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Eclipse – Stephenie Meyer

Postado às 02:04 do dia 19/01/13

Se Crepúsculo é o livro de Bella Swan, e Lua Nova o de Jacob Black, Eclipse é o de Alice Cullen. Na saga Crepúsculo, da autora Stephenie Meyer (1973), embora a história gire em torno de um vampiro – Edward Cullen – , ficamos esperando pelo momento em que ele realmente vai dominar a cena. Até aqui, mesmo sua irmã consegue ser mais interessante.

O terceiro volume da série traz um confronto direto entre os dois pretendentes da humana Bella: o lobisomem Jacob e o vampiro Edward. Traz também (aleluia!) o desfecho da vingança que uma vampira ruiva louca perpetrou desde o primeiro livro contra Bella. E termina anunciando uma novidade: seu casamento. É muita coisa pra um eclipse só.

Com tantas decisões atormentando a cabecinha de Bella, e mais sua eterna lamúria e falta de auto-estima, ficou fácil para essa personagem miúda de Alice Cullen roubar a banca. Na versão cinematográfica, o papel dela foi devidamente controlado. Afinal, se algum papel tinha que brilhar teria que ser o de Kristen Stewart, a protagonista, para justificar a escalada de seu cachê de 2 milhões de dólares, no primeiro filme, para 12,5 milhões, no último.

Voltando ao livro, há inúmeros motivos para amarmos Alice Cullen em Eclipse: um, ela parece uma fadinha; dois, ela tem um Porsche amarelo; três, ela se veste bem; quatro, ela organiza festas; quinto, ela nunca tem dramas de consciência; e, sexto, ela leva Edward, seu irmão vampiro, no bico. A sexta qualidade é minha preferida.

Se uma personagem secundária acaba chamando mais atenção que a principal é porque alguma coisa desandou. Tenho uma hipótese para isso: apesar da história contada por Stephenie ser boa, a autora não domina a voz narrativa, e essa fraqueza apareceu com bastante força em Eclipse. Bella é uma narradora duvidosa, daquelas a quem resistimos aderir, do tipo que oscila entre ter uma voz própria e se confundir com uma 3ª pessoa onisciente pairando em todo o romance. Esse ruído narrativo, irritante, somado ao uso constante do pretérito perfeito, sem modulação nenhuma na trama que Bella narra, tudo isso faz com que prestemos atenção em Alice – que é quando o presente se instaura na trama. Muito curioso, aliás, porque a característica de Alice é enxergar o futuro. Infelizmente, a contradição não é explorada a favor da narrativa. Tampouco a favorece  o Epílogo, narrado em primeira-pessoa por Jacob. Uma salada! Mas talvez salada seja o tom adequado: lidamos com vampiros que são vegetarianos.

Abaixo selecionei algumas partes interessantes. Acrescente sal, se preferir.

 

 

Vegetarianismo

– Logo no início do romance existe um diálogo entre Jacob e Bella que tem um desfecho interessante. Apenas alguém muito desantenado não perceberia como a saga discute as opções que temos frente a nos alimentarmos ou não com carne. Embora eu não tenha encontrado na internet informação oficial de que a autora Stephenie Meyer seja vegetariana, isso não impediu que a organização PETA2 (uma espécie de divisão jovem da PETA.org) desse o Libby Awards de 2008 ao filme Crepúsculo como o mais amigável para os animais naquele ano. O diálogo em questão mostra um Jacob especista, questionando o amor que pode haver entre espécies diferentes. Não estamos falando de taras sexuais – evidente! – , mas o amor entre espécies é a própria razão do veganismo. Leia o diálogo em que Jacob questiona por que Bella ama um vampiro:

“ – Eu o amo. Não porque ele é bonito ou porque é rico! – Cuspi a palavra para Jacob. – Preferia que não fosse nem uma coisa nem outra. Assim o abismo entre nós seria um pouquinho menor… Porque ele ainda seria a pessoa mais adorável, altruísta, inteligente e decente que já conheci. É evidente que eu o amo. É tão difícil entende isso?

– É impossível entender.

– Então me explique, por favor, Jacob. – Destilei todo o meu sarcasmo. – O que é um motivo válido para alguém amar uma pessoa? Já que, ao que parece, estou fazendo isso errado.

