Casa Máy > Diário em Off - Posts > civismo e ética > Papo de taxista
Curitiba se orgulha de ter sido a primeira em muitas coisas no Brasil. Orgulha de ter sido, por exemplo, a primeira capital com rádio-táxi do país. Passados 35 anos da inauguração deste serviço, a cidade pode se orgulhar agora de ter um dos sistemas de táxis mais defasados também.
Foi junto com a inauguração da Associação Rádio Táxi Faixa Vermelha na capital que a prefeitura concedeu as últimas licenças de táxi. Depois disso, nadica de nada. Curitiba hoje conta com 2.252 carros circulando, ou seja, 775 carros para cada curitibano. Você não leu errado: Curitiba não aumenta sua frota de táxis desde 1976.
Eu, como passageira diária, sinto na pele o mau atendimento. Nos últimos dois anos, que considero os que definitivamente sepultaram o serviço na cidade, desenvolvi algumas estratégias para me precaver da falta de carros. Uma delas foi ter no celular o número de todas as centrais de rádio-táxi. Ligo para uma, não atende. Ligo para outra, não atende. Ligo para a terceira, atendem, mas não têm táxi. Ligo para a quarta e eles mandam um carro que demora 45 minutos. Quando preciso ligar para a quinta, já cheguei em casa andando a pé.
Outra resolução que tomei foi enviar um tweet para a conta do Prefeito, da URBS e da Prefeitura toda a vez que não consigo pegar um táxi. Acho que acabei inundando as contas deles e devo ter sido bloqueada. Daí, desisti da artimanha.
Decidi, como toda civil, acompanhar as discussões políticas sobre a emissão de novas licenças na cidade. Se hoje já está um lixo, imagine como será perto da Copa do Mundo?!
Então soube pela boca de um taxista que a classe estava sugerindo à Prefeitura que trouxesse táxis do interior do estado para atender a demanda durante a Copa. Surtei! Se a Prefeitura acatasse tal disparate, seriam mais 35 anos sem novas licenças na cidade.
Inconformada com a sugestão, resolvi perguntar para todo taxista que conheço numa corrida como resolver o problema do serviço na cidade. Ouvi muito papo e nenhuma solução focada naquele que é a principal razão de ser de um táxi: o passageiro. Percebi que este é um assunto espinhento.
Há taxistas que dizem que o problema é a venda de carro com IPI baixo. Agora devem estar sorrindo, porque o PT resolveu subir o IPI dos importados. Tem taxista que diz que não adianta pôr mais táxi na cidade porque as ruas só ficarão mais cheias: precisa, antes, construir pontilhão, viaduto, trincheira e os escambau para melhorar a mobilidade.
Também conheci a turma dos sem-rádio-táxi que diz que, na hora do rush, os com-rádio-táxi não querem atender chamadas da central porque sabem que se ficarem nos pontos ganharão corridas melhores. E existe a tribo dos conspiracionistas que diz que os políticos e juristas da capital detêm as placas na cidade e fazem lobby para não liberarem mais. Hoje, uma licença de táxi chega a valer 100 mil reais no mercado paralelo, enquanto a URBS cobra 2 mil para realizar a troca de titularidade.
Nestes 15 anos em que morro em Curitiba, nunca ouvi um taxista olhar para mim e me dizer: “De fato, há poucos táxis na cidade.” Nunca!
Sabe o que fiz? Comprei um carro. Taxista faz lobby. Consumidor compra.