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Sumário de plantas oficiosas – Efrén Giraldo

Postado às 22:21 do dia 24/11/24

Ensaios têm aquela deliciosa qualidade de dosar na mesma medida fatos e subjetividade. Aliás, se o ensaio fosse uma escola de pintura, seria o impressionismo, pois tem a capacidade de nos informar uma realidade que captura a impressão que ela nos causa. Obviamente, quando o gênero surgiu com Montaigne no século XVI, os quadros ainda nos pareceriam ter sido pintados de um modo bastante “sólido”; mas trazer o homem (sua subjetividade) como medida de avaliação da realidade já estava lá. Este Sumário de plantas oficiosas, cujo subtítulo é Um ensaio sobre a memória da flora, do pesquisador colombiano Efrén Giraldo, tem todos os ingredientes do estilo: teoria, crítica, impressões, raciocínios, uma pitada de fantasia, nostalgia, um propósito. Não à toa, ganhou o prêmio de não-ficção Latinoamérica Independiente de 2022.

A inspiração pra sua escrita partiu da comemoração do 75º aniversário da bomba em Hiroshima, que ocorreu no dia 06 de agosto de 2020, durante o auge da pandemia. Assim como todos que pudemos, Efrén estava trancado em casa e ficou sabendo que uma muda das árvores sobreviventes ao ataque nuclear cresce nos jardins da universidade em que leciona, em Medellín: trata-se de um canforeiro. E a partir disso o livro se desenrola para falar do papel das plantas na vida do autor, especialmente naquele ano pandêmico, em suas memórias, em seus projetos e em suas fantasias.

Enfrén é professor de história da arte, então suas páginas são repletas de referências. Com exceção do último capítulo do livro – Flora e necropolítica na arte contemporânea -, elas não cansam a leitura; pelo contrário, são o elo que conduz o autor da factualidade para sua intimidade. Nesse capítulo, entretanto, as referências pesam um pouco, mas talvez seja necessário colocar na conta da arte contemporânea, que poucas vezes rende obras emocionantes.

Abaixo selecionei algumas citações e as comentei. Você terá noção da atmosfera do livro. O que você não terá noção é das ilustrações internas nem da textura da capa feita pela equipe da Fósforo, editora nova mas que vem publicando autores muito interessantes e de muita qualidade. Espero que aprecie a seleção.

 

Apenas a beleza da palavra escrita

“(…) milagre babélico da internet.” (p. 15)

“(…) estufa onde todos vivemos e morremos(…)” (p. 16)

“(…) são necessárias virtudes que me faltam, escritor de notas, impressões e historietas como sou.” (p. 154)

“(…) pela copa das árvores que permanecem a uma distância respeitosa do céu”. (p. 158)

– Há autores que escrevem tão diferente sobre as mesmas coisas que gosto de guardar suas frases pra poder revisitá-las. Terra como sendo a estuda onde vivemos e morremos, a internet como uma Babel que deu certo, um escritor de notas e uma canópia que hesita tocar o céu são frases lindas demais.

 

Impressões

“Fantin-Latour estava certo quando acusou os impressionistas de não conhecerem as formas das plantas. Reproduzir lilases e nenúfares, sempre-vivas e dálias por meio de manchas coloridas não significa que você as conheça em profundidade. Para tal propósito, intelectual, como queria o racionalismo de Leonardo, servem a linha e o desenho, colunas do edifício sacerdotal da ciência. Monet e Pissarro, pintores de flores, se é que existiu algo desse tipo, captaram apenas na retina sua impressão, seu impacto fugaz. Gosto de pensar que os impressionistas as viam com a sensibilidade das abelhas, o que transforma o espectador de suas pinturas em admirador e propagador.” (p. 18)

– Talvez você goste de saber que as abelhas enxergam apenas o ultravioleta, o verde e o azul.

“O abacaxi também viajou como esperança, saudade e história, as três rotas da única verdade que importa: aquela da imaginação. Suas mudas ou sementes foram verbais e plásticas, se é que cabe a metáfora. Como a América, o abacaxi foi primeiro imaginado e depois largamente degustado.” (p. 22)

– Para nós, que imaginamos pouco como seriam os cenários e personagens de um livro de ficção científica, dado que logo eles se transformam em filmes e, algum tempo depois, se tornam atrações nos parques de Orlando, para nós é um pouco difícil entender o impacto que descrições de viagens tiveram sobre o imaginário das pessoas no período das grandes navegações. O estranhamento, esta sensação tão peculiar que antecede ao deslumbramento, tem estado pouco disponível em um mundo hiperconectado e ultracapitalista como o nosso.

