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Depois do êxtase, lave a roupa suja – Jack Kornfield

Postado às 10:10 do dia 06/01/14

Dentro da literatura pra expansão da consciência, existem alguns clássicos: este livro do Jack Kornfield é um deles. Ex-monge budista, professor de meditação, autor de 14 livros traduzidos em 20 línguas, escreveu Depois do Êxtase, Lave a Roupa Suja em 2000 como forma de mostrar que o caminho da espiritualidade é cheio de derrapadas desastrosas, e que a iluminação da consciência não nos coloca automaticamente no nirvana nem é alcançado sem dor. Pra todos que já se estreparam nas mãos de mestres sociopatas, gurus patifes ou que, mesmo tendo professores idôneos e dedicados, sofreram quando tiveram que sair de um período sabático ou de um retiro prolongado pra viver a dura realidade de trabalhar, ganhar dinheiro e viver em família, a leitura é indispensável.

A maneira como Jack organizou o livro foi inserindo depoimentos de pessoas experientes no caminho espiritual, de várias religiões e filosofias, com seus próprios comentários. Não comparecem apenas budistas, mas mulçumanos, professores de yoga, xamãs, freiras e padres, missionários evangélicos, vários perfis que contam como levaram alguma lambança da vida depois que acharam que estavam livres das vicissitudes dela. Na primeira metade do livro, Jack mostra que é natural mergulharmos com tudo na busca espiritual, porque esse é um chamado do coração. E, ansiosos e inocentes, passamos por iniciações, sendo a maior parte delas as não-esperadas, isto é, aquelas que trazem o Despertar através de desilusões e frustrações com os próprios mestres. Na segunda metade, ele já vai tratar da vida pós-iluminação, se é que o termo parece adequado, dando exemplos de como é fácil viver num ashram, mas como é difícil viver na cidadezinha onde você nasceu, estudou e cresceu.

O livro não é nem pessimista, nem otimista. É verdadeiro, assim como os ensinamentos do budismo. Constatar o que é, em vez de supor o que seria ou lamentar o que foi é focalizar a mente no presente – isso, sim, o único êxtase possível.

Selecionei alguns trechos pra citar. Mas o livro deve ser lido de cabo a rabo. Isso é apenas uma aperitivo. Espero que goste.

 

Gurus

“Um ditado tibetano diz que devemos viver a uma distância de pelo menos três vales do nosso guru. Como entre esses vales há montanhas enormes, ver o professor significa uma dura viagem de vários dias. Mas é só a essa distância que a perfeição do guru nos inspira.” (p. 16)

– Esse ditado deveria vir escrito na porta de cada ashram, acrescido da palavra “perigo”.

“No início podemos experimentar várias tradições e práticas, mas no fim temos que escolher uma prática e segui-la de todo o coração.” (p. 38)

– Todos os gurus dizem que o aluno deve seguir unicamente os ensinamentos dele. Mas, veja, a maior parte dos gurus que diz isso teme que o aluno deixe de dar contribuições financeiras ao ashram ou por vaidade. Um guru deveria dizer “vá, conheça outros professores, outras filosofias, experimente; depois de experimentar, se quiser, volte; e, se quiser voltar, caberá apenas a você ser fiel a mim ou não.” A decisão de seguir apenas uma prática sempre, sempre, SEMPRE deve ser tomada sem nenhuma influência do guru. O resto é assédio moral.

“ ‘Se ao menos lá houvesse pessoas más praticando insidiosamente o mal, bastaria separá-las das outras e destruí-las. Mas a linha que divide o bem do mal passa pelo coração de todo ser humano e quem, entre nós, está disposto a destruir uma parte do próprio coração?´” (p. 43)

– Existe um livro, Amor Incondicional, de Paul Ferrini, que ainda vou resenhar, que explica melhor por que nem os maus são maus. Mas penso que o depoimento acima dá bem a medida.

“ ‘Se você não consegue encontrar a verdade onde você está, onde espera encontrá-la?’” (p. 67)

– O povo acha que ela está no guru. Não está, a verdade tá sempre dentro do nosso coração.

“Uma das dádivas de um bom professor é a capacidade de segurar o espelho da compaixão para que nosso coração saiba de novo se abrir.” (p. 74)

– E começamos entender o que um guru de verdade faz.

“Como diz Suzuki Roshi: ‘Estritamente falando, não há pessoas iluminada, há apenas atividade iluminada.’ Quando há um eu que reivindica a iluminação, não há iluminação.” (p. 115)

– Sacou?

