Casa Máy > As Melhores Partes - Posts > autoconhecimento > Minhas melhores dicas de saúde – Dr. Rüdiger Dahlke
Nas bibliotecas de terapeutas complementares, não há nenhuma que não tenha ao menos um livro escrito pelo médico naturalista alemão Rüdiger Dahlke (1951): ou será A Doença como Caminho (Cultrix, 2003), ou A Doença como Linguagem da Alma (Cultrix, 2003), ou ainda algum dos que falam sobre respiração, alimentação ou sono. Rüdiger é best-seller total nesse meio. Parece que nunca é demais ler alguma de suas inúmeras obras publicadas, pois elas têm qualidade técnica e sensibilidade na mesma medida. E, não, não são livros de auto-ajuda; ou melhor, sim, são: auto-ajuda gabaritada, feita com consciência, que não apela pro medo que as pessoas têm de adoecer, envelhecer, morrer pra vender milhares de exemplares. Em Dahlke, a saúde é inerente à vida e o caminho de cura é o retorno ao momento presente.
Este pequeno volume, Minhas Melhores Dicas de Saúde (Cultrix, 2012), foi lançado pela primeira vez na Alemanha como livro original, não se tratando, portanto, daquelas coleções sem-vergonhas de melhores textos que editoras brasileiras têm mania de fazer pra surfar na onda de best-sellers. Trata-se de 62 textos entre os quais apenas os sete primeiros realmente falam do físico – os demais falam todos sobre ouvir a alma. É uma leitura agradável e simples, com bons insights, alguma comicidade, e toda a cumplicidade e compaixão típicas da escrita do autor.
Vá fundo. Você aproveitará cada página. Abaixo selecionei alguns bons trechos.
Poesia na terapia
“Além disso, a respiração é uma maneira de lançar pontes, no sentido mais profundo do termo, uma vez que ela une o consciente e o inconsciente. Passando despercebida durante a maior parte do tempo, ela pode ser notada a qualquer momento. Entre corpo e alma, ela é o pontífice.” (p. 28)
– No yoga, costumamos dizer que, ao inspirar, trazemos o mundo pra dento da gente e, ao expirar, nos damos a ele.
Não há milagres pra Natureza; pra ela, tudo é natural
“Chamamos o processo como um todo de fotossíntese e oxidação, ou simplesmente de vida.” (p. 29)
– É comum ouvirmos que cientistas costumam ser ateus e, no meio do caminho, se tornam teístas. Quanto mais se conhece o mecanismo, menos se duvida da existência de um engenheiro.
“ ‘O acaso é o pseudônimo que Deus se dá quando não quer ser reconhecido’, diz o ditado, exprimindo, assim, que nada na Criação está fora da grande ordem. Estabelecer-ser intelectualmente no cosmos ou no caos é uma das decisões mais fundamentais da vida. O primeiro leva à religião, enquanto o segundo conduz, a curto prazo, à ciência e, a longo prazo, igualmente à religião, sobretudo quando se reflete com coerência e tempo suficiente […]” (p. 111)
– Quão brilhante não é essa reflexão? estabelecer-se intelectualmente no cosmos ou no caos? Acho que oscilamos entre uma escolha e outra. É que ambas coexistem, afinal, tudo é cosmos, inclusive o caos.
“Sempre que se conseguir fazer com que os pacientes riam de si mesmo ou sorriam interiormente, a cura poderá ser alcançada.” (p. 64)
– Se ainda não viu, assista Robin Williams em Patch Adams (1998). Fala sobre isso, baseado em fatos reais.
“Até hoje, ninguém morreu realmente de rir, mas não se pode dizer o mesmo dos que ficam deprimidos.” (p. 64)
– E não é mesmo?! Hahaha
Anatomia sutil
“É importante saber que, por trás de toda cicatriz, também existe uma cicatriz correspondente de energia e que, portanto, é preciso tomar cuidado tanto com as cicatrizes externas quanto com a internas. E, sobretudo, não se deveria obtê-las voluntariamente com uma cirurgia quando existem outras possibilidade de tratamento.” (p. 47)
– É claro que ele está falando de cirurgias, mas furar orelha produz cicatriz, pôr piercing no umbigo também, tatuagem e até aparelho de dente. Certa vez ouvi um homeopata dizendo que alguns colegas na Índia desrecomendam fortemente aparelhos nos dentes, por desequilibrarem a energia vital da pessoa. Se for verdade, aqui no Brasil, com esta febre de dentes imaculados, estamos todos lascados.
