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O Segredo do Chanel Nº 5 – Tilar J. Mazeo

Postado às 16:54 do dia 29/04/12

Comecei estudar Perfumaria Botânica Natural com Ane Walsh, pela Nexus Academy, e acabei me envolvendo demais com o tema das essências sintéticas. Depois de muita leitura sobre óleos essenciais terapêuticos, ler sobre a indústria da perfumaria é energizante, como toda boa leitura sobre business. Sou uma leitora contumaz de revistas de negócios e literatura de marketing, tanto quanto leio sobre terapias naturais e ficção – não tem jeito. São as idiossincrasias de ser uma alma 33-6 com o Y no meio que fica me oscilando para 26/8…


Mas voltando ao tema deste blog – livros que li e cujas melhores partes sublinhei – trago aqui esta excelente história sobre a saga do Chanel nº 5, o perfume mais vendido do mundo, brilhantemente escrita por Tilar J. Mazzeo, que também já escreveu sobre a Mme. Clicquot, do champagne. Quanto não pode ser interessante escrever sobre o mercado do luxo, hein?! O livro de Tilar, já faz tempo que o li. É curioso rever as notas que a gente fez de uma leitura quando já se passaram meses: algumas coisas deixam de ter importância ou de surpreender, enquanto outras fazem ainda mais sentido. Vamos ver o que os meses me fizeram continuar amando neste livro.
(Ah, sim! Antes de iniciar a leitura, fiz a numerologia de Coco. Nem me lembrava disso, mas os cálculos estão escritos a lápis numa das páginas em branco do início do livro. Mlle. Chanel é uma alma 40/4 (!), com aparência 67/4 (!!), querendo ser um 107/17/8, precisando aprender a ser um 57/11-2. E nem adianta a gente achar que o apelido Coco ajudou muito, porque tudo que lhe trouxe foi reforçar sua lição 8 com uma alma 18/9 e lhe acrescentar a vibração do 7 na aparência e na lição. Às vezes a genialidade não está patente nos números. Já experimentei esta lição quando fui conferir os números de Jo Rowling, outra “ídola” minha.)

Números sobre o Chanel nº5:
– Tilar escreveu o livro em 2010, então estes números ainda chocam: um frasco de Chanel Nº5 é vendido a cada 30 segundos em alguma parte do mundo, movimentando algo como 100 milhões de dólares no ano (p. 12)

“E, a quase 400 dólares o vidro de 30ml, não é de espantar que Chanel nº5 nos passe nada mais do que a ideia de luxo.” (p. 21)

– Indeed!

– Nas páginas 25 a 27, Tilar fala sobre a mística do número 5 e aqui está tudo que conseguimos de pistas sobre Chanel conhecer de numerologia. Nada conclusivo, mas há informações interessantes como o fato de Chanel ter sido criada num convento da Ordem Cisterciense, Aubazine, que dava importância a coisas como a Proporção Áurea de Pitágoras.

– Todo mundo sabe que as matérias-primas do Nº 5 são caras e abundantes. Tilar traz alguns números: 1/2 kg de absoluto de jasmim custa mais de 36 mil dólares. São necessários 160 kg de jasmim (ou seja, mais de 500 mil flores) para se fazer 1/2 kg de concreto de jasmim. Um unicozinho frasco de 30 ml do Nº 5 contém mil flores de jasmim e uma dúzia de rosas (p. 169). Estas informações são particularmente importantes porque:

“’… o Nº5 [foi] provavelmente o único perfume cuja qualidade permaneceu a mesma durante toda a guerra.’”(p. 171)

– O melhor do livro, para mim, foi a história de como a matéria-prima do Nº 5 foi contrabandeada para os EUA durante a 2ª Guerra. Vale cada linha de leitura porque confirma a tese de que não há vencedores inocentes no mundo dos negócios. Leia que é diversão garantida!

 

Qual é o segredo?:

“… o sucesso de Chanel Nº 5 nunca foi devido a marketing.” (p. 14)

– Tilar passa o livro inteiro tentando entender o segredo do sucesso deste perfume. Sua hipótese é esta, mas ela só nos revela o segredo na penúltima e última páginas e fica a narrativa inteira sustentando o suspense, o que me pareceu um cacoete de jornalista que se meteu a escrever ficção. E esta é minha única crítica ao livro.

“O Chanel Nº 5, desde o momento do seu primeiro apogeu, foi o aroma da bela extravagância.” (p. 21)

Bela extravagência  é todo o segredo da nostalgia dos anos 1920 em Paris… Woody Allen acertou tanto em seu Midnight in Paris!

“Na verdade, as décadas de 1920 e 1930 ainda são conhecidas como a era de ouro da perfumaria moderna…” (p. 51)

– Tilar, estas décadas foram as de ouro para tudo, querida.

“A disposição para adotar a modernidade foi parte do seu [do Chanel Nº 5] brilhantismo também.” (p. 80)

– Acho esta uma grande sacada da Tilar e uma bela construção de frase também.

– Um segredinho nem um pouco glamouroso sobre o sucesso do Nº 5 é que ele continuou sendo vendido a rodo durante a 2ª Guerra porque foi posto nas prateleiras dos armazéns militares norte-americanos, uma área tax free, meu caro. Duty Free Shops ainda são uma coisa importante para a lucratividade da indústria da perfumaria e começou com Chanel Nº 5. (p. 171 a 174)

“Muito antes do fim da guerra, o Chanel Nº 5 era uma mercadoria que se podia trocar por qualquer coisa.” (p. 187)

– Imagine o que seria você alimentar uma família inteira durante a guerra apenas desafazendo-se do seu frasquinho fechado de Chanel Nº 5?