“A botânica é, sabemos agora, uma ciência em que as palavras e as imagens cooperam de maneira imperceptível e elegante, e tem muito de tentativa e erro.” (p. 67)

– Em A Assinatura de Todas as Coisas, já resenhado aqui, a personagem Alma comenta sobre o livro de ilustrações botânicas de um novo artista que chega em sua cidade. Ela se surpreende com a sensibilidade das ilustrações. Sendo um tipo de ilustração que, a princípio, deve ser o mais fiel possível à realidade representada – afinal, a ilustração botânica precedeu a fotografia botânica, cuja finalidade é documentar a flora -, sempre me pareceu surpreendente que tal tipo de desenho pudesse ter sensibilidade e emocionar de algum jeito.

“Na ilustração científica oriental, prevalecem a emoção poética, a experiência sentimental, o ponto de vista, a atmosfera e, acima de tudo, um éthos de ofício e execução, a disciplina.” (p. 80)

– Bem, então aqui deve estar a resposta à minha surpresa. Uma ilustração botânica, embora parta da contemplação, nem sempre é contemplativa. Faz sentido?

“As plantas que contêm alcaloides são a prova da especial confluência de esplendor e miséria que pode ser propiciada pelo domínio de uma determinada parte da flora de nosso planeta.” (p. 108)

– Alcaloides são substância com grande potencial terapêutico e, ao mesmo tempo, tóxico.

“A plantas pintadas diferem das plantas escritas. Se nas primeiras há a possibilidade permanente de comparar o resultado criativo com o real – privilégio, como sabemos pelos gregos, dos signos naturais -, o referente é subtraído nas segundas e o objeto é substituído pelo instrumento até certo ponto empobrecido da linguagem. A prerrogativa de pintores, desenhistas e fotógrafos é nos dar a opção de uma segunda flor ou de uma segunda árvore, enquanto poetas, ensaístas e romancistas nos dão apenas simulacros. Por isso, muitas versões literárias de plantas são alegorias, persuasões, especulações e não tanto descrições, pinturas com palavras.” (p. 131)

– Bom, nada existe de mais entediante que uma descrição botânica e é por isso que as versões literárias não são descrições. Mas há a descrição goethiana. Essa pode ser interessante.

“Ralph Waldo Emerson escreveu em sua obra Natureza que, por trás de cada elemento natural, existe um símbolo espiritual.” (p. 151)

– Bom, essa não é uma ideia propriamente inovadora embora pareça sempre nova quando repetida.

 

Divagações

“Especulação que, além disso, habita esse estranho terreno intermediário em que se misturam a suspeita paranoica e a ficção, pasto favorito das bestas do provável.” (p. 63)

– Aqui, Efrén comenta sobre o manuscrito Voynich, que nunca foi decifrado e que trata de uma coleção botânica fantástica. A troco do que as ilustrações foram feitas? Ninguém sabe, e ninguém conseguiu entender o que está escrito nele.

“A mentira bem elaborada é o centauro verbal por excelência, metade invenção e metade dados verificáveis. Não há nada tão perturbador quanto o desenho realista de algo que não conhecemos, artifício sobre o qual repousa um dos mais belos efeitos da arte e da literatura fantásticas.” (p. 63-64)

– É amplamente verificável no cotidiano que a melhor maneira de contar uma verdade improvável é mentindo.