O poder do agora
“Diante de uma rua infinitamente longa, a um verdadeiro varredor resta apenas uma coisa a fazer: sempre encarar o próximo trecho a ser varrido. Assim, em cada moemnto ele é capaz de varrer toda a rua. Isso é que é ser zen na arte de varrer as ruas! E é algo que pode ser estendido a toda atividade. Até mesmo o segredo de um esportista de sucesso se encontra nessa arte: sempre jogar a bola da vez!” (. 49)
– A força do presente é tema inesgotável. Até em treinamentos de habilidades empreendedoras se ensina isso, só que com outro nome: visão, missão, objetivos, metas e estratégias. Sempre é um passo de cada vez e a cada vez um passo.
“Sobretudo, porém, o aprendizado deveria incluir as regras. Quer quer jogar futebol evidentemente aprende primeiro as regas e sabe, por exemplo, que no intervalo entre os dois tempos as equipes devem mudar de lado no campo. Contudo, na vida, são poucas as pessoas que sabem disso. Por conseguinte, não mudam de lado quando estão na menopausa ou na andropausa e se surpreendem quando, na segunda metade da vida, só marcam gol contra.” (p. 55)
– Em que pese a chatice da metáfora futebolística, ajuda entender, não ajuda? Creio que os gols contra são marcados sobretudo porque os rituais foram perdidos. Quando cada etapa da vida é marcada por um ritual, fica mais tranquilo aceitar as mudanças.
“A ambição manifesta a resistência ao momento, pois sempre queremos estar em outro lugar, em um lugar mais além do que aquele em que estamos. Desse modo, a ambição se torna um grande obstáculo para se alcançar a unidade. Nesse sentido, há um paradoxo e, por isso, uma orientação tipicamente oriental na forma de dois conselhos para se chegar ao caminho do desenvolvimento. O primeiro diz: saiba que não há nenhuma possibilidade de alcançar a unidade ou Deus. E o segundo: aja como se nada soubesse do primeiro conselho.” (p. 62)
– Você também sorriu, não sorriu?
“Existem dois tipos de sabedoria: a de planejar com antecedência e a de não planejar. Se observada mais de perto, essa contradição desaparece. Quem vive para o dia de hoje sem planejamento , sem consciência nem objetivo irá perder no jogo da vida. No entanto, quem reconhece a vida como um jogo e vive cada momento com consciência alcança melhor seu objetivo sem planejamento. Contudo, em geral, essa segunda postura requer experiência com a primeira.” (p. 121)
– Começou na minha geração, a X, esta loucura de queimar etapas que aniquila a felicidade da Y.
Modo: Espiritualidade
“Todos os caminhos espirituais têm apenas um objetivo, que pode ser facilmente descrito com o centro de uma mandala. De onde quer que os caminhos provenham e independentemente da tradição que se use para segui-los, todos terminam na unidade desgnada pelo ponto central na mandala.” (p. 61)
– Gostei demais de enxergar a vida espiritual como uma mandala, é tão libertador quanto a proposta que Sheryl Sandberg fez de enxergarmos a carreira profissional como um trepa-trepa e não como uma escada.
“Em contrapartida, a culpa é um conceito religioso, estreitamente ligado ao pecado. No texto bíblico primitivo, pecar tem o nome de hamartanein, que significa tanto “isolar-se” quanto “perder o ponto”. Portanto, uma pessoa pecadora é alguém que se isolou de Deus, ou melhor, da unidade. É alguém que perdeu o ponto (central) na mandala e que está à margem de seu caminho na vida. Por conseguinte, é também alguém que desembarcou no mundo dos opostos, da polaridade. Como isso vale para todos nós, nesse sentido também somos pecadores, o que no catolicismo é expresso com o conceito de pecado original. Desse modo, pecar é algo de que ninguém está isento. Por isso, não existe razão para o duradouro comércio do pecado que se espalhou em muitas religiões. Como a culpa é algo tão fundamental, não faz sentido redistribuí-la constantemente e deixar-se abater por seu peso.” (p. 114)
– Pow!
