Casa Máy > As Melhores Partes - Posts > contos > Um romance de geração – Sérgio Sant´Anna
Foi com a dica de outro Sérgio, o jornalista Vilas-Boas, que me disse pelo twitter que seu xará, o Sant´Anna, era um de seus escritores vivos favoritos, que me embrenhei na Biblioteca Pública do Paraná e arranquei este Um Romance de Geração da prateleira. Data em que foi escrito? Uau, 1980. Sensação de o ter lido em 2012? Como se eu estivesse vendo um episódio do TV Pirata, só que conhecendo as piadas. Sobretudo depois de ter lido Notas de Manfredo Rangel, Repórter (A Respeito de Kramer), conto publicado em 1973 por Sérgio Sant´Anna: o reuso de metalinguagem ampliou meu déjà vu.
O romance de Sant´Anna, nascido no Rio de Janeiro em 1941 e vencedor por quatro vezes do Prêmio Jabuti, é a peça de teatro que o pesonagem Carlos Santeiro, um escritor viciado em álcool e corridas de cavalo, escreve com base no que vai acontecendo durante a entrevista que concede a uma jornalista em seu apartamento no Leme, Rio de Janeiro. Como se o entrevistado tivesse tomado o gravador das mãos da jornalista, escreve diálogos no momento em que acontecem e nós, leitores, nunca saberemos se ocorreram tal e qual ou se tudo é imaginação, se houve ou não a entrevista, se se trata mesmo de uma peça ou de um romance, ou de um romance com peça. No final do livro, Carlos Santeiro, no melhor estilo making off – ou, para atualizar a comparação, no melhor estilo reality show – reflete sobre a peça que escreveu, contando-nos todas as geniais ideias que teve para produzi-la e dirigi-la. Ele fala e fala, fala daquele jeito que, nos anos 80, chamávamos de “masturbação mental”. Mas lhe devemos nossa compaixão: ele quer deixar sua marca, quer escrever o romance de sua geração, e a peça é a tentativa de fazê-lo, exceto pelo fato de que ela será proibida pela censura política; exceto pelo fato de que Carlos, vivendo da mesada da mãe, não tem mais os meios de empreendê-la.
Acho que é um romance de excessos. Justifica-se: uma geração antes não podia falar nada; uma depois, podia tudo. A atual não liga nem se não podiam falar, nem se não param de falar: ela simplesmente sai da sala. Já a minha, nascida antes do zapping, mas depois dos excessos, fica indecisa entre fazer uma boa crítica à estetização entre ficção e realidade, ou fazer uma crítica enfadonha ao de-novo-mais-um-livro-ficção-versus-realidade-jogo-de-espelhos.
A melhor parte do livro é o diálogo abaixo, que, para mim, é emblemático da falta de sintonia entre o artista (Ele) e seu público (Ela). Quando uma mulher pergunta se é amada, ela quer a resposta no mesmo verbo, senão a pergunta não é respondida:
“Ela: – Você me ama?
Ele: – Eu te adoro.
Ela fecha a porta do banheiro.” (p. 71)
revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2012