Casa Máy > As Melhores Partes - Posts > contos > Eles eram muitos cavalos – Luiz Ruffato
Se Wilson Martins (1921-2010), crítico literário dos mais aclamados, lia um livro de que não gostava por honestidade intelectual, eu leio por humildade intelectual: para aprender. Trata-se deste Eles Eram Muitos Cavalos. Li, e não gostei gostando. Tá, confesso, livro é bom pra caramba. Mas não quero mais ler nada parecido, o tema não me interessa, o estilo é enervante. Está lido, como estou eu morando em Curitiba (antes em São Paulo) há 16 anos. Deixei pra trás (São Paulo), não aguentava aquilo. Pretendo não voltar, mas nunca se sabe.
Estou numa jornada instrutiva, obrigando-me a ler os autores brasileiros contemporâneos. Favoritos ainda nenhum: minha sensibilidade é muito anacrônica. Mas este Eles Eram Muitos Cavalos, de Luiz Ruffato (1961), precisa ser lido, porque você recordará imediatamente dos experimentalismos do grupo da Semana de 22, lembrará de algumas tipografias “dada”, porque a prosa de Ruffato neste livro tem aquela coisa de estrutura poética, mas poesia de lirismo torto. Na Semana de 22 havia o futuro; na São Paulo de Eles Eram o futuro chegou e é uma merda. Lá eram os bem de vida falando de seus anseios, aqui são os que pouco ou nada têm, nem dignidade, falando de coisa nenhuma que é o viver o dia a dia. Li até a metade e fui fazer almoço – nem sei como não salguei tudo demais. Depois do livro, não precisa ler autoajuda; a gente não tem coragem de reclamar de mais nada.
Eu acho que não vou selecionar nenhuma parte melhor. Não é um livro de lições em um parágrafo. Se arrancar alguma coisa que for de dentro dele, perde a força. E isso é bem esquisito: a fragmentação é que vai dando tônus ao livro. Deve ser como naquele slogan de política em São Paulo, “construída com o trabalho de cada paulistano.”