Casa Máy > As Melhores Partes - Posts > autoconhecimento > Os novos renascentistas – Margaret Lobenstine
Faniquito, siricutico, fogo no rabo, inventa-modas, bicho do carpinteiro, macaquinho, franco-atirador. Agora, palavras mais polidas: inquieto, desassossegado, inventivo, criativo, generalista. Se alguma dessas palavras se aplica a você, sorria, formiga atômica: bem-vindo ao clube daqueles que não conseguem ter um foco único na carreira. Congratule-se: você ganhou de presente uma outra alcunha, super chique – novo renascentista. Isso mesmo! Você, como eu, como Da Vinci, temos múltiplos interesses acadêmicos, profissionais e intelectuais e podemos tirar partido disso tudo para alcançar sucesso.
Para ajudar-nos vem este livro de Margaret Lobenstine. Você aprenderá a organizar seu faniquito para que tire proveito financeiro de tudo o que faz ao-mesmo-tempo-agora. Inclusive você vai descobrir se é do tipo que atira para todos os lados ou se gosta de atirar sempre para um lado só, mas a cada vez experimentando um arsenal diferente (moizinha). Tem teste, tem lição de casa, tem causos, tudo no melhor estilo auto-ajuda caprichada. Seria ótimo se fôssemos aquele tipo de pessoa super especialista, focadíssima, que vira o ultra expert no assunto, né? Exceto que a gente não é. Então, vamos aprender a tirar partido desse nosso siricutico.
Adorei o livro, recomendei-o a meus colegas de Empretec que tinham o mesmo perfil (não sei se leram), e trago as melhores partes dele aqui.
Novos renascentistas
“Para os Espíritos Renascentistas, o meio mais seguro para atingir a especialização é incentivar as paixões em vez de sufocá-las. Qualquer outra abordagem será contraproducente. Se não estivermos motivados, acabaremos deixando de ser atenciosos e cairemos na amargura.” (p. 54)
– Algumas coisas sobre esse parágrafo:
(1) – Não se trata de um livro sobre espiritismo.
(2) – Sim, especialização ainda é a chave para o sucesso. Leia o livro e verá a autora não quer dizer que você terá que fazer uma única coisa a vida toda, mas que a gente só alcança sucesso quando conhece bem de alguma coisa (ou de várias).
(3) – Paixões, todo mundo as tem. Pegue o futebol, paixão para inúmeros homens. O que difere um novo renascentista apaixonado por futebol de um torcedor fanático, mas não-renascentista, é que aquele quer treinar um time infantil, ou quer promover encontros sobre futebol, ou organizar excursões para levar torcedores, quer escrever um livro sobre o time, sei lá. O novo renascentista sempre quer fazer de sua paixão uma fonte de renda.
(4) – Acho que todo mundo precisa de motivação para não cair na amargura. Não acho que seja exclusivo de um novo renascentista. Mas – e sempre tem um “mas” – , para esses, se eles não puderem alimentar diariamente seu lado B, mofinam. Entendeu agora?
(5) – É vero: a impressão é que o mundo é abarrotado de novos renascentistas, inclusive você, que acabou de se descobrir um deles neste exato momento, né?
“Minha meta é ajudá-lo a satisfazer seu espírito aqui no planeta Terra, onde a maioria das pessoas tem obrigações e contas a pagar e esses impulsos biológicos divertidos, mas demorados, para comer e dormir.” (p. 89)
– A autora menciona comer e dormir porque é comum aos novos renascentistas ficarem loucos com esta coisa que lhes rouba tempo chamada comer e dormir. Por outro lado, muitos ficam tão exaustos de ir prá lá e prá cá com seus interesses que parecem não ter energia pra mais nada e só querem dormir e comer, esquecendo das responsabilidades com família, emprego e saúde.
Ser feliz no trabalho
“As pessoas que não estão totalmente comprometidas com os valores que suas atividades representam passam pela vida explodindo, puxadas numa direção por seus compromissos e em outra por seus espíritos.” (p. 72)
– De novo, não se trata de um livro sobre espiritismo (tá, já saquei, muda o disco). Ela chama de espírito renascentista as pessoas tipo nós que têm uma alma, um jeito de ser e querer ser renascentista. Bem, não conheço pior coisa para a felicidade que não estar inteiro, que não estar no presente. Acho que, na atualidade ocidental, apenas as filosofias orientais como budismo e yoga podem nos ensinar o que é estar no aqui e agora. Um best-seller sobre isso é O Poder do Agora, do Eckhart Tolle (aliás, preciso resenhá-lo).
