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A vida privada das árvores – Alejandro Zambra

Postado às 22:08 do dia 09/03/14

Alejandro Zambra é chileno, fará 40 anos em 2015 e foi selecionado pela revista britânica Granta como um dos melhores escritores jovens de língua espanhola da atualidade. Então, quando o cara veio ao Brasil na Flip, na época do lançamento, por aqui (2012), de seu livro Bonsai, causou tietagem. Em 2007, ele escreveu A Vida Privada das Ávores, traduzido ano passado pela Cosac Naify. O livro é pequeno, tem uma capa bacaninha e uma história banal. Bem banal, aliás. Mas é escrito de um jeito incomum. Isso tem se tornado uma praga na minha geração: à falta de boas histórias, apela-se à esquisitice na linguagem. Então, sinceramente, não saberia dizer se o livro é ótimo ou tolo.

Quase nem dá pra resumir a história pra você, que é um flashback to the future da vida de uma família em que nunca se soube do paradeiro da mãe. Quando lembro que esse mesmo mote – uma mãe desaparecida – pariu o divertidíssimo e super bem-escrito Cadê Você, Bernadette?, de Maria Semple, penso que a atualidade não sabe mais rir: prefere ficar carrancuda e ler A Vida Privada das Árvores. De qualquer forma, algumas passagens são interessantes, algumas boas frases: estão cá embaixo.

 

América Latrina Latina

“Além do mais, no Chile não é tão grave dar aulas de poesia italiana sem saber italiano, porque Santiago está cheia de professores de inglês que não sabem inglês, de dentistas que mal sabem extrair um dente – e de personal trainers com sobrepeso, e de professores de ioga que não conseguiriam dar aulas sem uma generosa dose prévia de ansiolíticos.” (p. 22)

– Viria Alejandro pro Brasil e poderia facinho acrescentar: e de médicos doentes, que não se alimentam bem, não tomam os remédios que têm coragem de receitar aos pacientes, não fazem atividade física e que não cumprem horário no SUS pois estão na sua clínica particular.

“É psicóloga. Houve um tempo em que era quase impensável alguém tomar uma decisão sem primeiro consultar seu psicólogo. Foi uma moda que chegou ao Chile um pouco tardiamente e que durou pouco: da noite para o dia centenas de psicólogos ficaram sem trabalho, decerto em virtude da invasão da ioga e dos especialistas em reiki.” (p. 68)

Um dos mais conhecidos estúdios de yoga do mundo está em Santiago, Chile. Não sei se Zambra passou por lá mas, se passou, coitado, deve ter ficado traumatizado – quantas vezes você vê, num romance de 82 páginas, que não fala sobre yoga, duas referências ao yoga? De qualquer forma, o Brasil também tem dessas modas. Pra ficarmos no tema: a musculação nos anos 70 cedeu lugar à aeróbica nos anos 80, que cedeu lugar às aulas-circuito nos anos 90, que cedeu ao yoga nos anos 2000 e que cedeu ao pilates nos anos 2010. Da psicanálise fomos pras terapias corporais reichianas, então à maconha, daí para o teatro experimental e finalmente florais, reiki, radiestesia, apometria. É incrível que tenhamos chegado, em 2014, no coaching: como é que passamos da maconha ao coaching?!

 

Lógica

“Receitaram-me óculos, mas não pretendo usá-los, ao menos até tirar o aparelho. Desde pequena meu lema foi: ou aparelho, ou óculos.” (p. 49)

– Só posso concordar. É que nem ser gorda e ter espinhas: incompatíveis!

 

Aromaterapia

“As flores do meu jardim / vão ser minhas enfermeiras, canta Julián […]” (p. 63)

– Enfermeiras, amantes, conselheiras, mães, filhas – não conheço nada que as flores não possam ser.

 

Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2014

(Se compartilhar ou citar, mencione a fonte. É simpático e eu agradeço.)

 

ZAMBRA, Alejandro. A vida privada das árvores. Tradução: Josely Vianna Baptista. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

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