O Campo – Lynne McTaggart

Postado às 19:41 do dia 07/05/12

Este livro foi indicado durante um curso de aromaterapia em que experimentamos um círculo de constelação seguido de “socorro” aromático. A consteladora foi quem indicou o livro e acabei comprando, para entender melhor esta história sobre campo de ponto zero. Gostei da leitura, interessante. Não é dos assuntos que mais me apaixonam, mas tem boas partes, que trago aqui, além do que a gente deixa de ser tão ignorante sobre a fronteira.

Antes das melhores partes, porém, deixe-me comentar sobre a epígrafe do livro. Quão inspiradora e inusitada pode ser uma epígrafe? Eu, que gosto muito de escrever, sempre estou colecionando epígrafes para um novo texto. Mas esta que a autora Lynne McTaggart escolheu me pareceu inimitável no seu gracejo, robustez, meiguice e pertinência. Ela abre o livro citando Dorothy, de O Mágico de Oz: “Agora eu sei que não estamos no Kansas.”

 

Campo de Ponto Zero

– Uma das coisas difíceis é explicar conceitos de física; piorou se for da quântica. Na passagem abaixo, gostei muito de uma metáfora para explicar a energia do campo de ponto zero. Veja:

“Mas se somarmos todas as partículas de todas as variedades no Universo que estão constantemente adquirindo vida e deixando de existir, nos vemos diante de uma vasta e inexaurível fonte de energia – igual ou maior do que a densidade de energia em um núcleo atômico – discretamente posicionado em segundo plano no espaço vazio à nossa volta, como um pano de fundo difuso e sobrecarregado. Foi calculado que a energia total do campo de ponto zero excede toda a energia da matéria por um fator de 1040, ou 1 seguido de 40 zeros. Como descreveu certa vez o grande físico Richard Feynman ao tentar explicar uma ideia dessa magnitude, a energia em um único metro cúbico é suficiente para ferver todos os oceanos do mundo.” (p. 49)

– Você pode entender o conceito através desta ideia de “ferver os oceanos” ou imaginar que esta força é como a do cubo Tesseract do filme Os Vingadores. That´s big, entendeu?

 

 

50%

– Uma das coisas que este livro traz são vários experimentos feitos com humanos que conseguiram desviar a probalidade de 50% de algo ocorrer. Todos estes experimentos são muito interessantes, pena que não se fala mais neles.

“O que a interpretação de Copenhagen [princípios da mecânica quântica que falam da imprecisão da matéria] afirmava era que a aleatoriedade é uma característica fundamental da natureza.” (p. 141)

– Ainda bem que este livro foi escrito, senão o que a gente faria com tantos conceitos queridos nossos, como karma, causalidade, sincronicidade, né?

 

 

observador

“Se o observador humano estabilizava o elétron em um estado definido, em que grau ele influenciava a realidade em grande escala? O efeito do observador sugeria que a realidade só emergia de uma sopa primordial como o campo de ponto zero com o envolvimento da consciência viva. A conclusão lógica era que o mundo físico só existia em estado concreto enquanto estávamos envolvidos nele.” (p. 143)

– Ufa! (vide acima)

“Quando desejamos ou pretendemos algo, ato que requer uma grande uniformidade de pensamento, a nossa própria coerência pode ser, em certo sentido, contagiante.

No nível mais profundo, as pesquisas da PEAR também levam a crer que a realidade é criada por cada um de nós apenas pela nossa atenção. No nível mais baixo da mente e da matéria, cada um de nós cria o mundo.” (p. 167)

– Uma das coisas legais deste livro é o tom de saga científica, o relato de como cientistas outsiders foram construindo experimentos para provar que somos um campo que interfere em outros campos. PEAR é a sigla para um projeto que existiu na Universidade de Princeton, EUA, por volta de 1970, para estudar desvios causados pela intenção humana em máquinas que geravam eventos aleatórios. Se você é do tipo que gosta do lado B da ciência, vai se entusiasmar muito com o livro, fora que ele lhe dará o verniz científico de que precisa para falar a seus alunos e clientes sobre a validade das terapias ditas energéticas.

 

 

Sonhos

– Num dos experimentos que Lynne nos relata, foi avaliada a capacidade de uma pessoa de influenciar os sonhos de outra naquele mesmo instante. Para ilustrar esta experiência, a autora traz uma história sobre os índios Achuar e Huaorani da Amazônia que é muito curiosa. Veja:

“Nas profundezas das florestas tropicais do Amazonas, os índios Achuar e Huaorani estão reunidos para um ritual cotidiano. Todas as manhãs, cada membro da tribo desperta antes do amanhecer, e quando se reúnem naquela hora crepuscular, enquanto o mundo explode na luz, compartilham seus sonhos. Não se trata simplesmente de um passatempo interessante, uma oportunidade para contar histórias: para o índios Achuar e Huaorani, o sonho não pertence apenas à pessoa que sonha, mas ao grupo, e a pessoa que sonha é somente o instrumento do qual o sonho decidiu se apropriar para ter uma conversa com a tribo inteira. Eles encaram os sonhos como mapas para as horas em que estão despertos. É um prognosticador do que está por vir para todos. Nos sonhos, eles entram em contato com os ancestrais e com o resto do Universo. O sonho é a realidade! A vida desperta é a falsidade”!” (. 169)

– Não sei quanto a você, mas os sonhos assim me parecem muito mais legais que naquelas teorias freudianas.

