Aromaterapia é a terapia através dos óleos essenciais, que são substâncias voláteis, produzidas por plantas aromáticas durante seu metabolismo secundário. Os óleos essenciais contêm dezenas de moléculas, que por sua vez são formadas por cadeias compostas de átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e, eventualmente, nitrogênio e enxofre. Essas cadeias podem conter apenas 10 átomos de carbono, sendo, portanto, bastante voláteis, mas também 15 ou até 20 átomos, sendo, então, menos voláteis.
As plantas produzem óleos essenciais com diversas finalidades, entre as mais conhecidas está a atração de insetos polinizadores. Entretanto, a maneira como elas lidam com fatores de estresse ambiental, sejam eles bióticos ou abióticos, determina que substâncias voláteis elas produzirão, quando e em que quantidade, mas também que outras substâncias, como taninos, flavonoides ou alcaloides aparecerão. Por conta dessa variedade, diz-se que os óleos essenciais dão safras diferentes. Não existe um lote de óleo essencial igual a outro, assim como não existe um vinho idêntico ao outro. Entretanto, para fins terapêuticos, percentuais de variabilidade são tolerados e muitos já foram mesmo estabelecidos, de modo que, ao escolher um óleo essencial, sabe-se minimamente com que tipo de substância se está lidando.
Muitos desses padrões foram estabelecidos pela ISO – International Organization for Standardization, enquanto outros vão sendo estabelecidos pelo mercado. A variabilidade na composição química dos óleos essenciais ainda ocorre de acordo com o método usado para se extrai-los das plantas. Para a ISO, existem apenas dois métodos de extração cujo produto obtido possa ser chamado óleo essencial: a destilação, com vapor de água, das partes das plantas que produzem óleo essencial (folhas, flores, sementes, raízes ou caules) e a expressão (prensagem a frio) da casca de frutas cítricas. Entretanto, a tecnologia atual consegue extrair os óleos voláteis de muitas outras formas e até mesmo com aperfeiçoamentos das duas técnicas mencionadas. Existe muita discussão entre aromaterapeutas se as substâncias extraídas por essas tecnologias novas podem ou não ser usadas em tratamentos aromaterápicos. E também existe muita discussão sobre como os óleos essenciais, extraídos das maneiras tradicionais, podem ser usados.
Estritamente falando, a aromaterapia é uma ciência nova. A primeira vez que a palavra surgiu foi num artigo científico, escrito pelo engenheiro químico francês René-Maurice Gattefossé para a revista que sua empresa publicava, a Parfumerie Moderne: esse artigo foi publicado em 1935. Dois anos depois, portanto em 1937, Gattefossé publicou o livro que é tido como pedra fundamental da aromaterapia moderna: Aromathérapie – Les Huiles Essentielles, Hormones Végétales. Tal livro é uma obra rara, mas sua tradução em inglês, feita em 1992, está disponível inclusive na versão ebook.
Sendo, como se percebe, uma ciência com pouco mais de 75 anos, é de se esperar que muito de seu corpo de conhecimento, metodologia, usos e aplicações ainda esteja por se fazer. Entretanto, como a aromaterapia se utiliza de substâncias vegetais conhecidas pela humanidade há milênios, é também uma arte terapêutica antiga – ou uma medicina ancestral –, e isso lhe confere credenciais para ser amplamente utilizada, ainda que se deseje (ou se necessite) de comprovação científica para a maioria de seus postulados.
Ao longo do século XX, dois países certamente lideraram os estudos sobre o uso terapêutico dos óleos essenciais: a França e a Inglaterra. Devido a razões históricas, firmou-se, entre os franceses, o uso dos óleos essenciais como fitomedicamentos, sendo prescritos por médicos e farmacêuticos no tratamento de diversas doenças como alternativa a drogas alopáticas; e, na Inglaterra, consolidou-se o uso holístico dessas mesmas substâncias, sendo utilizadas em inalações, massagens, compressas, cremes e escalda-pés. Atualmente as duas tradições estão unidas, embora o uso oral ou interno dos óleos essenciais seja menos ensinado que seu uso holístico.
Num mercado em que as fronteiras ainda estão sendo estabelecidas, muitos nomes vão se criando para distinguir os produtos aromaterápicos que a indústria lança, assim como o trabalho aromaterápico que os aromaterapeutas desenvolvem. Frequentemente, esses nomes são criados como estratégia de marketing e acabam nomeando produtos ou técnicas muito semelhantes entre si. É dessa forma que aromaterapia clínica se pretende diferente de aromaterapia de bem-estar; que aromatologia se pretende diferente de aromaterapia clínica; que aromaterapia de bem-estar se pretende diferente de psicoaromaterapia; que psicoaromaterapia se pretende diferente de marketing olfativo; que marketing olfativo se pretende diferente de perfumaria, e por aí vai.
