Casa Máy > As Melhores Partes - Posts > aforismos > As leis fundamentais da estupidez humana – Carlo M. Cipolla
Antes, bem antes de Eco ter decretado (2015) que as redes sociais haviam dado voz a legiões de idiotas, um autor propôs (1976) um conjunto de leis para identificar a estupidez humana. Pequeno ensaio escrito originalmente em inglês pelo historiador italiano Carlo M. Cipolla, “As Leis Fundamentais da Estupidez Humana” revela que não fomos capazes de aprendê-las, ou não teríamos deixado as redes sociais serem inventadas pra começo de conversa.
A única maneira não estúpida de demonstrar que algo é estúpido é através da ironia. A única maneira de conviver com estúpidos é rindo. Daí que conhecer a classificação de Cipolla para os tipos estúpidos disponíveis no mercado se torna útil: possibilitará a você, se estiver fadado a rir por força das circunstâncias da vida, pelo menos ter tempo de minimizar os efeitos colaterais dos estúpidos que pertencem aos quadrantes abaixo do 0 do eixo Y. Sim, sendo especialista em história da economia, Cipolla nos brindou com o gráfico da distribuição da estupidez humana. Veja abaixo:
Figura: Gráfico básico da estupidez, posição 173.
No eixo X está o candidato a estúpido ou, mais precisamente, o que ele aufere de sua possível estupidez: pra direita, aufere ganhos e, pra esquerda, perdas; no Y está a pessoa afetada pela possível estupidez ou, na verdade, se ela ganha ou perde no processo: para cima, ela ganha e, para baixo, ela perde. O gráfico, então, possui 4 áreas:
Cipolla discorre sobre as possibilidades de distribuição de ações e tipos humanos por esse gráfico e só não chegou a uma equação capaz de prevê-la porque isso, bem, isso o levaria para o quadrante V e quem quer ser estúpido assim?
Abaixo selecionei algumas boas citações de um livro ótimo, daqueles que você pode levar pra enfrentar um modorrento voo, a hora do rush dentro do ônibus ou um feriado prolongado com chuva.
Primeira, segunda, terceira, quarta e quinta leis, em ordem (caso não tenha deduzido)
“Todo mundo subestima, sempre e inevitavelmente, o número de indivíduos estúpidos em circulação.” (posição 89)
“A probabilidade de determinada pessoa ser estúpida independe de qualquer outra característica dessa pessoa.” (posição 116)
“Uma pessoa estúpida é uma pessoa que provoca perdas para outra pessoa ou um grupo de pessoas enquanto não obtém nenhum ganho para si mesma, e possivelmente incorre em perdas.” (posição 190)
“Pessoas não estúpidas sempre subestimam o poder de causar danos dos indivíduos estúpidos. Em particular, pessoas não estúpidas se esquecem constantemente de que em todo momento e lugar, e sob qualquer circunstância, lidar e/ou se associar com pessoas estúpidas resulta infalivelmente em um erro altamente custoso.” (posição 313)
“Uma pessoa estúpida é o tipo mais perigoso de pessoa.” (posição 324)
– Essas leis têm algumas consequências. A mais importante é que nenhum lugar está imune de ter estúpidos. Nenhum. Se você não considera as pessoas com quem convive estúpidas, então o estúpido pode ser você, porque alguém terá que ser.
O estado da arte
“Os assuntos humanos estão, sabidamente, em um estado deplorável. Isso, porém, não é novidade. Até onde temos conhecimento, os assuntos humanos sempre estiveram em um estado deplorável.” (posição 70)
– Sabidamente pra nós, sim; pra eles, não.
“(…) uma margem de imprecisão pode afetar a medição, mas não afeta a essência do argumento.” (posição 173)
– Guarde esta frase pra quando vierem te amolar eu você está sendo impreciso em uma discussão. Quem não consegue perceber a essência de um argumento é o quê?
“Fica-se tentado a acreditar que um homem estúpido só vai causar mal a si mesmo, mas isso é confundir estupidez com vulnerabilidade.” (posição 301)
– Muito já perdemos por haver quem confundiu c* com bunda.
O estado da burrice
“A pergunta que pessoas sensatas fazem com frequência é como e por que pessoas estúpidas conseguem alcançar posições de poder e relevância.” (posição 256)
– Não revelarei a resposta pra que você se sinta tentado a comprar o livro.
“Pessoas essencialmente estúpidas são perigosas e prejudiciais porque pessoas racionais acham difícil imaginar e compreender o comportamento irracional. Uma pessoa inteligente pode entender a lógica de um bandido. As ações do bandido seguem um padrão de racionalidade: uma racionalidade suja, se você preferir, mas ainda assim racionalidade.” (posição 278)
– Como no caso de fanáticos, não se explica: apenas se lamenta sua existência.
“O fato de a atividade e os movimentos de uma criatura estúpida serem absolutamente instáveis e irracionais não apenas tornam a defesa problemática, mas também fazem com que qualquer contra-ataque seja extremamente difícil – como tentar atirar em um objeto capaz dos movimentos mais improváveis e inimagináveis. É isso o que Dickens e Schiller tinham em mente quando o primeiro disse que ‘com estupidez e boa digestão, um homem pode ousar muita coisa’, e o segundo escreveu que ‘contra a estupidez, os próprios Deuses lutam em vão’.” (posição 289)
– Se você pratica um esporte tipo beach tênis, sabe que é mais fácil alguém que não sabe jogar lhe infligir uma derrota do que alguém que sabe, mas está em um dia ruim.
“Quando pessoas estúpidas estão em ação, a história é totalmente diferente. Pessoas estúpidas causam perdas a outras pessoas sem contrapartida de ganhos para si mesmas.” (posição 336)
– Exatamente: a partida fica uma porcaria pra ambos.
Escrito por Mayra Corrêa e Castro © 2025
CIPOLLA, Carlo M. As leis fundamentais da estupidez humana. Tradução: Edmundo Barreiros. São Paulo: Planeta, 2020. E-book.