“Quando você coloca o foco em seus Pontos Focais, acontece uma coisa estranha. Desaparece a pressão proveniente da confusão entre sua identidiade e seu T-R-A-B-A-L-H-O.” (p. 115)
– A grande sacada do livro é este lance de Pontos Focais. Margaret nos ensina a elencar valores e descobrir quais deles podem ser alcançados e mantidos através de cada uma das coisas que queremos fazer. A mágica ocorre quando, por exemplo, você não reclama mais daquele trabalho chato e repetitivo porque ele mantém seu valor “sustento” para que, tendo sustento, você alcance o valor “tempo livre” que, por sua vez, lhe permitirá manter o valor “fotografia” (mas poderia ser futebol, vinhos, roupas para bebê, escrever, pintura, canto, dança e o diabo a quatro). Ou seja, você fica feliz de trabalhar apenas pelo dinheiro porque é o dinheiro que vai deixá permitir que você seja feliz organizando campeonatos de pipa na cidade. (A autora também dá a alternativa de sair do emprego e procurar outro, claro.)
“Independentemente da forma assumida pela nossa causa, temos uma dádiva para dividir, não uma corneta para tocar ou uma traquitana milagrosa para vender. Pensar em nossa dádiva nos dá energia para seguir em frente e fazer coisas que, se considerássemos ‘vendas’ ou ‘marketing’, poderiam estar fora do nosso alcance. Ganhamos energia libertadora quando entendemos que nossas paixões podem ter um efeito positivo sobre os outros.” (p. 145)
– É difícil entender o trecho acima sem o contexto, mas ele é bem interessante. Vou explicar. Margaret comenta que vários novos renascentistas conseguem facilmente tempo, dinheiro, disposição para se dedicar a outros interesses quando eles são filantrópicos. Assim, não têm vergonha nenhuma de sair pedindo dinheiro para tornar seu projeto viável, não se sentem intimidados quando ouvem críticas de gente azeda que acha que eles deveriam estar “trabalhando de verdade”. Mas quando os novos renascentistas têm interesses, digamos, egoístas, como fazer teatro (e a pessoa é contadora), ou como montar uma clínica de massagem (e a pessoa é funcionária pública), vender artigos religiosos (e a pessoa é técnica em edificações), eles travam, acanham-se – “como eu vou vender meu peixe? as pessoas vão achar que estou querendo só aparecer, meu Deus!”. Margaret diz: relaxe, querido, se seu interesse for algo bem distante do trabalho voluntário e da filantropia, lembre que tudo é uma dádiva. Ofereça-a de coração ao cosmos e batalhe seu sonho, nem que precise fazer autopromoção sim. (Livro 10 pra acabar com seus dramas de consciência sobre o que você quer e o que seria correto querer fazer é o Karma Yoga, de Swami Vivekananda. Já o resenhei aqui no Melhores.)
Sucesso
“(…) o sinal supremo de sucesso é o luxo de dar a si mesma tempo para fazer o que quiser.” (p. 239)
– Apenas no luxo está o sucesso. E este é um comentário sarcástico, que dá mais uma vez razão ao Joãozinho Trinta. (Lamento, não explico se você tiver menos de 32 anos. Pergunte aos seus pais quem foi Joãozinho Trinta e o que ele pensava sobre o luxo.)
Tempo (ou a falta de)
“Costumamos dizer que ‘tempo é dinheiro’ e esta atitude permeia nossa linaguagem: o tempo (como o dinheiro) é algo a ser gerenciado, gasto, poupado. Ou será que não? Richard Leider e Davis Shapiro me encantaram com uma inversão da popular analogia da ampulheta em seu livro Repacking you Bags. Por que, perguntam eles, sempre nos imaginamos vivendo na metade de cima da ampulheta, onde o tempo está sempre escasseando? Por que não nos imaginamos no fundo dela? Lá cada minuto é seguido por outro minuto que se derrama pelo buraco. Cada hora é seguida por outra hora e cada dia é apenas o primeiro de muitos que virão…” (p. 239)
– É uma boa metáfora, mas não é imune: sempre podemos pensar que estamos no fundo da ampulheta sendo soterrados pelo Tempo. Moral bem melhor a autora retira de uma historinha contada páginas antes: um professor chega numa sala e mostra um jarro com quatro grandes pedras e pergunta à classe: está cheio? Sim, respondem. Então ele joga cascalho em todas as frestas. E agora? A sala fica quieta. Daí ele joga areia. E agora? Ah, agora tá cheio, professor. Mas o professor vem e despeja água por cima da areia. Pergunta: daria pra encher o jarro desse jeito se as pedras não fossem postas primeiro? Moral: use seu tempo de forma que as pedras sejam aquilo que realmente importa e lembre que limpeza de casa (cascalho), pequenos servicinhos (areia) e manutenção do gramado (água) ainda caberão na sua vida. Boa história, não?
revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2012