“Que pena seria fracassar em temas tão agradáveis como prazer e amor, prazer sensual e entrega, e ficar de recuperação na escola da vida. Para evitar esse destino, seria mais lógico não postergar o prazer, e sim começar a desfrutá-lo de imediato.” (p. 70)
– São tantos os mitos que falam da necessidade do homem experimentar todos os aspectos da vida! Mas deixo aqui a indicação de leitura da Maíra, de Darcy Ribeiro. Maíra-Coraci, divindidade indígena, resolve descer à Terra para experenciar a criação. Advinha se não se maravilha com o sexo?
“ […] a humildade é mais uma questão de inteligência do que de fé. Pois a vontade Dele é feita de todo modo.” (p. 87)
– Aceitar a realidade sempre é uma questão de inteligência. Sei que o assunto aqui é felicidade, mas toda vez que leio sobre aceitar as coisas como são recordo do livro Por que Virei à Direita? em que três autores explicam que abandonaram o idealismo de esquerda quandoa aceitaram a natureza humana.
A difícil arte de pôr em prática
“O desapego é a solução para muitos problemas. Essa é uma lição que serve tanto para o executivo de alto escalação que sofre de pressão alta quanto a dona de casa e mãe estressada de crianças agitadas ou hiperativas. Para a maioria dos sintomas modernos, que vão de zumbido no ouvido até problemas de orgasmo, esta seria a saída.” (p. 78)
– Não comece postar isso no Facebook! Sei o que está pensando, mas isso não tem nada de simplista. Leia pelo menos 400 páginas de Dahlke antes de achar que seus conselhos são ridículos.
“Quem foi ofendido também fica com o sofrimeto entalado na garganta. Nesse sentido, o conselho de John Berry – “Perdoe seu vizinho antes de esquecer a ofensa” – é bastante claro, pois somente assim conseguimos reaver a energia que despendemos com a situação.” (p. 110)
– Quando me irrito e discuto com alguém, arrependo-me profundamente, mas sempre me recordo que as pessoas são infinitamente melhores que as ideias que expressam – e isso vale pra mim e pro outro.
“Por outro lado, nossa verdade pessoal, determinada por nossa pequena realidade, é sempre relativa, assim como três fios de cabelo na sopa representam uma quantidade relativamente grande, mas na cabela sao poucos.” (p. 126)
– Tente não fazer escândalo na próxima vez em que encontrar cabelo na sua sopa. Lembre-se de que foi fervido.
“Felicidade é querer tudo o que se recebe. Para tanto, temos apenas de perder a esperança de receber tudo o que queremos.” (p. 126)
– Diminuir a ambição é o segredo.
“A esse respeito, diz Lao-Tsé: ‘Um homem aparentemente corajoso arrisca a própria vida, um homem de fato corajoso arrisca-se a viver’.” (p. 152)
– Então não é?
Especismo
“Nos dois últimos milênios, tal como nossas irmãs e nossos irmãos, na maioria das vezes os animais foram tão ignorados quanto as pessoas de outra cor, os deficientes e as mulheres.
“Bastaria conhecermos um único exemplar de uma espécie animal para perdermos a vontade de comê-los. Depois que alguns patos vêm bater o bico em nosso jardim de inverno para nos avisar que estão com fome, certamente deixamos de comê-los.” (p. 106)
– Atualmente, voluntários da Sociedade Vegetariana Brasileira estão colocando a mensagem em outdoors pelas capitais: “Se você ama uns, por que come outros?”
“No entanto, são poucas as coisas que as pessoas acham mais extenuantes do que a espontaneidade, uma vez que ela exige a total renúncia aos conceitos e às medidas de segurança. Preservar a própria originalidade requer esforço constante, coragem e, sobretudo, defesa contra a maciça pressão à adaptação, exercida por uma sociedade estabelecida no conformismo. A maioria das pessoas nasce como original e morre como cópia simplesmente porque é muito mais fácil imitar modelos e papéis do que encontrar e percorrer o próprio caminho.” (p. 155)
– Se seu filho não quiser comer carne, deixe-o. E se informe sobre como a dieta vegetariana dele pode ser tão (ou mais) nutritiva que a dieta onívora.
revisto por Mayra Corrêa e Castro © 2014