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Yoga Nidra, o sono consciente – Gangadhara Saraswati

Postado às 23:10 do dia 20/08/16

Cobrindo a lacuna de livros nacionais de yogaYoga Nidra, o Sono Consciente, de Gangadhara Saraswati, explica o que é esta técnica, uma das mais gostosas numa aula de yoga.

Yoga Nidra Gangadhara Saraswati

 

A referência é o clássico Yoga Nidra, de Swami Satyananda Saraswati, publicado  pela primeira vez em 1976 pela Bihar School of Yoga, Índia. Mas não existe, lamentavelmente, tradução do livro para o português. No entanto, esta publicação de Gangadhara Saraswati, psicóloga e professora de yoga, discípula de Swami Niranjanananda, sucessor de Satyananda, cumpre maravilhosamente bem o papel de apresentar a nós, brasileiros, a técnica do Yoga Nidra.

Com origem nos tantras, o Yoga Nidra ensina como relaxar conscientemente, ou, nas palavras de Satyananda, como dormir dinamicamente (dynamic sleep). No Brasil, dificilmente uma aula de yoga não termina na posição Savasana pra que os praticantes descansem. Eventualmente, o professor conduz o relaxamento nomeando partes do corpo ou sugerindo visualizações e narrativas. Mas não é porque esses elementos aparecem no relaxamento que o relaxamento automaticamente se transforma em Yoga Nidra.

A técnica é uma marca registrada: Satyananda Yoga Nidra (R), e para usá-la é preciso permissão. No entanto, como ocorre com as mais diversas técnicas de yoga, ela é praticada, mais ou menos de acordo com os preceitos originais, pelo mundo afora.

Gangadhara apresenta a técnica original, mas o livro quer é analisar seus métodos e benefícios à luz da psicologia analítica jungiana. A autora aproxima ambas as técnicas pelo que proporcionam de acesso ao inconsciente, etapa imprescindível no processo de Individuação em direção ao Self.

O livro será de grande ajuda tanto na teoria, quanto na prática. Uma sessão completa de Satyananda Yoga Nidra (R) é descrita (no livro de Satyananda há várias). Há uma reflexão sobre o papel do yoga nos dias atuais suportada pela avaliação das possibilidades do tantra como caminho pra se alcançar a liberdade.

Abaixo selecionei algumas citações. Espero que goste!

 

Yoga hoje

“Terapia física e mental é uma das grandes contribuições do Yoga para o homem de hoje.” (p. 29)

– O aspecto mais surpreendente do yoga é o fato de que o corpo leva à mente que leva ao espírito. E tudo que você precisa fazer é praticar, porque o autoconhecimento vem com a prática.

“Gostaria de lembrar aqui que o Yoga Nidra não é uma prática de ênfase corporal, mas sua prática faz parte de um processo, de uma metodologia e está inserido num contexto onde o corpo é o ponto de partida; e o espírito, o ponto de chegada.” (p. 47)

– O contrário, partir do espírito para chegar no corpo, faz sentido? Não sei a resposta.

 

É aqui, bem aqui

“O Tantra utiliza a realidade para que o Yogi possa ter a experiência transcendente. Não se transcende o que ainda não foi experimentado.”(p. 38)

– Coisa mais fácil de deturpar no mundo é um preceito como este. Muito rápido você ser convencido de que deve levar uma vida irresponsável porque enquanto não fizer tudo que é deplorável não poderá viver de outro jeito.

“Não se deve ir ao mundo espiritual sem antes estar muito bem ancorado neste mundo e, nesse caso, nossa âncora é o trabalho com o corpo.” (p. 46)

– K. Patthabi Jois, grande guru de Ashtanga Yoga, disse que “Yoga é 99% prática e 1% teoria”. Como isso você já consegue entender a citação acima. A respeito do que é praticar pra viver neste mundo, em vez de escapar dele, sugiro a leitura do excelente livro de Jack Kornfield, Depois do Êxtase, Lave a Roupa Suja, cuja resenha já escrevi.

 

Não viaja na maionese

“O símbolo, inconscientemente, inspira a mente a realizar o potencial da consciência”. (p. 108)

– A neurociência diz que não somos seres racionais, mas seres que racionalizam; ou seja, tudo se dá no inconsciente – o que a consciência faz é limitar este tudo numa proposta de narrativa.

“Para ele [Satyananda], quando praticamos Yoga Nidra as experiências psíquicas devem ser evitadas. Com a mente focada, não vemos anjos ou demônios, mas aspectos que se manifestam a partir do inconsciente, de uma maneira lúcida.” (p. 120)

– É mais fácil a gente achar que teve uma experiência mística que de fato tê-la – ou colocando em outras palavras: toda experiência é mística, então grandes coisas se você as teve. Como naquela charge que circula nas redes sociais, “foca na realidade”, onde foca é uma foca mesmo.

 

revisto por Mayra Corrêa e Castro (C) 2016

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