 

 

Crianças

“Pesquisas de EEG sobre o cérebro de crianças com menos de cinco anos mostram que ele funciona permanentemente no modo alfa – o estado de consciência alterado no adulto – e não no modo beta costumeiro da consciência amadurecida. As crianças estão abertas a uma quantidade bem maior de informações disponíveis no Campo do que o adulto típico. Na verdade, a criança vive em um estado de permanente alucinação. Se uma criança pequena afirma se lembrar de um vida passada, ela talvez não seja capaz de distinguir suas experiências das informações de uma outra pessoa que estão armazenadas no campo de ponto zero.” (p. 186)

– Não é mais interessante fazermos uma terapia de regressão sabendo que vamos acessar informações do Campo que estão ressoando em nós do que simplesmente extratos de vidas supostamente passadas? Outra coisa: não é hilário descrever este estado de consciência de crianças menores de 5 anos como alucinação? Na verdade, se a gente se lembrar disso, fica bem mais fácil não nos estressarmos com a educação deles. Quando eles fizerem algo surreal, que vai nos deixar de cabelos em pé e com vontade de pô-los de castigo, lembremos: é só alucinação. E vamos continuar com nosso chá da tarde.

 

 

Plantas

– As pessoas que me acusam de ser insensível ao preferir matar uma planta a matar um animal para eu manter minha dieta vegetariana têm, em parte, razão: as plantas sentem. Veja:

“Backster [um cientista especialista em polígrafos detectores de mentiras de Nova York citado no livro] experimentara queimar a folha de uma planta e em seguida mediu a reação galvânica, da mesma maneira como registraria a reação da pele de uma pessoa que estivesse sendo testada para a verificação de uma mentira. Curiosamente, a planta registrou a mesma reação de estresse aumentado que um ser humano exibiria se a sua mão tivesse sido queimada. O que é ainda mais fascinante, no que dizia respeito a Hal [outro cientists que acompanhava este experimento], era que Backster queimara então a folha de uma planta próxima que não estava ligada ao equipamento. A planta original, que ainda estava conectada ao polígrafo, registrou novamente a reação de ‘dor’ que registrara quando suas próprias folhas haviam sido queimadas.” (p. 192)

– Provocação: se as plantas sentem, imagine os animais!

 

 

Pensamento positivo

– Um das tentativas deste livro é mostrar como cientistas ligados às teorias quânticas estão querendo mostrar que a realidade é interdependente do que achamos que ela é. Sobre premonições – que eu acho que também se aplica à questão de como funciona o pensamento positivo –, o livro traz esta contribuição:

“A terceira possibilidade [para explicar a pré e retrocognição], que talvez faça mais sentido, é que tudo no futuro já existe em algum nível subjacente na esfera de puro potencial, e que quando vemos algo no futuro, ou no passado, estamos ajudando a dar-lhe forma e existência, exatamente como fazemos com uma entidade quântica no presente no ato da observação. Uma transferência de informação por meio de ondas subatômicas não existe no tempo ou no espaço, mas está, de algum modo, espalhada e é onipresente. O passado e o presente são indistintos em um vasto ‘aqui e agora’, de modo que o nosso cérebro ‘capta’ sinais e imagens do passado e do futuro. O nosso futuro já existe em um estado nebuloso que podemos começar a realizar no presente. Isso faz sentido se levarmos em consideração que todas as partículas subatômicas existem em um estado de todos os potenciais a não ser que sejam observadas – o que incluiria alguém pensando a respeito delas.” (p. 230)

 

 

Saúde

“É possível que a doença seja um isolamento: uma falta de ligação com a saúde coletiva do Campo e da comunidade.” (p. 256)

– Isto é profundo, mas apenas se você quiser enxergar a profundidade.

“Em pesquisas sobre a longevidade, as pessoas que vivem mais tempo com frequência são aquelas que não apenas acreditam em um ser espiritual superior, mas também as que têm o mais forte sentimento de pertencer a uma comunidade.” (p. 256)

– Não sei como encaixar isso na questão de que nunca vivemos tanto e fomos tão egoístas como na atualidade…

“Isto pode significar que a intenção do agente de cura era tão importante quanto o seu tratamento. O médico agitado que gostaria que o paciente cancelasse a consulta para poder ir almoçar, o médico recém-formado que passou três noites sem dormir e o médico que não gosta de determinado paciente podem exercer um efeto prejudicial. Tambem pode significar que o tratamento mais importante que um médico pode ministrar é desejar intensamente a saúde e o bem-estar do paciente.” (p. 256)

– Farei um relação inusitada deste trecho com a questão do futebol no Brasil. Futebol no Brasil – e isto é um clichê – é um esporte de talentos individuais. Nunca reverenciamos um técnico, a menos que ele ganhe o campeonato. Não temos aqui nesta terra a tradição de reverenciar técnicos, muito menos outro esporte. A exceção talvez seja Bernadinho, do vôlei. Quando olho para a cultura esportista norte-americana, sobressai a importância que as pessoas dão a técnicos, que acabam sendo celebridades tanto quanto jogadores. Também sobressai o quanto pessoas comuns se dedicam a ser técnicas de times mirins, sejam times de beisebol, basquete ou futebol americano. Acho que a total falta de ânimo que os brasileiros têm com seus médicos é que, por aqui, ninguém quer ser técnico – aquele agente de cura de um time, que o anima e quer que ele vença –; todos querem ser Ronaldinhos, fazer uma carreira fulgurante e depois serem convidados para jantares protocolares.

 

MCTAGGART, Lyne. O campo: em busca da força secreta do universo. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.

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