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Medos, fobias e pânico – Lourdes Possatto

Postado às 14:17 do dia 11/07/12

E porque já vivi isso na pele, resenho o livro. Quando o li? Sim, tenho anotado: novembro de 2010. Pleno tratamento. Alta? A alta que me dei foi quando saí dirigindo sozinha, pela primeira vez na vida, um QQ de câmbio mecânico pelas cercanias do Juvevê, Cabral e Bacaccheri em Curitiba, em setembro do ano passado. Fazia vinte anos que tinha tirado a carteira de motorista e a trancafiado na gaveta. Achei que seria pra sempre. Surpreendentemente pra mim, não foi: dirijo. Sou eu mesma quem dirijo. O medo merece ser terapeutizado.

Medos, Fobias e Pânico é o livro da mais que experiente psicóloga Lourdes Possatto, autora de vários outros títulos do gênero. Uma das coisas interessantes que o livro traz é uma lista de fobias comuns e seu significado. Assim, se você tiver, por exemplo, medo de adoecer, está lá um possível significado; medo de altura, também; medo de avião, de comer, de dentista… tudo lá.

Abaixo vão as melhores partes, citadas e comentadas.

 

Medo normal x medo neurótico

“Entretanto, precisamos diferenciar os medos que nos preservam dos medos neuróticos, que nada mais são do que a repressão de potenciais de nossa essência.” (p. 26)

– Toda santa vez que você vai ler sobre medo, te contam a história de que o estresse é uma reação perfeitamente natural do corpo, blá-blá-blá. O livro tem essa parte também, que vem logo no início. É um preâmbulo necessário, senão a gente acaba achando que é a única que sente medo na Terra. Mas o diferente deste livro é que Lourdes não é uma psicóloga comum: ele lê Osho, conhece xamanismo, cristaloterapia, prescreve florais de Bach e faz biodança. A frase acima tem muito mas muito a ver com o fundamento de outro livro bacana para entendermos nossos medos, que já resenhei aqui, O Lado Sombrio dos Buscadores de Luz. É na sombra que encontramos as oportunidades mais reluzentes.

“Assim, um aspecto a ser destacado é que o medo da morte está no fundo das ideais da maioria das pessoas, por sua conexão com a neurose, pois o neurótico tem tanto medo de viver quanto de morrer. Afinal, viver plenamente é arriscar morrer, e a crença, no processo neurótico, é de que estar aberto à vida é perigoso.” (p. 36)

– Todos fazemos a mesma pergunta, “quem sou eu?”. Clarice Lispector escreveu, em A Hora da Estrela:

“Se tivesse a tolice de se perguntar ‘quem sou eu’?’ cairia estatelada e em cheio no chão. É que ‘quem sou eu?’ provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto.”

– Então só posso concluir que sobreviver à indagação é questão de encará-la de frente, como o bicho-papão de nossa infância.

“Entenda que uma crise de ansiedade generalizada ou de pânico não aparece do nada. O que acontece é que a pessoa vai somando dentro de si mesma tantos pensamentos de preocupação, cobranças, catástrofes, que um último pensamento pode desencadear a crise.” (p. 135-136)

– Antes tínhamos muitas distrações. Que temos agora? Todas as nossas distrações nos levam ao hiperfoco: cinema, ouvir música, computador, livros. A única coisa que distrai, verdadeiramente, é mexer com o corpo. Mexa-se. Não estou falando de fazer academia, estou falando de mexer o corpo do que jeito que você achar melhor. No yoga, não existe meditação sem asana. É uma grande lição: a quietude vem apenas depois de movimentar o corpo.

“Segundo Reich, não podemos falar em perder o medo de viver enquanto não nos libertarmos de nossa postura perante a vida. Se olharmos para o nosso corpo, ele com certeza nos mostra nossa postura defensiva através de músculos cronicamente tensos e contraídos. Cada vez que a natureza é podada, ocorre uma tensão e uma contração. O somatório de tensões acaba gerando a tensão crônica.” (p. 214)

– Certa vez meu marido, que é psicólogo com especialização em Bioenergética, participou de um congresso famoso na área e teve oportunidade de perguntar pra um psicoterapeuta bambambam como que podia ser que, em se tirando a tensão, retira-se também o trauma. Não lembro o nome do cara, infelizmente. Mas lembro de como meu marido me contou a resposta dele – e sei que é verdade: “Tirando”. Tem coisas que se dão como se diz e é assim mesmo.

 

 

Projeções

“Projeções são conteúdos normalmente negados ou bloqueados, que acabam sendo percebidos fora de nós, em contextos externos, situações ou no comportamento de outras pessoas.” (p. 69)

– Não há conceito mais desmoralizado pela “pseudopsicologia” feita em botequins que a projeção. Então achei importante colocar aqui a definição de uma psicóloga de fato.

“Todos nós sabemos que a ênfase de nossa cultura recai sobre o fazer, sobre o conseguir resultados, comprometendo as pessoas mais com o sucesso do que com sua autenticidade.” (p. 114)

– Podemos facilmente concordar com essa frase, mas tenha em mente que, para muitas e muitas pessoas, não há vida autêntica sem sucesso.