“Não há nada mais penoso do que ir a conferências internacionais de Budismo. Alguns querem ser o Buda do momento, ser Maitreya, irradiar amor pelo mundo. É melhor ser uma minhoca que sabe apenas duas palavras: ‘Deixa rolar, deixa rolar, deixa rolar.’” (p. 126)

– Isso por que ele nunca foi a conferências com yogis!

“Uma área de perigo nas comunidades espirituais é o mau uso do poder. Em, geral, isso acontece quando o professor ou mestre detém todo o poder na comunidade. Quando os desejos do mestre são soberanos, quando cada palavra sua é atendida, quando não há troca e o questionamento não é bem-vindo, é possível que o professor comece a controlar a vida dos alunos, alegando que é para o seu bem. Aos poucos, a embriaguez inconsciente que o poder provoca substitui a sabedoria e o amor se transforma em recompensa, distribuída conforme a vontade do mestre.” (p. 131)

– A pior coisa que um mestre pode lhe dizer é que você não confia nele ou que você precisa se entregar a ele para alcançar sua meta. Caia fora!

“A vontade de ser salvo, de encontrar alguém que conheça a verdade neste mundo confuso, é a base de muitas comunidades de seguidores cegos.” (p. 133)

– Eis o motivo.

“A traição é um portão difícil de transpor, um exterminador da ilusão e da inocência. Funciona como uma iniciação forçada à complexa verdade da humanidade, às sombras lançadas pela luz.” (p. 140)

– Não deseje isso a ninguém, uma traição espiritual.

“Dzongsar Khyentsie Rinpoche diz: ‘Às vezes, o mestre é um grande professor, mas não necessariamente uma grande pessoa.” (p. 174)

– Sabe aquele professor detestável que você teve na faculdade mas que era brilhante pra ensinar a matéria? Então, você frequentava a casa dele, mas não entregava sua vida a ele. Fique esperto!

“Como em geral os professores espirituais são carismáticos e as tradições interessantes, a espiritualidade envolve muita imitação no começo.” (p. 183)

– Jack foi generoso em dizer que se trata de imitação. Quase nunca é: é uma imposição tácita.

 

 

A busca

“Não basta o anseio espiritual. O coração precisa de inspiração para a renovação, precisa de apoio para encontrar o perdão, para despertar a liberdade, para se abrir para a graça. Temos que encontrar uma embarcação, uma prática digna que nos leve nessa viagem, uma disciplina confiável que nos traga de volta para o presente e nos abra para o mistério – não para nos transformar em outra pessoa, nem para nos corrigir, mas para que possamos ver quem realmente somos.” (p. 38)

– Não dá pra crescer sozinho.

“Às vezes a iniciação acontece espontaneamente. Perdas, crises ou doenças, quando administradas com sabedoria, fazem o coração crescer. Mas às vezes é preciso criar deliberadamente uma iniciação. Seja como for, a necessidade de iniciação é universal, e para a juventude moderna essa necessidade é desesperada. Como não há nada que se assemelhe a uma iniciação espiritual ao mundo dos homens e das mulheres, os jovens buscam a iniciação na estrada ou na rua, em carros velozes, nas drogas, no sexo perigoso, nas armas. Por mais inquietante que seja, esse comportamento tem sua raiz numa verdade fundamental: a necessidade de crescer. Uma das motivações para se buscar a iniciação, e uma de suas ferramentas, é a consciência cada vez maior da morte.” (p. 50)

– Isso é tão sério. Na geração dos nossos pais, quando se casava com 20 e poucos anos, o casamento era a própria iniciação. Jogado o matrimônio pra casa dos 30, 40 anos, ficamos mais tempo na adolescência, então dá no que dá, isso tudo aí fora. Não estou dizendo que todos devemos nos casar – não se trata disso. Estou dizendo apenas que antigamente o casamento servia como rito de passagem para a vida adulta – e que hoje não temos mais nada. Nós precisamos de rituais, se não o tivermos, temos que criá-los. Crie rituais pra seus filhos, pra marcar a passagem do tempo na vida deles. É importante.

“Há uma parte de nós que conhece a eternidade assim como sabemos o nosso nome.” (p. 67)

– Muitos espiritualistas dizem que precisamos apenas nos lembrar quem somos – luz.