“Nesse caso, gosto de pensar, sem nenhum desejo moralizador ou de ênfase professoral, que as plantas fantástica nos ajudam a nos relacionar melhor com as plantas reais, pois a fantasia é a única que nos convence de que elas têm vida e devemos respeitá-las. Uma planta vive duplamente em um relato, lugar no qual podemos superar as limitações do humano.” (p. 64)

– Seria uma hipótese a ser testada se a imagem do Barbárvore (Senhor dos Anéis) introduzida em aulas de literatura ou de biologia a estudantes do fundamental 2 seria capaz de torná-los mais sensíveis à ecologia quando estivessem entrando no mercado de trabalho. Para mim, a experiência fundante de minha consciência ecológica ocorreu durante a ameaça de racionamento de água na cidade onde passei minha infância, São José dos Campos/SP. Lembro-me nitidamente de começar a tomar banhos curtos com o medo de que não pudesse mais tomá-los. Eu tinha uns 8 anos de idade. Durante a pandemia de covid-19, enquanto Efrén escrevia esse livro, a cidade onde moro, Curitiba/PR, de fato vivenciou um racionamento que durou mais de 1 ano. Ter que se lavar mais vezes para eliminar o vírus da pele sabendo que ao final do dia poderia não sair água da torneira foi como uma pitada de sadismo ao que vivemos.

“Francamente, os senhores sábios costumam nos brindar com excelentes bobagens.” (p. 120)

– Por isso que é impossível admirarmos contemporâneos. É necessário tempo para que apenas seu melhor permaneça.

“Chegamos ao ponto de acreditar sermos capazes de ajudar uma planta em seu trânsito.” (p. 124)

– De Hallé a Simmard, passando por Zücher e Wohlleben, muitos já demonstraram que o manejo de florestas é a nocivo. Mais vale a pena largá-las a si mesmas.

“Sendo um território de ideias, ética e experimentação de formas de vida, o ensaio é o gênero em que as plantas e seu modelo de vida adquirem protagonismo.” (p. 133)

– Verdade. O que Mancuso faz, o que Hallé fez em seu Éloge de la Plante – céus, que ensaios!

“E o que acontece com o fato de as plantas não se moverem? Não conhecem o drama, a apoteose e a tragédia, os sentimentos e as formas convencionais do infinito e da finitude, o que as prova do direito de protagonizar uma história.” (p. 133)

– Imagine escrever uma história na qual o personagem principal fosse uma planta. Teríamos que descobrir como dar voz a metabólitos secundários, que são o que de mais próximo temos das reações e decisões que alguém toma no decorrer da trama.

“A narrativa parece ser capaz de às vezes contar certas histórias sobre plantas, mas é privilégio do poema e do ensaio pensar e ser como planta.” (p. 149)

– Isso porque uma narrativa se desenrola na linha do tempo, e já sabemos que o tempo das plantas é outro.

“Aproveitando que posso sair novamente à rua, visito livrarias e percebo que estou lendo tudo o que posso sobre plantas, árvores, jardins. Meus amigos livreiros me olham com aquela tolerância hercúlea de quem já conhece nossas obsessões e como elas desaparecem com o tempo.” (p. 155)

– Algoritmos não conseguem ser cúmplices como esses livreiros: vão nos entregando tudo que existe sobre nossa obsessão, sem considerar que a facilidade destrói facilmente qualquer mania.

“O mundo editorial é sempre um bom campo para examinar as transformações.” (p. 157)

– Assim como a moda, exceto que o livro é mais perene, mesmo que sujeito a modismos.

“Minha relação com a arte contemporânea, como muitas experiências de vida, é composta de altos e baixos, de momentos cheios de entusiasmo e lacunas de tédio ou indiferença, como ocorre com aqueles interesses que passam do entusiasmo à profissão.”

– Apenas iniciantes conversam com colegas sobre sua profissão. Os experientes estão conversando sobre seus hobbies.

 

A caridade das plantas

“Talvez, quando todas as drogas forem sintéticas, recuperemos o valor primário dessas espécies, em um tipo de inocência pós-histórica que nem mesmo a legalização da maconha para fins medicinais parece viabilizar por enquanto.” (p. 34)

– Efrén se referia à mudança que a invasão de plantas exóticas para agricultura provocou nas florestas colombianas, entre elas a própria canabis, a coca e a papoula.

“(Minha mãe ainda diz  que ‘uma casa pobre fica muito diferente quando tem plantas’.)