“Não tinha importância se não sabiam falar uma palavra de francês naquele verão [os pracinhas norte-americanos e britânicos que libertaram Paris em 1945]. Bastava erguer cinco dedos. Ele sempre foi o perfume com o número famoso.” (p. 188)

– Acho esta passagem fabulosa! Imagine a situação de soldados fazendo fila na loja Chanel da Rue Cambon, sem falar uma palavra de francês, comprando o Nº 5 apenas por um gesto de mãos. Franceses nunca precisaram falar inglês para ganhar dinheiro, nem ontem, nem hoje.

“Não se pode fazer o barato cheirar como Chanel Nº5.” (p. 235)

– E é por isto que contra-tipos são torpes.

“Acima de tudo, como Coco Chanel sabia, perfume é um ato de memória.” (p. 236)

– Uma coisa admirável nos grandes perfumes é que eles sempre cheiram igual apesar de seus ingredientes naturais sofrerem mudanças sutis de acordo com as safras. Mas nós, humanos, cheiramos aquilo que lembramos. Sacou a genialidade da coisa?

– E na página 242, finalmente Tilar abre o jogo sobre o segredo do Nº 5:

“Pelo contrário, o segredo no cerne do Chanel Nº 5 e de seu persistente sucesso somos nós e o nosso relacionamento com ele.”

“Mulheres jovens o usam para se sentir ricas e sofisticadas. Mulheres ricas e sofisticadas o usam para se sentir sexy.” (p. 245)

– Chega! Mas nada precisa ser dito. Vá lá compar um Nº 5 e ponha uma Bazaar embaixo do braço enquanto aguarda a inauguração do Pátio Batel ou do JK, tá, benzinho?

 

A gênese do Chanel nº5:

– Vem de Aubazine a atração de Coco pela camélia branca: a flor crescia nos arredores do monastério (p. 28)

– Coco não queria cheirar de jeito nenhum à prostituta ou a moças do chamado demi-monde: nada de jasmim, almíscar, pachouli, nem angélica. Ela queria antes “o cheiro de algo ao mesmo tempo limpo e sensual”. (p. 38)

“Ela [Coco] buscava algo extraordinariamente contraditório. O seu perfume tinha de ser exuberante, opulento e sensual, mas também precisava cheirar a limpeza, como Aubazine e Émilienne. Seria o aroma de pele morna esfregada e de sabão em um convento do interior, mas seria despudoramente voluptuoso e sensual.” (p. 55)

– Quando leio sobre o briefing do Chanel Nº 5, não posso deixar de rir do artificialismo do Womanity, de Thierry Mugler, que queria uma aroma doce e salgado. As contradições não podem ser criadas do nada – por isso o Womanity é uma porcaria de perfume experimental – mas podem apenas ser extraídas de uma vivência profundamente humana, como a de Coco.

“A boa fragrância começa com a qualidade das substâncias, e isso é especialmente verdade quando se trata de perfumes florais, porque os aromas são muito fugazes.” (p. 62)

– O Nº 5 usa as melhores matérias-primas do mundo que, evidentemente, não são cultivadas em Holambra, no interior de SP.

“Ela [Coco] também queria que esse perfume da marca fosse uma obra moderna de arte e uma abstração. ‘O perfume que muitas mulheres usam’, ela se queixou, ‘não é misterioso… Mulheres não são flores. Porque desejariam cheirar como flores? Eu gosto de rosas, e o cheiro da rosa é muito bonito, mas eu não quero uma mulher cheirando como uma rosa.’ ‘Eu quero’, ela havia decidido, ‘dar às mulheres um perfume artificial. Sim, estou dizendo artificial, como um vestido, algo que precisa ser feito.’” (p. 64)

– Leio esta declaração de Coco e fico cá olhando pro meu frasco de destilado de Rosa centifolia… O cheiro que mais amo passar na minha pele é uma gota deste óleo puro… Não fui feita pra elegância de Chanel; não, definitivamente, não. Sou muito paysante.

“O frasco [do Chanel nº5] seria seu complemento: a abstração de um vidro, de onde tudo fora apagado menos os elementos essenciais da linha.” (p. 125)

– Esta citação me faz lembrar que a capa do livro da Tilar é bem bacana. E capa é tudo, gente! Mas o livro tem um troço irritante: apenas as páginas ímpares são numeradas e desde que não sejam o início de um capítulo.

“’Um perfume deve lhe dar um soco direto no nariz… Não vou ter de ficar cheirando durante três dias para ver se ele tem cheiro ou não. Ele tem de ter corpo, e o que dá corpo a um perfume é o que existe nele de mais caro’. Ela [Coco] queria dizer, é claro, as fortes doses daquelas substâncias florais caras e requintadas de Grasse, a essência de seus pefumes.” (p. 195)

– Este mau-humor politicamente direto de Coco é o que mais me atrai em sua personalidade.

 

PS deste post:

O livro de Tilar é tão bom que consegui sublinhar informações bacanas até nas notas de rodapé! Evidentemente que não pus aqui tudo que grifei. Mesmo uma resenha é uma obra de ficção! Neste sentido, acho que criei uma resenha à la Nº 5, oui?

 

escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2012
MAZZEO, Tilar J.. O Segredo do Chanel nº5; a história íntima do perfume mais famoso do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
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