“O despertar muda o nosso senso de identidade.” (p. 92)

– Por isso que, depois de qualquer despertar, passamos por uma fase radical, em que ficamos apregoando a plenos pulmões as coisas boas que aprendemos. Precisamos repetir a nós mesmos quem somos, até nos acostumarmos. Então voltamos a ficar calmos.

“Quando a nossa identidade se expande para incluir todas as coisas, ficamos em paz com a dança do mundo.” (p. 93)

– Mas até lá a gente corta um doce, meu!

“É fácil cair no engodo de que existe uma meta, um estado, um lugar especial a ser atingido na vida espiritual.” (p. 99)

– Pois é. Mesmo o termo “iluminação” reflete esse engodo. O problema não é a meta, nem o estado, nem o lugar: é o adjetivo especial.

“A prática espiritual não nos dá conhecimento, mas afeta a nossa maneira de amar.” (p. 102)

– Não sei se concordo que não dá conhecimento, mas certamente, sim, afeta a maneira de amar.

“A transformação é o desabrochar do coração, e não uma mudança de personalidade.” (p. 173)

– Em realidade, a busca é agirmos como somos.

“ ‘Depois de passar por tanta coisa, depois de todos os problemas que tive, vou fazer uma coisa radical. Vou ser feliz.” (p. 185)

– O melhor depoimento do livro!

“Na vida espiritual, o importante não é saber muito, mas amar muito.” (p. 190)

– Meo deos, que coisa linda.

“Nossos filhos adoram respeito. Até os pequenos querem que suas necessidades e seus medos sejam respeitados. Com respeito, namorados, pais, colegas de trabalho, animais e árvores florescem. O respeito é a base da criação dos filhos e da prática espiritual.” (p. 194)

– Verdade. Agora, respeito se aprende com exemplo; exemplo dado em casa, na escola, no trânsito, no restaurante, no governo…

“A comunidade é uma bênção.” (p. 205)

– O que ele chama de comunidade é a Sangha, a família espiritual que nos apoia e nos empurra rumo ao despertar.

“Não é realista querer a companhia dos outros sem sofrer.” (p. 207)

– Apenas no Facebook a companhia dos outros não é incômoda.

“A psicologia budista ensina que a intenção é o que forma o karma. O karma, causa e resultado de cada ação, vem das intenções do coração que precedem cada ação.” (p. 213)

– O agir desinteressado, sem focar nos resultados,  é karma yoga, o yoga ensinado no Bhagavad Gita.

“De cera forma, o mais radical dos atos políticos é a mudança do coração.” (p. 230)

– É por isso que o sistema eleitoral não capta mais a voz da maioria, por que a maioria está fazendo suas escolhas fora na arena, porém dentro do coração.

 

 

Não é fácil

“Em todas as jornadas espirituais, temos que enfrentar diretamente as energias presentes na avidez, na raiva, no orgulho, no medo, na inquietação e na dúvida – os hábitos que fecham o coração.” (p. 42)

– Nem me fale…

“Meu professor Ajahn Chah diz o seguinte:

Se você não chorou profundamente, ainda não começou a meditar.”

– Como se diz, autoconhecimento dói.

“Quem se entrega ao caminho espiritual tem que enfrentar o medo da morte ainda em vida.” (p. 51)

– E tô pra dizer que apenas os que realmente a temem iniciam uma busca espiritual.

“Os temas eternos são os mesmos: a necessidade de encarar a morte, de perdoar, de encontrar energia e coragem, de buscar a verdade.” (p. 53)

– Sim, sim, sim.

“É o perdão que torna esta vida viável.” (p. 56)

– Ai meo deos que soco no estômago!

“Meditar, rezar e ouvir é como abrir as portas e as janelas. Não dá para planejar a brisa. Como diz Suzuki Roshi: ‘Não dá para marcar um encontro com a iluminação.’ Há uma frase que diz mais ou menos a mesma coisa: ‘Atingir a iluminação é um acidente. A prática espiritual só nos torna propensos a ele.’” (p. 97)

– Ah que frase ótima essa última. É  o velho empurrão na sorte.

“Místicos de todas as tradições ensinam que, por mais poderoso que seja o despertar, a capacidade de viver nessa realidade acaba passando.” (p. 105)

– Impossível não recordar Mário Quintana “Eles passarão./ Eu passarinho!”

“O coração desperta como um lótus que se abre: sua beleza e perfume o impregnam e também perfumam o jardim. Mas é da natureza das flores abrir-se à luz do dia e se fechar à noite.” (p. 111)

– É o chamado da lua cheia: viramos todos lobisomens.

