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Ao invés de prometer em 2010, escolha. E alegre-se!

Postado às 17:42 do dia 31/12/09

Ano novo, novos intentos. Nenhum ano novo que se preze pode passar sem um punhado de promessas e resoluções positivas. Aposto que você já fez as suas, mesmo que tenha resistido conscientemente a fazê-las, já escaldado que está de não conseguir cumpri-las quando chega novamente 31 de dezembro.

 

Todo mundo faz promessas. Mas, quer saber, não funciona. Simplesmente não funciona. Muitas coisas não dependem de nós. Você combina consigo que, no próximo ano, vai fazer ginástica ou yoga todos os dias. Matricula-se num estúdio, paga a mensalidade para frequentá-lo duas ou três vezes por semana. Então, lá por abril ou maio, seu carro quebra, ou você muda de emprego, ou fica sem alguém para cuidar dos filhos ou, pior, adoece. Lá se vai sua intenção de fazer ginástica.

 

Daí você resolve que vai ficar sem comer chocolate. Bem, mesmo se o carro quebrar, mesmo se mudar de emprego, mesmo se ficar sem ninguém para cuidar dos filhos ou adoecer, você pode continuar não comendo chocolates. O que poderia impedir algo tão simples? Vamos lá, ajude-me, você já passou por isso. O que acontece com você que, mais dia, menos dia, acaba comendo chocolate? Fizeram um festa de aniversário surpresa no escritório e ficaria chato se não comesse o bolo? Ou você saiu com amigos e praticamente o obrigaram a comer chocolate? Ou você viajou para a Bélgica e seria ridículo não experimentar o chocolate de lá?

 

Tá, viajar para a Bélgica é meio improvável que aconteça, mas serve de exemplo para minha teoria: ter disciplina suficiente para levar a cabo nossas positivas intenções é difícil. Além disso, se temos que chegar ao ponto de prometer algo para cumpri-lo, é porque já tentamos de tudo antes.

 

Se todo ano você se matricula na atividade física da moda (que, agora, é pilates) e não permanece lá por mais de 12 meses, esqueça: você estará tentando algo diferente no ano que vem até aceitar a realidade: você não gosta de se exercitar. Se você começa o ano prometendo emagrecer e, terminando o ano, está com 2 ou 3 quilos a mais, esqueça e aceite o fato de que você é guloso.

 

Enquanto as consequências do estilo de vida que adotamos não nos assustar realmente, não conseguimos forças suficientes para mudá-lo. É por isso que Copenhagen foi um fracasso. Quantos, em bilhões, de fato, comprovadamente, já sofreram com as consequências do que estamos fazendo à Terra? E destes, quantos estavam lá com poder de decidir? Tá vendo porque não daria em nada esta reunião?

 

O que explica que alguns consigam cumprir promessas mais facilmente que os outros é porque já ficaram assustados ou sofreram de fato. Ou porque são mais facilmente impressionáveis, daquele tipo de pessoa que somatiza tudo, que é ultra empático, ultra sensível ou super medroso.

 

Se você precisar parar de comer carne para controlar uma colite, você para, na mesma hora. Se você precisar parar de fumar para tratar uma bronquite, você para. Se você tiver que andar a pé até o trabalho porque, sei lá, o estofamento do banco do carro está lhe dando ulcerações na pele, você anda. Se sua casa ficar alagada porque o bueiro da calçada ficou entupido com as sacolas plásticas, você nunca mais pegará sacolas plásticas no mercado.

 

Só agimos quando sentimos na pele, infelizmente.

 

Por isso, se você quer muito mudar algum aspecto em sua vida neste 2010, meu conselho é: tome um susto. Ou melhor aconselhando: imagine o susto. Se você quer começar a fazer yoga porque é muito ansioso, não procure se informar sobre os benefícios do yoga, procure se informar sobre os malefícios da ansiedade. Todos e os mais assustadores deles.

Se você quer parar de comer carne em 2010, não se informe sobre os benefícios de uma dieta vegetariana. Informe-se sobre o impacto da produção da carne no planeta, sobre o impacto da carne em sua saúde e assista a filmes mostrando abatedouros. Você vai tomar um susto tão grande que praticamente nem terá que prometer: a mudança acontecerá naturalmente.

 

Um das razões pelas quais não cumprimos promessas é porque olhamos o “quanto bom seria se” ao invés do “quanto destrutivo já é”. Curioso é que, apesar de tanta notícia ruim aparecer na TV, nenhuma delas nos convence. O efeito é, aliás, o oposto: ficamos anestesiados e nem nos importamos mais. A razão de ficarmos anestesiados é que estamos o tempo todo nos expondo a este tipo de notícia e, sendo assim, só conseguimos nos chocar com algo ruim quando acontece a nós.

 

Por isso, decidi, já a algum tempo, que não vejo noticiários. Duas coisas aconteceram depois desta resolução: a primeira, não posso mais conversar sobre as coisas que acontecem no mundo sem parecer desinformada; a segunda, não fico mais ouvindo notícias ruins, apenas as péssimas, porque algo precisa ser realmente horrível para ser comentado por todos e, então, o impacto desta notícia acaba sendo como um tratamento de choque, mais profundo que se eu tivesse ouvindo a todas num noticiário qualquer.

 

Mas este tipo de conselho – tomar sustos – é pessimista demais e não quero repetir o pessimismo com que imbuí minha mensagem de Natal.

 

Um conselho mais otimista é lhe dizer que outra maneira de você cumprir promessas é deixando de fazê-las e começar a olhar todas as suas escolhas diárias como um passo que reforça algo que você quer. Aliás, isso parece muito mais sensato e é aquilo que chamam “viver no presente”. A perspectiva de uma promessa a ser cumprida é atemorizante. A alegria de uma escolha bem feita, por outro lado, é revigorante.

 

Então, em 2010, faça escolhas – de preferência, boas escolhas – e deixe as promessas para depois. Ou imagine tantos belos sustos quantos possíveis, para que suas promessas tenham a inevitabilidade de uma escolha. Prefira se sentir alegre e forte por escolher, ao invés de infeliz e fracassado por não cumprir.

 

Que 2010 seja uma escolha, e não uma promessa. Alegria em 2010!

 

Namaste.

 

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