“(…)

“A ideia de que quem tem plantas nuca será pobre, de que a abundância se mede em valores vegetais, começou a ser corrente no pensamento, na filosofia e as teorias sobre sustentabilidade. Em minha infância eram patrimônio exclusivo da cultura popular e, claro, dos únicos que podiam tirar disso algum tipo de conforto. Talvez a expressão ‘riquezas da natureza’ passe para a história como uma grande obscenidade.” (p. 56)

– Não visito muitas casas, mas me recordo que muitas que eu visitava na infância tinham vasos de plantas. Hoje, bares, restaurantes, lobbies e corredores de luxuosos shoppings e hotéis exibem paredes verdes, imensos vasos de chão, trepadeiras que caem como cachoeiras de sacadas e balcões: são todas plantas de plástico. Pelas cidades, apenas os bairros mais pobres ou os mais ricos possuem árvores. Cidades como Maringá, no Paraná, nas quais as árvores ainda são os edifícios mais alto mesmos no centro, sofrem a pressão de se verticalizarem, porque a verticalização é mais justa do ponto de vista demográfico, embora sempre subentenda uma maior pobreza ambiental…

“Descobrir uma planta ou um novo sapo é um acontecimento estético, já que o mundo começa a conhecer uma nova coisa ‘real’, que amplia o território da forma e da representação possível.” (p. 70)

– Olhe, não vejo por onde a descoberta de novas plantas não amplie algo. Na ciência farmacêutica, a descoberta de uma nova planta sempre vem acompanhada da esperança de um novo remédio.

“Não é raro que a iminência da morte, ou o grau zero da condição de vivo, se aproxime no mundo liminar das plantas, sobre o qual sabemos tão pouco. Não é porque as comemos, não é porque as cortamos para fazer ferramentas ou as aproveitamos para construir casas e jardins, que aprendemos a conhecê-las e conviver com elas. Talvez nos ensinem muitas respostas para enfrentar a doença e a proximidade da morte.” (p. 99)

– A principal lição que se pode tirar de uma planta sobre a morte é que é mais possível evitá-la se seus órgãos não forem únicos. Se for possível dizer que as plantas fizeram a opção pela imobilidade, pensar nas desvantagens de sermos móveis é a reflexão mais amarga que poderíamos tirar da experiência.

“Certamente não temos autoridade para dizer que uma erva é ‘daninha’.” (p. 139)

– Nenhuma autoridade, certamente nenhuma do tipo moral.

“A palavra ‘florilégio’, aplicada sobretudo a coleções de poesia, é uma reminiscência das afinidades entre o poema que surgiu como um milagre e a planta que brotou e floresceu sem motivo aparente no mundo dos homens.” (p. 146)

– Entre esses tipos de poemas-milagres, o haikai que parece o mais parecido com flor, mas apenas para aqueles que sabem que a flor é o ápice de ciclos de contração e expansão da forma primordial da folha.

“(…) como nos integrar solidariamente com as plantas para ajudá-las em sua tarefa de manutenção da vida, pois elas são as únicas com possibilidade de fazê-lo.” (p. 149)

– Sinceramente, não sei, porque a solidariedade humana me parece muito precária.

 

Plantitude

“Comemoro que terei um segundo filho e penso se haverá algum tipo de conexão entre a vegetalização de meus interesses e essa consequência direta do acaso e da escolha.” (p. 38)

– Coincidentemente, também eu, após o nascimento de meu segundo filho, vegetalizei meus interesses.

“O herbário da pequena Emily é uma janela para um diálogo com os ciclos de apogeu e declínio da natureza e uma amostra da viagem íntima que as plantas também fazem quando se deparam com nossa subjetividade. Elas se implantam em nós e crescem.” (p. 43)

– A Emily em questão é  Dickinson (1830-1886), que teve um herbário sobre o qual se fala menos, tendo em vista a fama de sua obra literária. Ela classificou 484 espécies e no livro há foto de algumas páginas de seu herbário. Consigo pensar em outro herbário que se torna fundamental para a formação de outra personagem, desta vez ficcional: Alma, do romance A assinatura de todas as coisas, de Elizabeth Gilbert, que é uma ode ao papel da botânica na vida de mulheres no século XIX.

“Ouvir as plantas é o legado que deveria nos restar desse pensamento, e não tanto a ideia de extrair seus princípios ‘úteis’ ou ‘ativos’. Paracelso ensinou outra coisa: a planta pode não só ser ilustrada ou descrita, mas também ‘traduzida’ (…)”. (p. 77)

– Acho que nunca pensei na Doutrina das Assinaturas como uma tradução.

