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Eugênia Grandet – Honoré de Balzac

Postado às 01:50 do dia 02/09/12

Mais um Balzac (1799-1850, França) que deve ser lido, esta pequena joia de romance que delata a mesquinharia e a cobiça. Eugênia Grandet, lançado em partes em 1833 e, em volume, em 1834, foi integrado à Comédia Humana dentro da seção Cenas da Vida Provinciana, quer dizer, fora das histórias que se passam em Paris. Em sua época, ficou tão famoso quanto O Pai Goriot e A Mulher de Trinta Anos e deve ter dado algum alívio financeiro ao sempre endividado autor.

A história é simples. O jeito de contar que é magnífico. Eugênia é filha única do Sr. Grandet, um rico especulador da cidade de Saumur que alcançou “o novo título de nobreza que nossa mania de igualdade não fará desaparecer nunca: tornou-se  o mais tributado da região.” Pai Grandet é mesquinho, avarento e esconde sua fortuna da esposa, Sra. Grandet, da filha e também da fiel Nanon, a empregada doméstica, “talvez a única criatura humana capaz de aceitar o despotismo daquele amo.” Já a mãe, descrita como “uma mulher seca e magra, amarela como um marmelo, desajeitada, lerda; uma dessas mulheres que parecem feitas para ser tiranizadas” nos lembra os casos em que se deposita todas as esperanças nos filhos. Pesado fardo, portanto, o que coube à Eugênia, rapariga prestes a completar 23 anos, disputada pelo dote, provida tanto de ingenuidade quanto de sonhos, que vem a se apaixonar, claro, por um mequetrefes, seu primo Carlos Grandet, um dândi de Paris que recebe, como herança, as dívidas do pai.

O desenrolar da trama é o conflito de interesses entre esses personagens: uma filha que quer se casar com o primo, o primo que quer se casar com a fortuna dela; um pai que impede que isso ocorra a qualquer custo, uma mãe que padece do sofrimento da filha. A empregada? Bem, essa talvez seja a única que escapa a um destino menos cruel. É algo de que Balzac se compraz: premiar com um pouco de dignidade aqueles a quem a vida não lhes deu chance de nenhuma. Viva Balzac!

 

 

Corrupção

“Há um duelo constante entre o céu e os interesses terrestres.” (p. 14)

– Não há virtude embaixo do céu.

“Só a inocência é capaz de tais ousadias. Instruída, a virtude calcula tanto quanto a vício.” (p. 105)

– É privilégio das crianças não ser corruptas.

“A lisonja nunca emana das grandes almas: é o apanágio dos espíritos pequenos, que conseguem diminuir-se ainda mais para entrar na esfera vital da pessoa em torno de quem gravitam. A lisonja subentende um interesse.” (p. 198)

– Putz grila, né?!

 

 

Como se tornar um milionário

“De resto, quatro frases, tão exatas quanto fórmulas algébricas, lhe serviam habitualmente para abarcar e resolver todas as dificuldades da vida e dos negócios: ‘Não sei, não posso, não quero, veremos isso’.” (p. 21)

– Napoleão Hill escreveu o sétimo livro mais lido no mundo: Pense e Enriqueça, lançado em 1937, que vendeu 30 milhões de cópias nos últimos 50 anos. Ele entrevistou milhares de pessoas e centenas de milionários, durante 20 anos, para chegar às leis do sucesso. Tivesse lido Eugênia Grandet e as teria deduzido, com bem menos trabalho, do pai dela: se perguntarem quanto você ganha, diga não sei; se perguntarem se pode emprestar dinheiro, responda não posso; se perguntarem se quer comprar, responda não quero; se perguntarem quanto você deve de impostos, responda veremos isso. Pronto! Rich with a few sentences!

“Os avarentos não creem numa vida futura, o presente é tudo para eles.” (p. 102)

– Coitado do Balzac. Ele era tudo, menos avarento, e passou a vida inteira sonhando com quando pudesse parar de escrever para apenas “ser rico”.

 

 

Mau destino

“O infortúnio gera a igualdade. A mulher tem em comum com o anjo o fato de que os seres desgraçados lhe pertencem.” (p. 112)

– Costuma-se criticar Balzac de certa visão de mundo misógina. Discordo, mas compreendo. Nossa sensibilidade não tolera que uma verdade seja dita pela boca de um escritor, quando ela pode ser dita pela de um psicólogo.

 

 

revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2012

 

 

BALZAC, Honoré de. Eugênia Grandet. Trad. de Moacyr Werneck de Castro. São paulo: ABril Cultural, 1981.

 

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