Casa Máy > As Melhores Partes - Posts > autoras > É sério… Estou brincando – Ellen DeGeneres
Ellen (1958) é comediante, atriz e apresentadora. Uma das mais talentosas e versáteis da atualidade, já dublou um peixe fofinho em Procurando Nemo, fez série de TV, foi júri no American Idol e apresentadora do Oscar. Desde 2003 ela tem seu próprio programa na televisão norte-americana, chamado The Ellen DeGeneres Show (retransmitido no Brasil pelo GNT no horário ingrato das 2 da tarde ou das 2 da manhã) que, como ela própria diz, as pessoas acabam assistindo porque a Oprah encerrou o dela.
O melhor de Ellen é que ela não se leva a sério, mas ela é seriíssima: tudo em que coloca a mão ganha consistência de propósitos, que são os de transmitir alegria, diversão, relaxamento e propagar o respeito e a valorização da diferença, seja de opção sexual (Ellen é gay), seja de dieta (Ellen se tornou recentemente vegana), de hobbies ou de como você acha que pode ser feliz.
Este livro, que é seu terceiro, vem como uma reflexão bem-humorada da atriz sobre seu cinquenta e poucos anos. Sim, também fiquei em choque de saber que essa jovialidade toda tem mais de cinquenta, porque Ellen não aparenta MESMO! O livro é uma piada atrás da outra, claro – mostrando que o gênero comédia é o mais inteligente de todos – , e ainda possui algumas sacadas que brincam com o formato livro e com o próprio mercado editorial. Acho que, se você curtir a Ellen, deve ler. A leitura fica mais engraçada se você imaginar sua dicção rápida, aqueles olhos vesguinhos e o nariz torto e o sorriso que ela faz sempre que finaliza uma piada. Se for ler pensando em Chico Anysio ou no Pânico, esqueça: o stand-up norte-americano tem suas próprias regras para ser “rido” e, se a tradução simultânea do Oscar nos dá a impressão de que é impossível fazer piada em inglês, a tradutora do livro de Ellen, Maya Bellomo Johnson, conseguiu a proeza de tornar algumas até melhores quando escritas em português.
Abaixo transcrevo alguns trechos favoritos. Mas não posso transcrever as piadas, senão entrego a cereja do livro.
Domingão do Faustão
“ ‘Então, como meu leitor, você gostaria de ler sobre o quê?’ – eu me perguntei. (…)
Como não [sei] nada específico sobre você, a não ser que talvez tenha cabelos castanhos, decidi incluir algo para todos neste livro. Você vai encontrar alguns contos para adultos, páginas de colorir para as crianças e muitas coisas para todas as idades intermediárias.” (p. 12-13)
– Ellen tem um público variado, de crianças a adultos, e brinca com isso em seu livro e de uma maneira divertida (para não dizer genial). De fato, há de tudo um pouco nele, mas não assim, jogado, como se você uma baderna. Existe uma estrutura no livro e o objetivo dela é lhe render algumas horas de bem-estar e risadas. Ah, se todo programa multifaixaetária no Brasil fosse como o livro de Ellen…
(54)
“Não sei com que idade deixamos de querer ser mais velhos. As pessoas parecem gostar dos vinte e dos trinta anos. Deve ser depois de uma ‘certa idade’, passado o ‘cume da colina’. Nem sei o que isso quer dizer nem por que isso é algo ruim. Quando vou fazer uma caminhada e passo o cume da colina, isso quer dizer que passei a parte mais difícil e há um lanche no meu futuro. A meu ver, isso é bom.
