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Contos de fadas indianos – Joseph Jacobs (org.)

Postado às 11:00 do dia 11/01/13

Entre 2000 e 2002, a Editora Landy comercializou uma coleção de contos tradicionais e de fadas de várias culturas mundiais. Dessa coleção, possuo 11 volumes, hoje, infelizmente, só encontrados em sebos. São livros com contos populares da China, Rússia, Portugal e Índia, histórias e mitos da tradição budista, celta, hindu e mesmo latino-americana. A presente obra, Contos de Fadas Indianos, contempla 29 histórias selecionadas por Joseph Jacobs (1854-1916), folclorista de origem australiana que viveu na Inglaterra e foi um dos responsáveis por conhecermos a narrativa de Os Três Porquinhos.

Muito mais do que apelarem para os ensinamentos espiritualistas do hinduísmo, esses contos falam de princesas e príncipes, rajás, animais encantados e mendicantes que lutam, cada um a seu modo, pela sobrevivência ou por fazer valer suas vontades. A estrutura dos contos é que é similar aos da cultura

europeia, exceto pela graça de os viajantes pelo caminho serem avatares do Buda ou de Krishna, faquires e brâmanes e das tarefas impostas aos príncipes serem tão prosaicas quanto extrair óleo de sementes de mostarda. Outra característica que saltará aos olhos é a falta de tensão nos contos; sim, claro, sempre existe uma princesa a ser restituída ou um espertalhão a ser punido, mas os personagens que começam a história não necessariamente são os que vão terminá-la, pois podem cumprir seu papel no parágrafo seguinte e desaparecerem. Isso é muito curioso e é preciso esquecer um século inteiro de teorias sobre o conto para apreciar essas histórias folclóricas indianas.

Abaixo selecionei algumas passagens graciosas. Espero que curta.

 

 

Reencarnações

“Há muito, muito tempo, o Bodisat nasceu para uma vida inteiramente florestal, de modo que lhe foi destinado ser o gênio de uma árvore que vivia perto de uma lago cheio de lótus.” (em O grou perverso que foi enganado, p. 59

“O Bodhisatta foi laçado em cinco pontos de seu corpo, imobilizado e içado pelo demônio. Ainda assim, não teve medo, nem ficou agitado.

(…)

‘Por que, jovem senhor, não sente nenhum medo da morte?’

‘Por que deveria sentir, demônio?’, replicou. ‘Numa vida, o homem só pode morrer uma vez. Além disso, em meu íntimo há um raio e um trovão. Se você me devorar, não será capaz de digerir-me; isso fará tuas entranhas em pedaços, e o matará. Nesse caso, ambos morreremos. É essa a razão por que não tenho medo de nada.’” (em Por que o peixe riu, p. 214)

 

 

Objetos encantados

“O jovem cavalgou sem parar até que chegou à terceira floresta. Encontrou quatro faquires cujo mestre tinha morrido e lhes tinha deixado quatro objetos: uma cama que podia transportar a pessoa para qualquer lugar que desejasse; uma bolsa que podia dar a quem a possuísse joias, comida e roupas; um vaso de pedra que podia dar a quem o possuísse a água que desejasse, não importando quão longe pudesse estar de uma fonte; um bastão e uma corda, ao qual seu possuidor, caso alguém viesse assaltá-lo ou fazer-lhe guerra, bastaria dizer: ‘Bastão, golpeie todos os homens que estão aqui’, e o bastão os golpearia e a corda os amarraria.” (em Como o filho do rajá conquistou a princesa Labam, p. 16-17)

“ ‘Você não precisará de mais nada com esses objetos em sua posse, pois o anel tem tal poder, que basta pedir-lhe e uma esplêndida mansão imediatamente ergue-se para você, enquanto o pote e a colher lhe fornecem todo tipo das mais raras e deliciosas iguarias.’” (em O anel mágico, p. 107)

“A princesa tinha um balanço encantado, que levava a qualquer lugar onde a pessoa desejasse ir.” (em A cidade de marfim e a princesa encantada, p. 227)

 

 

Qualidades principescas

“ ‘Madrinha, por que não acende uma luz?’