“No inevitável sobe e desce, os ciclos de expansão e contração que acompanham o processo de dar à luz nós mesmos, há momentos de fazer força, de lutar por uma meta espiritual. Mas, em geral, a tarefa é deixar rolar, é descobrir um coração benevolente que respeite as mudanças da vida.” (p. 125)

– Dificilmente a gente sabe quando fazer força, raramente deixamos rolar.

“Assim como percebemos quando a roupa está suja e precisa ser lavada, o primeiro passo para resolver qualquer problema é uma avaliação honesta.” (p. 130)

– E aí, nesse ponto, eu acho: temos que ter alguém de fora que nos ajude a avaliar. Sozinho é punk, a gente puxa sardinha pro nosso lado.

“A capacidade de enganar a nós mesmos é quase tão vasta quanto a capacidade de despertar.” (p. 134)

– Ehê, dona Maria! Ehê, seu José que isso parece sabedoria de mineiro, sô!

“ […] ninguém, monge ou leigo, está imune às tempestades que as emoções e os relacionamentos trazem.” (p. 137)

– É o que dizem: é mais fácil ser santo meditando numa caverna nos Himalaias.

“Antes da iluminação, temos que viver com o nosso corpo. Depois da iluminação, ainda temos que viver com o nosso corpo.” (p. 153)

– Gostei por demais da leitura de Irmão Rico, Irmã Pobre, livro que mostra como um capitalista alcançou a espiritualidade, e como uma monja alcançou a materialidade. Vale a pena ler.

“Como observou Simone Weil, mística cristão do século XX: ‘O perigo não é a alma ficar em dúvida, sem saber se tem pão. O perigo é, por causa de uma mentira, ela se convencer de que não tem fome.’” (p. 173)

– Lembre: não há iluminação; já atividades iluminadas.

“ […] o Mestre Zen Bashô adverte: ‘Não dá para ensinar a verdade na sua cidade natal. Lá só o conhecem pelos apelidos de infância.’” (p. 187)

– Maneira simpática de dizer que esquecemos a espiritualidade em casa quando vamos almoçar com mamãe.

“ ‘Meus pais me odeiam quando sou budista, mas me amam quando sou um Buda.” (p. 189)

– Sensacional, não é?! Quando somos o que aprendemos, a coisa muda de figura. Ninguém quer ser doutrinado.

“ […] a família é uma das últimas fronteiras do desenvolvimento espiritual.” (p. 192)

– Coisa curiosa: vamos pra um psicólogo e começamos pela família; por que achamos que, num ashram, ela possa ficar por último?

“A família é um espelho.” (p. 193)

“Os relacionamentos íntimos tocam a nossa história sem anestesia.” (p. 193)

– Hahaha, cacilda!

“Tolerância não significa aceitar o que é nocivo. Assim como podemos usar o desapego para esconder sentimentos, podemos usar a tolerância para não enxergar a verdade ou para não tomar a atitude necessária.” (p. 191-192)

– Como já foi citado, o eu consegue se enganar na mesma medida em que consegue se iluminar.

“Os sacrifícios impostos pela família são como os de um mosteiro exigente, uma prática equivalente de renúncia, paciência, constância e generosidade.” (p. 196)

– Por isso é que há várias vias no yoga, o karma yoga, o bhakti yoga, o jnana yoga, etc. Cada um desperta onde pode/merece/deve. Para muitos é através da família.

“Quando reconhecemos a verdade, até mesmo os inimigos nos mostram como despertar.” (p. 206)

– Aliás, mais frequentemente que os amigos.

“Julgamos os outros sem saber o que trazem no coração. Para despertar para a graça e para a presença sagrada, temos que ter por todos o respeito que teríamos por um grande professor.” (p. 208)

– No Iyengar Yoga dizemos que o melhor guru é a parede, dura, fria, mas que alinha a coluna quando nos postamos de costas pra ela. Ela parece fria, mas tem uma intenção de nos proteger.

 

 

O poder do agora

“Quando saímos da corrente de pensamentos, deixando para lá o ‘como foi’, o ‘como deveria ter sido’ e o ‘como deveríamos ser’, entramos no presente eterno.” (p. 47)

– É a questão do não-julgar, apenas vivenciar.

“Sem a  sabedoria do perdão, carregamos o fardo do passado vida a fora.” (p. 56)

“Perdão é a capacidade que o coração tem de se livrar das dores do passado para seguir em frente.” (p. 202)

– Você não lerá O Poder do Agora de Tolle e dirá “vivo no presente”. Você perdoará e dirá “vivo no presente”.

