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Neurodesign – Sarah Soler

Postado às 12:43 do dia 14/12/24

É difícil que adaptações de dissertações e teses para o formato livro funcionem, porque a escrita acadêmica é sobretudo enfadonha. Mas quando o tema é atual e interessante, ajuda bem. É o caso deste Neurodesign: a neurociência aplicada ao design, da pesquisadora Sarah Soler. Trata-se de sua dissertação de mestrado pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, defendida em 2021.

Depois de eu ler seu livro, enviei uma mensagem a seu Instagram da autora porque queria perguntar o que ela pensaria da aplicação dos princípios de estética de Ramachandran, sobre os quais ela fala em seu livro, à apreciação de fragrâncias. Infelizmente, apertei enter antes de explicar o motivo do meu contato, então ela ficou apenas com uma mensagem em que eu me apresentava. Não obtive resposta nenhuma.

Minhas leituras sobre marketing sensorial, que envolve neurociência em alguma medida, limitam-se a 3 autores: Aradha Krishna, Martin Lindstrom e Douglas Van Praet. E, na área de marketing olfativo, aromacologia e perfumaria funcional, basicamente me informo lendo artigos científicos que o app R Discovery seleciona para meu feed “olfato”. Há muita, mas muita coisa produzida. Ainda assim, aproveitei bastante o livro da Sarah pelo apanhado sistematizado que ela fez dos fundamentos da neuroestética.

No livro, ela aborda o mercado da cosmética, que eu penso que seja um dos mercados com mais sci washing e picaretagem científica de alcance ao grande público, acima mesmo da nutrição. A autora intitula um dos capítulos assim: “Mercado da beleza: solo fértil para o neurodesign”. Não tenho como não concordar, desde que precisamos acionar (na Abraroma) o CONAR contra a linha Aroma & Terapia de O Boticário, que prometia uma coisa e entregava outra e clamava ser comprovada “pela ciência”, como se comprovação por ciência fosse algo que ocorre por meio de um ensaio com n baixo, feito ad hoc, sem cegamento, com mensurações de dados qualitativos do depoimentos dos participantes. Então, sim, é um solo fértil, inclusive pra muita bobagem.

O bom de ler este livro é que você ficará atualizado sobre como a neurociência vem sendo empregada e entenderá que do hype ao mercado, muita tentativa fracassa, alguma coisa funciona, mas que a publicidade vende até mesmo promessas e avanços mínimos. Como se trata de um livro técnico, selecionei algumas partes que cito mais pra manter uma acervo de informações que gostarei de consultar depois que propriamente pra comentar mesmo.

 

É a emoção, estúpido!

“Segundo Bridger (2018), a criação de efeitos emocionais é decisiva para produzir designs influentes. Vieses configurados no cérebro, que são capturados pelo neurodesign, podem ser rastreados para elaborar designs emocionais mais significativos.” (p. 29)

“Este é um dos pontos deste livro: o quanto os consumidores percebem como positiva a inserção do entendimento do seu inconsciente como metodologia para criação de novos produtos.” (p. 32)

– É claro que é bom ter melhores produtos. Mas pense no que investigar nosso inconsciente implica: implica em andarmos muito próximo do limiar da manipulação subliminar. A publicidade sempre fez isso, mas sempre a perdoamos porque assistir comerciais é tão chato durante seu programa favorito que se uma propaganda pelo menos nos divertir ou nos emocionar, já ganhamos algo. Mas quando a gente sabe que a publicidade está fazendo esta manipulação em escala industrial-científica, quando um excelente resultado deixa de estar nas mãos de uma pessoa absolutamente genial na leitura do comportamento humano e passa para poderosas ferramentas computacionais com big data, bom, eu não tenho tanta certeza de que as pessoas ficarão felizes.

“Outro ponto de destaque é o quesito novidade, que segundo o autor [Pradeep, 2012] também deve ser monitorados e considerado, já que é uma novidade pode se transformar em tédio e, depois, em irritação.” (p. 71)

– Entre no Threads: lá está a maior comunidade de divorciados e divorciadas do Instagram reclamando do quanto o Instagram lhe irrita e que “já deu”.

 

Módulos instalados de fábrica

“Segundo Ramachandra (2008),a neuroestética defende que a percepção do belo obedece às leis universais que se relacionam com aspectos neurobiológicos do processamento de informações comuns a todos os homens.” (p. 49)

– Olhe, vou te dizer, então esse povo precisa urgentemente descobrir os furos nessas leis, porque os desenhos de IA, apesar de belos, são feios.

“Pradeep (2012) assevera que a marca é o coração do negócio, já que os seres humanos têm a necessidade estrutural de se relacionar não apenas com outros seres humanos, mas também com os objetivos e instrumentos funcionais e de diversão que usam no cotidiano.” (p. 73)

– Começou com o Tamagochi, aí vieram os pais e mães de pets, agora são os pais e mães de plantas.

 

Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2024

SOLER, Sarah. Neurodesign: a neurociência aplicada ao design. São Paulo: Blucher, 2024.

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