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Bartleby, o escrevente – Herman Melville

Postado às 14:49 do dia 24/07/14

Dito antes cedo do que tarde, Herman Melville (1819-1891) é o autor de Moby Dick (1851). Então ele escreveu este conto (ou, como queira, novela) dois anos depois. Se Moby Dick o tornou popular entre letrados e iletrados (como curiosidade, há 18 anos leitores apaixonados pela narrativa se revesam todo ano, em janeiro, no New Bedford Whaling Museum, para ler ininterruptamente a obra no evento que é chamado Moby-Dick Marathon), Bartleby, o escrevente o tornou cult entre letrados e pretensamente letrados. Amantes de Kafka tendem a gostar demais de Bartleby e Enrique Vila-Matas escreveu um romance inspirado na história. Ele também virou filme, peça de teatro e nome de personagem de televisão.

Que tanto tem a ela? Tem um narrador em primeira pessoa, o patrão do escrevente Bartleby, que simplesmente se instala no escritório do chefe, lá vivendo, comendo e se limpando, e decide não trabalhar mais. E toda vez que é instado a se mexer ou a sair de lá, responde com o chavão “preferiria não” (I would prefer not to, em inglês). Sua recusa simples e tranquila é desconcertante e faz valer a máxima “os incomodados que se mudem”.

Da novela já disseram que ela foi a precursora do absurdismo, também no non-sense. De minha parte, que li razoavelmente Balzac, encontrei os mesmos cenários, os mesmos recortes psicológicos e as mesmas motivações. De fato, uma vez que se lê Bartleby, nunca mais será possível esquecê-lo, como todo bom enigma insoluto. Só que a vida divide os leitores entre aqueles que se empolgam com soluções e os que gostam de crimes perfeitos. Bartleby é um crime perfeito. Se você consegue conviver com isso, será o livro de sua vida; se não, será apenas mais um livro na estante.

Abaixo selecionei alguns trechos bacanas.

 

Wall Street

“Não que se tratasse de cargo muito penoso; ademais, vinha acompanhado de adorável remuneração.” (p. 13)

– Toda remuneração, se muita, é adorável; e mesmo quanto pouca, não chega a ser odiosa.

“Nada irrita tanto uma pessoa séria quanto a resistência passiva.” (p. 33)

– Mahatma Gandhi.

 

Motivações

“Mas, que se diga em primeiro lugar: sou um homem que, na juventude, imbuiu-se da profunda convição de que, no tocante à vida, o caminho mais fácil é também o melhor.” (p. 12)

– Sempre é; a gente é que duvida.

“Sempre o julguei vítima de duas terríveis forças, a ambição e a má digestão.” (p. 18)

– É uma frase beeem balzaquiana.

“O momento que imediatamente sucede o despertar pela manhã é um dos mais tranquilos e sábios que um homem pode conhecer.” (p. 54)

– Por isso sempre achei criminoso acordar pela campainha estridente de um despertador.

“Ele era um homem de preferências, não de pressupostos.” (p. 54)

– Outra frase beeem balzaquina.

 

Boa gente trabalhadora

“A verdade era, suponho, que um homem de tão parcos redimentos não podia arcar com a exposição simultânea de rosto e casaco asseados.” (p. 21)

– É surreal pra gente entender esta dificuldade de acesso à água no passado.

“(…) no caso de Nippers estava certo de que, quaisquer que fossem seus problemas específicos, ele ao menos era um rapaz abstêmio. No entanto, aparentemente a própria natureza lhe fez as vezes de vinicultora, oferecendo-lhe já ao nascer uma dose de irritabilidade tão digna dos amantes do brandy que quaisquer destilados tornavam-se dali por diantes desnecessários.” (p. 21-22)

– Pois é!

“Ele vive, então, à base de biscoitos de gengibre, concluí; no sentido preciso do termo, nunca almoça; deve ser, portanto, vegetariano; mas não, nunca come vegetais, sua alimentação está restrita a biscoitos de gengibre.” (p. 32)

– Gente, não é divino alguém pensar que se a pessoa não come é porque é vegetariana?! Hahaha

“Decidi reunir todas as minhas forças e livrar-me para sempre daquele tolerável parasita demoníaco.” (p. 63)

– Céus! É muito para um homem ser intolerável, parasita e ainda demoníaco! 🙂

revisto por Mayra Corrêa e Castro © 2014

MELVILLE, Herman. Bartleby, o escrevente. Tradução de Bruno Gambarotto. São Paulo: Grua, 2014. Série A arte da novela, v. 1.

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