As pessoas parecem ficar tímidas durante seus cinquenta e sessenta anos, mas quando chegam aos setenta ou oitenta, elas voltam a assumir a idade, pois é uma vitória e tanto ter conseguido chegar até ali. Ninguém chega aos cem anos e fala que tem só noventa e cinco. Então não entendo por que alguém tem que mentir sobre os anos do meio. Deveríamos comemorar cada ano por qual passamos e cada ano no qual somos mais felizes e saudáveis.” (p. 18)
– Não é mesmo uma ótima passagem do livro?! Agora, complete a pergunta:
Ellen De Generes (54)
Fernando Henrique Cardoso (81)
Eva Wilma (78)
Dilma Rousseff (64)
Glória Maria ( )
Sentido da vida
“Todos nós passamos algum tempo procurando o sentido da vida, pois achamos que ele nos aproximará daquilo que todos nós queremos – aquilo que, não importa o que fizermos nas nossas vidas ou para onde formos ou com quem nos casarmos, todos nós almejamos. É a coisa mais importante do mundo: dinheiro. Não, foi mal, dinheiro não. A felicidade. É isso que eu quis dizer. Felicidade.” (p. 33)
– Riso, substantivo de gênero masculino que significa o extravasamento de uma verdade incômoda
“Você deve viver cada dia como se fosse o primeiro ou o último? Seja como for provavelmente estará usando fraldas.” (p. 34)
– Realmente não importa. Regras para viver melhor e mais feliz só nos constrangem a segui-las. A ideia é liberdade, sacou?
Yoga
A palavra ‘ioga’ quer dizer literalmente ‘unir’, pois quando você a pratica está unindo sua mente e seu corpo. Você pode perceber isso quase que imediatamente, pois sua mente vai pensar ‘ai, isso dói’, e seu corpo vai dizer ‘é, eu sei´. E sua mente irá dizer ‘você precisa sair dessa posição’, e seu corpo responde, ‘concordo, mas agora não consigo. Acho que estou preso’.” (p. 63)
– Ok, a piada é velha, mas Ellen conhece yoga e pratica meditação. Love her.
Ecologia
“Em segundo lugar, tem um jeito muito fácil de economizar água: tome banho em grupo. É divertido. É amigável. No começo, minhas faxineiras resistiram à ideia, mas felizmente meu paisagista conseguiu convencê-las.” (p. 150)
– Ministério da Saúde adverte: banhos em grupos são ótimos para o humor, mas o Ministério do Meio Ambiente pediu para avisar que isso está consumindo muito mais recursos hídricos. Aparentemente, as pessoas esquecem que a ducha está aberta.)
Seja legal!
“Existem muitos lugares que contam com a nossa honestidade. Algumas lojas oferecem balinhas na esperança de que você pegue somente uma ou duas.” (p. 157)
– Ah, só por isso?, continue sendo mau uahaha, uahaha.
Ria, ria muito.
“Está provado que, quando estamos otimistas e felizes, as endorfinas correm pelo nosso corpo. Não sou cientista nem nada, mas sei o que são endorfinas. São elfos minúsculos e mágicos que nadam pela corrente sanguínea e contam piadas engraçadas uns aos outros. Quando eles chegam ao cérebro, você escuta o que estão falando, e isso traz melhoras para sua saúde e sua felicidade. ‘Toc-toc… quem é?… Uma endorfina… Uma endorfina quem? uma dor fina de matar.’ E as endorfinas riem. Viu? Ciência pura!” (p. 160)
Nossa, puxa, agora entendi. Você também, não? aposto!
Questões de generes
“Pode ser que chegue o dia em que não vamos precisar dividir o sucesso em termos de gênero. Talvez não vamos mais precisar dizer que um homem fez isso ou uma mulher inventou aquilo. Talvez possamos simplesmente dizer que uma pessoa maravilhosa, inteligente e criativa fez algo extraordinário e ponto final. Mas, até lá, sinto orgulho de ser uma das irmãs que estão conquistando as coisas por si mesmas.” (p. 170)
– Go beautiful!
revisto por Mayra Corrêa e Castro (C) 2012
DEGENERES, Ellen. É sério… Estou brincando. Tradução de Maya Bellomo Johnson. Belo Horizonte: Editora Gutemberg, 2012.