– Acho que o melhor ponto de partida seria procurar em sua própria espécie. Em geral funciona.” (p. 87)

 

 

Anos de luta

– Beleza é um ponto importante no livro. Você lê o diálogo acima, as razões por que Bella ama Edward, e fica claro que, fosse o moço feio, ela não teria dado a mínima. Então vem a outra irmã vampira dele, Rosalie, e descreve seu ideal de vida perfeita como tendo 18 anos e sendo linda. Veja:

“ – Eu vivia num mundo diferente do seu, Bella. Meu mundo humano era um lugar muito mais simples. Era o ano de 1933. E tinha 18 anos e era linda. Minha vida era perfeita.” (p. 118)

– É. Anos de luta feminista pra um espelho turvar a razão. Pra piorar, Bella está surtando com o fato de ser 2 anos mais velha que Edward, que não envelhece fisicamente. Ai, a juventude! Só depois que fica velha é que quer namorar alguém mais jovem.

 

 

Auto-crítica

– Gosto demais quando Bella se enxerga exatamente como é. Pena que ela não se leva a sério. Veja com que primor ela deduz o que os irmãos de Edward gostariam de fazer depois de passar um dia inteiro com ela:

“ – Não vai ficar sozinha nem por um segundo – prometeu Edward ao me levar para a casa de Charlie. – Sempre haverá alguém lá. Emmett, Alice, Jasper…

Eu suspirei.

– Isso é ridículo. Eles vão ficar entediados, terão de me matar eles mesmos só para ter o que fazer.” (p. 154)

– Outro lampejo de lucidez:

“Eu era egoísta, e era nociva. Eu torturava as pessoas que amava.” (p. 370)

 

 

De lobo a bobo, e a redenção

– Apenas o fato de ter crescido fisicamente até a idade de 25 anos justifica um lobisomem de 17 se declarar como se tivesse 45. Leia a declaração de Jacob a Bella:

“ – Estou apaixonado por você, Bella – disse Jacob numa voz segura e firme. – Bella, eu te amo. Quero que me escolha, e não ele. Sei que não sente o mesmo, mas preciso dizer a verdade, assim você saberá quais são suas opções. Eu não quero que um mal-entendido nos atrapalhe.” (p. 236)

– A maturidade de Jacob realmente é surreal. Veja por que ele insiste em lutar pelo amor de Bella:

“[…] Há de fato algo de irresistível numa causa perdida.” (p. 238)

– Pena que a dose fique exagerada e a autora comece a tratá-lo como um bobo. Leia o que ele fala sobre a raiva que Bella lhe dirige:

“ – Odeio você, Jacob Black.

– Isso é bom. O ódio é uma emoção apaixonada.” (p. 240)

– Dá-nos paciência! Mas então Jacob faz algo que o redime de toda tolice: ele lambe Bella:

“O pelo era, ao mesmo tempo, macio e grosso, e quente em minha pele. Passei  os dedos por ele com cuidado, sentindo a textura, afagando seu pescoço onde a cor escurecia. Não percebi que eu tinha chegado tão perto; de repente, Jacob lambeu meu rosto, do queixo ao couro cabeludo.

– Ai! Que nojo, Jake! – reclamei, pulando para trás e dando um tapa nele, como eu teria feito se ele estivesse na forma humana. Ele se esquivou e o latido em tosse que saiu entre seus dentes era obviamente uma risada.

Limpei meu rosto com a manga da blusa, incapaz de deixar de rir com ele.” (p. 287)

– A lambida causa a melhor das reações em Bella e nos faz lembrar de por que, de tempos em tempos, ela é uma fofa!

 

 

Curitiba é Forks

– Se Bella estivesse em Curitiba, poderia continuar reclamando do clima do mesmo jeito. No diálogo abaixo, quando ela acha ruim que o frio está intenso às vésperas do verão, me fez lembrar de quando é novembro nesta cidade e ainda vestimos casacos:

“ – Vai nevar nas montanhas – ela o alertou.

– Ai, neve – murmurei comigo mesma. Era junho, pelo amor de Deus!” (p. 331)

 

revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2013

 

MEYER, Stephenie. Eclipse. Tradução: Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2009.

 

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