 

 

A terapia

“A aceitação [da realidade] é muito importante justamente para que você possa se questionar sobre o que realmente gostaria de fazer apesar de as coisas e pessoas serem como são. O ato de aceitar conduz à ação pura e genuína.” (p. 66)

– Vejo tanta coisa compactada nesse parágrafo! Vejo Bhagavad Gita, pois Arjuna age quanto aceita que lá na batalha estão parentes e amigos. Vejo as lições que a numerologia pitagórica nos traz, o “6” que põe culpa em todos, o “8” que não a põe em ninguém; o “4” que se aporrinha com tudo, o “9” que não conhece o significado de aporrinhação; “o “2” que esquece de si e o “1” que nunca se incomoda do outro.

“Assim, reiterando, note que para atingirmos a real condição de maturidade e equilíbrio emocional, precisamos perceber a realidade, que existe independentemente do nosso controle ou fantasia, e que também não criamos. Cada um é como é por conta de seus próprios conteúdos emocionais. Alguém não age assim ou assado porque eu quero, mas do jeito que consegue agir segundo seus próprios parâmetros. Logo, faz parte do ponto de equilíbrio não criar muitas expectativas sobre ninguém.” (p. 66)

– Não custa lembrar. Minto, custa sim: a gente paga sessão atrás de sessão pra ouvir o que não alcança mudar: somos controladores.

“Perceba que vai sentir o medo porque já convive com ele, você é responsável por tê-lo criado no seu momento atual e, é claro, por tê-lo alimentado por todo o tempo em que vem agindo da mesma forma.” (p. 90)

– Quem faz terapia conhece a pergunta: o que você ganha com isso? Responda e descubra-se.

“ (…) porém, o novo representa a mudança que vai oferecer um contexto melhor que o atual.” (p. 97)

– Perceba, ela disse “contexto”, não disse situação. Significa que oferecerá o remédio certo praquele momento.

“Se você tirar da cabeça a ideia de que tem de acertar, percebendo que acertar não é uma obrigação, mas sim um querer, você perceberá também que tudo o que faz é o seu melhor, a cada momento. Agindo assim, não assumirá culpas, pois o culpado é aquele que comete erros propositais; pelo contrário, assumirá responsabilidade, o que é bem diferente. Responsabilidade é a habilidade de gerar respostas, e todos nós, a cada dia, estamos aprendendo, porque esse é o caminho natural.” (p. 104)

– Como sempre, a mudança de perspectiva ajuda um bocado. Terapia é isto mesmo: reescrever a história de um jeito com dê happy end. Sem ironia.

“O medo do novo também está relacionado com o medo de decidir. A indecisão é uma forma de preservar o indivíduo para não agir, afinal, poderá correr o risco de errar, arrepender-se, e o que acontecerá, então?”

– Uma das coisas mais surpreendentes que os programas de pós-graduação em administração e as revistas de aconselhamento de carreira propalaram foi a máxima de que desafio é bom, que todo mundo bem sucedido gosta de desafio, que a qualidade maior é gostar de desafio. Balela! Não caia neste engodo. Desafio é um saco. Não vá para uma entrevista – se você tiver menos de 30 anos – dizendo que gosta de desafios. Do que você gosta é de novidades, coisa bem diferente. Diga que gosta de novidades e seu entrevistador o olhará com mais compaixão e o contratará por perceber, em você, a honestidade do autoconhecimento – esta, sim, característica rara em pretensos executivos.

“O medo da vida, na realidade, reflete o afastamento do indivíduo da sua natureza.” (p. 112)

– Tem razão, tem razão. Pegue um cara realizado, ele, decerto, não terá medo.

– Lourdes traz uma citação de Alexander Lowen, um dos pais da bionergética. Veja:

“Quando a pessoa para de lutar contra si mesma, perde sua neurose (conflito interno) e conquista paz de espírito. O resultado é uma atitude diferente, e obviamente isso a levará a um destino diferente, ou seja, essa pessoa terá coragem para viver e morrer e conhecerá a plena realização da vida.” (p. 124)

– Toda terapia consiste em se aceitar.

Dica importante diante de ideias de medos: respire fundo, sinta e diga para si mesmo ‘Neste momento, nada está acontecendo e está tudo bem. Estou bem aqui e agora!’” (p. 136)

– Funciona!

 

 

Psicoterapia preventiva

“Quando uma criança aprende a fazer algo, não deveríamos mais fazer por ela justamente para que ela continue ganhando autoconfiança sobre seus potenciais e capacidades.” (p. 94)

– Ai, cacilda, meus filhos serão todos neuróticos? Mas a pergunta difícil é: quando saber que já sabem? Se sempre me ajudaram a saber que sei, como saber? (Ah, tô fazendo graça, esqueça.)

 

revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2012

POSSATTO, Lourdes. Medos, fobias e pânico: aprenda a lidar com estas emoções. São Paulo: Lúmen, 2010.

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