“Os vegetais são tão misteriosos, seu lugar como depósito da alteridade e da exterioridade absoluta é tão claro, que é neles e cm eles que principalmente se exerceram as artes da bruxaria e da adivinhação.” (p. 87)

– Efrén cita Harry Potter em seu livro, pelo destaque dado às plantas na saga. Quando se anunciou que HP teria um spin off no cinema, Os animais fantásticos, sempre me pareceu que algo estivesse faltando: as plantas fantásticas. Ainda espero, quem sabe, o spin off com algum descendente de Neville.

“No mundo da tatuagem e da modificação corporal, uma das tendências dominantes nos últimos anos tem sido a ilustração botânica. Muitas pessoas já viram mais plantas na pele de seus amigos e conhecidos do que em um jardim.” (p. 87)

– Lamentavelmente, creio ser uma estatística provável. Dia desses me surpreendeu um vídeo em que uma garota ficava completamente atônita de ver um pé de laranja. Do jeito que vão as coisas, estas frutas que já vêm cortadas e embaladas nos mercados, em breve os jovens jamais terão visto uma fruta inteira.

“Precisamos ver cada planta e cada árvore como se fosse o último espécime na Terra, e nenhuma consideração sobre sua beleza ou utilidade excepcional deveria nos fazer ter qualquer preferência. Cuidar de uma planta deveria implicar atenção para todas as demais, da mesma forma que cuidar de alguém – moribundo ou em gestação – significaria a conservação da própria humanidade.” (p. 127)

– Especialmente das moribundas, pois vai longe a ideia – errônea – de que árvores velhas, perto do fim de suas vidas, devam ser cortadas. Hoje se sabe que seu valor para o ecossistema é imenso e, no caso delas se conectarem a outras da mesma espécie, estão ensinando as mais novas a viver.

“Por fim, junto com a ideia de que as árvores têm uma espécie de inteligência, há aquela convicção de que elas nos precedem – e nos superam – na grande descoberta adaptativa da respiração e do sexo, que é a previsão definitiva do visível.” (p. 137)

– Escrevo esta resenha e leio no jornal que cientistas conseguiram implantar cloroplastos nas células de um roedor. Por uma fração de tempo, fizeram fotossíntese. Não antevejo angústia maior que o dia em que não pudermos ter nada acima de nós, superando-nos.

“Quem vive mais sabe mais, e nisso certas árvores levam vantagem sobre nós, pois, como se investigou, os seres mais longevos do planeta são módulos vegetais.” (p. 164)

– Ele disse “certas árvores”, mas são todas.

 

Green washing

“Esse novo ritual, se fôssemos otimistas, deveria ser encarado coo um sinal positivo de consciência ambiental, mas que a arte contemporânea,  política e a crítica rapidamente nos mostram em toda a sua hipocrisia ou ingenuidade. Expor-se ao lado das plantas tem seu glamour.” (p. 88)

– O capitalismo sempre consegue transformar em mercado qualquer modo que se oponha ao consumismo.

“Imprimir selos que celebram as orquídeas, a palmeira-de-cera (Ceroxylon alpinum) e outras espécies ou estampar papel-moeda com homenagens à flora nacional sempre foi um tipo de alternativa no país, com a qual se tenta atenuar, sem muito sucesso, a falta de esforços governamentais em fornecer uma base científica para a conservação do patrimônio natural e da biodiversidade.” (p. 119)

– E algo que governos façam que sejam um esforço autêntico?

“As plantas são cool, plantar as próprias alfaces aplaca nossos confrontos morais, participar de protestos contra a economia extrativista faz parte de uma política sem consequências.” (p. 158)

– A aromaterapia virou moda. Vejo as redes sociais infestadas de influenciadores e vendedores alardeando as propriedades naturais dos óleos essenciais. Acham-se todos muito ecológicos. Mas é hipócrita consumir e vender óleos essenciais no sistema multinível e chamar isso de sustentável. É o ápice do consumismo predatório de um recurso natural extremamente valioso. Estão apenas aplacando a própria culpa capitalista.

Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2024

GIRALDO, Efrén. Sumário de plantas oficiosas: um ensaio sobre a memória da flora. Tradução: Silvia Massimini Felix. São Paulo: Fósforo, 2023.

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