalistas não eram os muçulmanos, mas os cristãos; os detentores de uma mente aberta, curiosa e generosa estavam baseados no Oriente – e com certeza não na Europa.” (p. 121)

– O livro que citei acima – A casa da sabedoria – demonstra este contraste formidavelmente.

“Ironicamente, a base para esse crescimento na era das Cruzadas apoiava-se na estabilidade e nas boas relações entre muçulmanos e cristãos, tanto na própria Terra Santa quanto em outras partes.” (p. 170)

– Por isto que dizem que o melhor tratado de paz é um tratado de livre comércio.

“A luta, a violência, o derramamento de sangue eram glorificados, desde que pudessem ser considerados justos. Essa talvez tenha sido uma das razões pelas quais a religião se tornou tão importante: não poderia haver melhor justificativa para a guerra do que estar em defesa do Todo-poderoso.” (p. 289)

– Yes, indeed.

 

Escravizados

“Pesquisas recentes sugerem que, no auge de seu poder, o Império Romano requeria de 250 mil a 400 mil novos escravos por ano para manter sua população escrava.” (p. 143)

“Escravos no mundo muçulmano eram tão ubíquos – e silenciosos – como em Roma.” (p. 143)

“Foi a venda de escravos que pagou as importações que abarrotaram a Europa no século IX.” (p. 145)

– A escravidão, infelizmente, é tão antiga quanto o mundo.

 

Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2024

FRANKOPAN, Peter. O coração do mundo: uma nova história universal a partir da Rota da Seda, o encontro do Oriente com o Ocidente. Tradução Luis Reyes Gil. São Paulo: Planeta, 209.

 

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