Quando se lida com aromaterapia, no entanto, apenas duas perguntas devem ser feitas para conhecer o terreno em que se está pisando: 1 – estarei usando óleo essencial puro ou sintético? Se a resposta for puro, você estará no terreno da aromaterapia; se for sintético, já não é mais aromaterapia; e 2 – vou usar internamente este óleo essencial ou apenas externamente? Se a resposta for internamente, você estará nos domínios da aromaterapia de tradição francesa; se for externamente, na inglesa. Muitos acreditam – e nisso se inclui a legislação francesa – que o uso interno dos óleos essenciais deva ser ensinado e feito apenas por pessoas com treinamento na área de saúde, isto é, em medicina, farmácia, odontologia, veterinária e, talvez, nutrição. Mas também é grande o número dos creem que, como os óleos essenciais são matéria-prima – assim como o sumo de um limão, ou a infusão de ervas, ou o pó de uma semente torrada –, qualquer pessoa pode se utilizar deles internamente, contanto que tenha conhecimento para isso. Para o primeiro grupo, os óleos essenciais são medicamentos; para o segundo, são matéria-prima. Esse é um assunto nebuloso e, de qualquer forma, como os óleos essenciais não podem ser patenteados – justamente porque são matéria-prima vegetal – os governos tendem a regulamentar o padrão de qualidade dos mesmos, mas não chegam a conclusões plausíveis de como deveria ser regulamentado seu uso.
Quando se é alguém querendo usar aromaterapia, talvez este seja um assunto secundário – afinal, basta ir numa loja, comprar o óleo essencial e usá-lo. Mas quando se busca fazer da aromaterapia profissão, são questões importantes, tendo em vista que tipo de formação se deve buscar. É uma discussão semelhante à que, no Brasil, já foi feita pelos profissionais de yoga: para ser professor de yoga, é necessário que se tenha diploma de educador físico, de fisioterapeuta? Mas não seria imprescindível o de psicólogo, filósofo? Como o yoga é ao mesmo tempo uma filosofia, uma técnica terapêutica corporal, mental e emocional, e também uma disciplina espiritual, concluiu-se que a melhor maneira de você formar um professor de yoga é deixando que ele faça um curso de yoga. Possivelmente, dentro da aromaterapia, a discussão vai se enveredar para o mesmo caminho. Sendo, a um só tempo, uma terapêutica que cuida do físico, do mental, do emocional, mas que também reflete no aspecto energético-vibracional dos seres vivos, o melhor é que um aromaterapeuta seja formado, justamente, num curso de aromaterapia.
De todos os aspectos do ser vivo que são afetados pelo uso dos óleos essenciais, o mais bem documentado é o físico; contudo, é o que tem menor volume de informação, uma vez que, para se discutir a ação farmacológica dos óleos essenciais no organismo, quer-se que a metodologia seja científica, e, de preferência, nos mesmos parâmetros daquela usada pelas indústrias farmacêuticas ou universidades. Isso custa tempo e dinheiro – e como os óleos essenciais não são patenteáveis por si sós, não geram interesse em ser estudados nesses parâmetros.
Já os aspectos psicológicos e energéticos-vibracionais são os com maior volume de informação, mas os que mais carecem de estudo com metodologia científica – afinal, aqui se entra na esfera do não-tangível e do não-quantificável. Como provar que o óleo essencial de olíbano age sobre o chakra frontal se nem mesmo a existência dos chakras é algo aceito no meio acadêmico-científico? Como estudar a ação que o pachouli tem de enraizar, aterrar pessoas avoadas se o conceito não é formalizado em manuais de psicologia nem mesmo tido como algo a ser terapeutizado?
Por mais que a aromaterapia se ancore no conhecimento milenar das plantas e ervas medicinais – e, nesse sentido, ela é um ramo da fitoterapia –, por mais que os efeitos farmacológicos ou psicológicos dos óleos essenciais venham sendo comprovados nos últimos 50-60 anos, é por causa de possuir um conhecimento que é fundamentalmente prático que a aromaterapia às vezes é tachada de curandeirismo.
Entretanto, diferentemente de outras práticas terapêuticas, que são injusta, porém igualmente tachadas de curandeirismo – como terapia floral, Reiki, radiestesia, homeopatia e mesmo a acupuntura –, quando se lida com óleos essenciais se lida – de fato – com princípios ativos. Conter princípios ativos é o que torna a aromaterapia tão diferente quando comparada a essas técnicas mencionadas. E por isso ela é tão especial – e mal compreendida: que substância se conhece que, ao mesmo tempo, aja objetivamente na química do corpo, mexa no humor da pessoa, altere seu campo energético, que é natural, amplamente disponível e fora do controle da indústria farmacêutica? Parece muito bom para ser verdade. Por isso duvidam. Mas é.
Mayra Corrêa e Castro
Curitiba/PR
04/jun/14