‘Não é preciso’, respondeu. ‘Nosso rei assim decidiu, pois, tão logo anoitece, sua filha, a princesa Labam, sai do palácio, senta-se sobre suas cúpulas e brilha como uma luz acesa, de modo que ilumina todo o país e não há nenhuma necessidade de acender luzes em nossas casas. Fica tudo tão claro como se fosse dia. Todos continuam suas ocupações ainda pela noite.’” (em Como o filho do rajá conquistou a princesa Labam, p. 19)

“ ‘A razão disso é que o rei deste país tem uma filha a quem ele obriga a casar-se todos os dias, porque todos os seus maridos morrem na primeira noite de núpcias. Brevemente todos os jovens deste lugar estarão mortos, e meu filho não demora a ser convocado.” (em Um laca de rúpias por meros conselhos, p. 125)

“ ‘Quando eu me casar, terei um filho. Será tão bonito, que uma beleza com a dele jamais foi vista. Ele terá uma lua na testa e uma estrela no queixo.’” (em O menino com uma lua na testa e uma estrela no queixo, p. 173)

 

 

Animais espertinhos

“ ‘Cordeirinho, cordeirinho, eu vou comer você!’

O cordeirinho deu um pulo brincalhão, e replicou:

Para a vovó vou indo

E logo bem gordinho

Voltarei mais gostosinho

O chacal achou tudo muito razoável, e deixou o cordeirinho passar.” (em O cordeirinho, p. 29)

 

 

Madrastas

“ ‘Há apenas uma coisa que pode me salvar a vida, mas eu sei que você não fará o que é preciso’ – respondeu a rainha. ‘Seja o que for, eu farei’, prometeu o rei. ‘Para salvar minha vida, você deve matar suas sete filhas e colocar o sangue delas sobre minha testa e nas palmas de minhas mãos. A morte delas me salvará.’” (em Punchkin, p. 38)

 

 

Méritos incomuns

“O ourives disse adeus, e, após tantas aventuras, Gangazara retomou seu caminho para o norte. Chegou a Benares e viveu lá por mais dez anos; esqueceu completamente o tigre, a serpente, o rato e o ourives. Depois de dez anos de vida estritamente religiosa, sua casa e seu irmão vieram-lhe à mente. ‘ Tenho agora, seguramente, méritos adquiridos por meio de minhas práticas religiosas. Devo agora retornar para minha casa.’” (em O filho do astrólogo, p. 88)

 

Porque a luz da lua é amena

– Existe um mimo de conto no livro que explica por que razão a luz da Lua é tão suave. Chama-se No dia em que o sol, a lua e o vento saíram para jantar. Sol, Lua e Vento saíram com seus tios Trovão e Relâmpago para jantar, deixando sua mãe, Estrela, sozinha no céu em vigília. Nenhum dos filhos se lembro de trazer um pouco do banquete para a mãe, exceto a Lua, que de cada prato que comia guardava uma porção para a mãe. Quando todos voltaram para casa e Estrela perguntou se tinham se lembrado dela, como castigo, tornou o Sol sempre quente e ardente, de modo que os homens o detestariam e sempre cobririam suas cabeças quando ele aparecesse. Proclamou que o Vento sempre aparecia nas estações quentes e secas para crestar todas as coisas vivas e que, por isso, os homens o evitariam. Mas como sua filha Lua lhe tivesse trazido do que comer, a mãe Estrela proclamou que dali em diante a filha sempre teria uma “suave temperatura, será calma e brilhante. Nenhuma nocividade acompanhará o resplendor de teus raios puros, e os homens sempre te chamarão a abençoada.” Não é um mimo de conto?

 

revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2013

 

JACOBS, Joseph (org.) Contos de fadas indianos. Tradução de Vilma Maria da Silva. São Paulo: Editora Landy, 2001.

(Como o livro está esgotado, tente comprá-lo de algum sebo da Estante Virtual.)

 

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