Casa Máy > Diário em Off - Posts > crônicas > Joyce revê Paulo Coelho
Parece improvável, mas recentemente o escritor brasileiro Paulo Coelho provocou literatos no mundo inteiro ao dizer que o clássico livro de James Joyce, Ulysses, caberia em 140 caracteres do Twitter. As reações dos fãs de Joyce foram indignadas, ainda mais porque, comparados os talentos literários de um e de outro, Paulo Coelho costuma ser desclassificado da categoria escritor.
Paulo Coelho, indiferente às comparações, postou o tuíte-resumo da obra-prima. Muitos avaliaram se foi válido ou não. Mas fiquei curiosa do que teria pensado o próprio Joyce, e ele me disse:
“O Alquimista, 65 milhões de livros vendidos. O quinto livro mais vendido no mundo. Harry Potter vendeu 400 milhões, mas eram 7 volumes. Vêm em terceiro lugar. O quarto é ocupado por O Senhor dos Anéis: 103 milhões. Só que são 3 volumes. O primeiro e o segundo lugar, ocupados, respectivamente, pela Bíblia e O Livro Vermelho de Mao Tse-Tung não valem: foram escritos por deuses. Bem, um nem tanto deus. Mas esse quinto lugar, ocupado na condição de livro sozinho, o autor desse aí tentou me pegar.
Aceito que tenham saído em minha defesa. Fico lisonjeado que meus fãs tenham dito ser impossível reduzir-me a um – como se chama mesmo este estranho mecanismo de forçar a criatividade que vocês criaram neste século? Ah, sim –, reduzir-me a um tuíte. Também acho prepotente: Ulysses em um tuíte.
Mas de certa forma me pareceu justo: se eu transformei um dia em dezenas de horas de leitura, é razoável que tenham transformado centenas de dias de meu esforço numa leitura de segundos. É uma transformação que se pode chamar de alquímica.
Enganam-se se acham que fiquei incomodado com isso.
Em realidade, diverti-me: se o tuíte tivesse vindo do autor do primeiro livro mais vendido, eu correria o risco de virar Verdade; se tivesse vindo do segundo, viraria revolução; se viesse da terceira autora, viraria fantasia; do quarto, loucura. Mas vim do quinto, e virei provocação.
Quer saber? Foi o único revisor diferente que em verdade tive. Antes dele, só eu havia cometido a insanidade de reescrever e revisar meus textos.
James Joyce”
escrito por Mayra Corrêa e Castro ® 2012