“Depois de enfrentar a morte e a solidão, não temos mais medo de viver e a vida floresce sob os nossos pés. Todos os lugares em que passamos se tornam solo sagrado.” (p. 64)

– Feche os olhos agora mesmo e reverencie o local onde você está.

“A observação cuidadosa da origem de cada ação revela um movimento constante para aliviar o sofrimento. Quem enfrenta essa verdade não acha que ela seja uma fórmula de desespero, mas um portão para a compaixão. Porque, no coração, a liberdade e o amor são ainda maiores do que o sofrimento. Quem enfrenta a dor do mundo desperta um coração destemido e generoso, direito inato da humanidade.” (p. 72)

– Meu marido, que é psicólogo, sempre me diz que devemos olhar pra quem nos desagrada tentando responder a pergunta: como ele está me pedindo amor?

“A compreensão do vazio é contagiosa: parece que podemos pegá-la dos outros.” (p. 81)

– Mas é um vírus de vida curta: nos afastamos do transmissor e esquecemos tudo.

“A avidez nos faz perder o momento, que é o agora.” (p. 98)

– Avidez é querer, certo? Querer é projetar no futuro, ok? Futuro é diferente de agora.

“O desabrochar do coração humano é ardiloso e misterioso. Queremos que o caminho seja ordenado e previsível, mas é só viajando que descobrimos os caminhos do coração. Não dá para capturar a liberdade e situá-la no tempo. Para o espírito maduro, a liberdade é a própria jornada.” (p. 110)

– E agora não dá pra não recordar Pessoa: “Navegar é preciso;/ Viver não é preciso.”

“Não existe um estado de aposentadoria iluminada, nenhuma experiência de despertar que nos ponha a salvo da verdade da mudança. Tudo respira e gira em ciclos. A lua, o mercado de ações, o coração, as galáxias, tudo se expande e se contrai ao ritmo da vida. A vida espiritual alterna ganho e perda, prazer e dor. Cada um de nós, inclusive o Buda, só desperta para o que é infinito, para a realidade da liberdade quando aceita essa verdade.” (p. 118)

– Releia o trecho acima: é o resumo do livro, o mais importante ensinamento dele.

“Misteriosamente, o coração é como uma flor que abre e fecha. É essa a nossa natureza.” (p. 118)

– E ponto.

“A mente desperta tem uma clareza de diamante.” (p. 172)

– Ela é pura, perceba.

“Os pensamentos também gostam de criar problemas imaginários. Como diz Mark Twain: ‘Minha vida é cheia de infortúnios… a maioria dos quais nunca aconteceu.’ Ou, nas palavras de um de meus professores, Sri Nisargadatta: ‘A mente cria o abismo; o coração o transpõe.’” (p. 172)

– O poder do agora não vem pelo intelecto, mas pelo coração.

“Na espiritualidade desenvolvida, é preciso encontrar perfeição na não-perfeição.” (p. 178)

– Encontrar a perfeição é saber que tudo está certo do jeito que está.

“O poeta Rumi busca o Divino ‘na face de tudo o que é separado’. E, como sabe que não existe nada além de Deus, ele ri e diz: ‘Por que lutar para abrir uma porta entre nó quando a parede inteira é uma ilusão?’” (p. 214)

“Existimos na mandala da totalidade em meio a um mar de Budas. Para enxergá-los, basta abrir os olhos de amor e sabedoria.” (p. 215)

– É sempre o mesmo ensinamento: somos luz e o sagrado nos permeia.

“Antes do despertar, nossa alegria é usar as coisas desta terra; depois da graça do despertar, nossa alegria é prestar serviço às coisas desta terra. Quanto maior a sabedoria, mais a vida é um ato criativo.” (p. 232)

– Engajamo-nos quando despertamos.

“O coração sábio não é o que compreende tudo, mas o que consegue tolerar a verdade de não saber.” (p. 239)

– Sei que nada sei?

 

revisto por Mayra Corrêa e Castro (C) 2014

(Se compartilhar, por favor, cite a fonte. É algo simpático e eu fico agradecida.)

 

KORNFIELD, Jack. Depois do êxtase, lave a roupa suja. Como o coração fica mais sábio no caminho espiritual. Tradução de Carlos A. L. Salun e Ana Lucia Franco. São Paulo: Editora Cultrix, 2002, 1ª edição.

 

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