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A ciranda das mulheres sábias – Clarissa Pinkola Estés

Postado às 03:32 do dia 28/07/13

Autora do já clássico Mulheres que Correm com os Lobos (1996), Clarissa Pinkola Estés (EUA, 1945) lançou, quase dez anos depois, este A Ciranda…, cujo título em inglês é bem mais engraçadinho: The dancing grandmothers (2007). A autora, que é psicanalista e tem ascendência mexicana, recupera no livro a tradição das “abuelitas” (vovozinhas, em espanhol), para mostrar que se transformar em repositório de sabedoria é destino lindo pra toda mulher.

Mas o livro é costurado por mãos trêmulas, vista cansada e memória cambiante. Tem um ritmo que não se parece em nada com o vigor da história que lhe dá título, o do grupo de anciãs que resolve dar uma canseira num noivo para ter certeza de que ele seria bom marido. A princípio, isso pode desestimular, até que você percebe a charada: é próprio de uma velha sábia falar por enigmas. O livro é um enigma. Só o decifra quem é tocado por sua beleza. Vamos lá.

 

 

Avó-ecer

“É verdade que ser literalmente avó de uma criancinha é como se apaixonar, e que o nascimento de crianças pode provocar uma sensação de total enlevo numa pessoa mais velha.” (p. 12)

– Tem uma crônica deliciosa de Humberto Werneck sobre a necessidade de se criar, em língua portuguesa, palavra para expressar o estado de se tornar avô. Leia.

“Uma bênção não faz com que você ganhe alguma coisa, mas, na verdade, faz com que você use alguma coisa – algo que você já possui – , o dom que nasceu junto com você no dia em que você chegou à Terra. Uma bênção é para que você se lembre totalmente de quem é, e faça bom uso da magnitude que nasceu embutida no seu eu precioso e indomável.” (p. 20)

– Vamos resgatar o hábito de pedir a bênção aos avós?

 

 

Envelhecer

“A tarefa crucial da grande mãe é simplesmente a seguinte, e nada além disso: viver a vida plenamente. Não pela metade. Não três quartos. Não um dia, abundância; no outro, penúria. Mas viver plenamente cada dia. Não de acordo com a capacidade do outro. Mas de acordo com a sua própria capacidade, predestinada, de livre-arbítrio, que dá a vida, não que entorpece a vida” (p. 12-13)

– Gosto demais da explicação que viver plenamente não é igual pra todo mundo, mas de acordo com o que a gente acha que é. Muito libertador.

“ ‘Quando uma pessoa vive de verdade, todos os outros também vivem’. Esse é o principal imperativo da mulher sábia. Viver para que os outros também se inspirem. Viver do nosso próprio jeito vibrante para que os outros aprendam conosco.” (p. 14)

– Sim, como é revigorante ver uma vovó que tá com tudo! Venho acompanhando um blog de moda diferente de todos os que você conhece: Advanced Style. Ele traz fotos apenas de mulheres idosas deslumbrantes por viverem em acordo com seu corpo, sua cabeça, seu espírito.

“Os príncipes são bons. Os príncipes podem ser excelentes. Mas, com frequência, nos mitos, é a velha que tem algo realmente bom a dar.” (p. 16)

– Os príncipes são tão tolos… Realmente! Me cite um que seja o uó do borogodó. Só unzinho, vai!

“Nunca subestime a resistência da velha sábia. Apesar de ser arrasada ou tratada injustamente, ela tem outro eu, um eu primordial, radiante e incorruptível, por baixo do eu que sofre o ataque – um eu iluminado que permanece incólume para sempre. Está comprovado que a velha sábia tem uma envergadura de asas de seis metros, escondida por baixo do casaco, e uma floresta toda dobrada no seu bolso fundo. Decerto, podem-se encontrar debaixo da sua cama pantufas de sete léguas de lamê dourado. E através de seus óculos, quase tudo que pode ser visto há de ser visto. O tapetinho diante de sua lareira pode realmente ser um tapete mágico. Quando aberto, é provável que seu xale tenha a capacidade de acionar os cães do inferno ou então de invocar a mais estrelada das noites.” (p. 27)

– Pense na sua avó, neta, e queira ser como ela.

 

 

Habilidades manuais

“As velhas tinham muitos anos de prática numa imensa variedade de ofícios das mãos – fiar, tecer, tingir, bordar, crochetar, fazer renda, tricotar, acolchoar, fazer filé, plantar, colher, arrancar, fazer conservas, moer, queimar, tornear, semear, ver e curar.” (p. 68)

“Essas mulheres trabalhavam com o ancinho, com a enxada, torciam o pescoço das galinhas. Arrancavam ervas daninhas, reviravam o solo, plantavam com os dedos grossos como cabos de vassoura. Sabiam ordenhar, fazer a parição de animais, tosar carneiros, ficar, tecer, abater porcos. Sua história inteira estava nos antebraços.” (p. 76)

– Um medo irracional que me assombrava era ter uma profissão sem serventia num mundo pós-cataclismo, como se voltássemos todos a uma condição sem tecnologia. Que serventia teria eu, se vivêssemos numa espécie de Waterworld (filme com Kevin Costner de 1995), como profissional de marketing? Saber fazer as coisas com as mãos tem mais valor, né, não?

 

 

revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2013

 

ESTES, Clarissa Pinkola. A ciranda das mulheres sábias: ser jovem enquanto velha, velha enquanto jovem. Tradução de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

 

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