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Filosofia para os Cojarosos – Luiz Felipe Pondé

Postado às 09:30 do dia 03/02/20

Pondé tem muitos fãs… e muito haters. Ao lado dos outros mosqueteiros, Karnal e Portella, (e mais Clóvis, se fizer questão de que os 3 mosqueteiros sejam 4, como no livro) que mudaram a forma como consumimos história e filosofia, Pondé é talvez o mais debochado, o mais ranzinza – e o que eu mais adoro. Karnal é elegante, contido, sempre lutando contra seus fantasmas: é o pensador que ouvimos pra ganhar o lustro da civilização. Portella é amoroso, dá umas broncas mas passa a mão na cabeça, apela ao nosso bom senso e aos nossos instintos de bondade: é o pensador que ouvimos pra apreciar os almoços de domingo em família. Já Pondé é cáustico, anárquico (embora haja muita organização e consistência no que fala), polêmico: é o pensador que ouvimos pra duvidar da imagem que vemos todos os dias no espelho.

Meu primeiro livro de Pondé foi o ótimo Por que virei à direita, escrito em parceria com João Pereira Coutinho e Denis Rosenfield, que li em 2012. Antes, portanto, das manifestações de 2013, mas já naquele burburinho de insatisfação com o PT. Na época, ainda não entendia que eu era uma liberal por inteiro (política e costumes), então o livro me abriu para o mal-estar que eu sentia me colocando apenas à esquerda, por causa das pautas de costumes e combate à desigualdade social, ou apenas à direita, por causa da não-intervenção do Estado na vida das pessoas e na economia. Ninguém entendia – muito menos eu – como me pareciam todos iguais os políticos brasileiros de direita e de esquerda, porque todos defendiam coisas indefensáveis pra mim, a saber: a esquerda defendia intervenção do Estado (o que mina a liberdade), e a direita defendia uma pauta reacionária (o que mina a liberdade). Por isso, entender, àquela altura, que ainda não havia no país nada que satisfizesse meu desejo de liberdade econômica e individual foi bem, bem interessante.

Muitas coisas se passaram, o PT caiu, veio o Temer e agora temos este governo reacionário de direita no Brasil, com promessas liberais na economia, mas que encontram um capitão forjado no estilo estatizante desenvolvimentista dos antigos militares. Voltei a ler Pondé, ao menos pra fortalecer minhas convicções de que o ótimo é inimigo do bom e minha desconfiança em utopias, sejam quais forem. Viver hoje no Brasil demanda muito sangue-frio e nada como o ceticismo de Pondé pra nos manter com os pés nos chãos (o dele e do Fernando Schüler). Garrei, então, no Contra um Mundo Melhor, já sabendo o que encontraria, e no Filosofia para Corajosos, que resenho aqui.

Abaixo pincei algumas melhores partes do livro e vou comentando. Sei que esquerdistas convictos não lerão Pondé, assim como, talvez, bolsominions não leiam. Tant pis pour eux. Nunca deveríamos perder a chance de rir de nós mesmos.

 

Trágicos

“Nunca seremos livres, mas a vida com coragem pode ser mais bela.” (posição 85 Kindle)

– Um liberal pode acreditar que nunca seremos livres? Um liberal pode acreditar que mesmo a liberdade é um valor passível de negociação? São questões difíceis se você simplesmente não olhar pra realidade e aceitá-la como ela é. O que mais me surpreende é ver pessoas acreditando que podem mudar o que nunca mudou em dezenas de milhares de anos:  a parte bicho da natureza humana.

“Se penso como os metafísicos pessimistas, olho para o sofrimento como algo que prova que Deus é mau. Se penso como os materialistas antimetafísicos que não creem em nada divino, olhos para o sofrimento como algo que não tem uma explicação maior. Essa posição é rara na humanidade e é vista como trágica porque implica que nossa vida não tem um sentido maior.” (posição 328 Kindle)

– Do jeito que o Pondé fala, fica parecendo um privilégio ler alguns livros e entender que esta vida não tem sentido nenhum. Só que não é assim que ocorre. Esta posição, penso eu, decorre de alguma experiência traumática para cuja solução a filosofia e o autoconhecimento puro e simples vieram resolver. Uma experiência traumática solucionada com religião ou fé dificilmente criariam um trágico. Sofrer é comum, é banal. aceitar que o seu sofrimento não tem nada de especial é que é acachapante. Não se sai disso muito facilmente, mas depois é uma maravilha, porque não se fica em dívida com nenhuma forma de mística. Sofrer e parar de sofrer é aleatório na vida.

“Nunca confie em gente que afirma ser guiada por valores maiores que dinheiro. Quem diz que faz as coisas por algo maior do que grana é quem pensa só na grana, pode apostar. Nunca confie na bondade dos bons.” (posição 405 Kindle)

– É uma pena que as pessoas não leiam La Rochefoucauld. Pra mim, se você ler muito Machado de Assis na adolescência, especialmente as obras de sua maturidade (minha preferida é e sempre será Memórias Póstumas de Brás-Cubas, que já li algumas vezes), ler bastante Oscar Wilde (podendo dar uma passadinha em Mário de Sá-Carneiro, vale a pena), e na faculdade ler Balzac (especialmente Ilusões Perdidas), até chegar em La Rochefoucauld e terminar lendo Shakespeare, você ficará vacinado, por toda a vida, contra as utopias humanas.

“Todo mundo tem um preço, menos o que não valem nada.” (posição 410 Kndle)

– Tanto é verdade que todos têm um preço que já cansamos de rir com histórias em que alguém fica puto por pedirem tão pouco por seu resgate num sequestro.

“Não confie em ninguém que queira salvar o mundo. Melhor confiar em grandes pecadores.” (posição 1091 Kindle)

– Mais uma fala do repertório do Pondé. É fácil entendê-la: quem quer salvar o mundo talvez não tenha consciência de suas fraquezas e sucumba a elas mais facilmente. O pecador, por outro lado, conhece bem sua calcanhar de Aquiles.

“Como dizia Edmund Burke acerca de gente como Rousseau (vamos ter de falar dele aqui de novo) e os jacobinos: ´Gente que ama a humanidade mas detesta seu semelhante.´ Professor que diz crer na educação crê na humanidade, mas não nos alunos.

“Não é fácil crer nos alunos; é mais fácil crer na humanidade porque essa é uma abstração que cabe em qualquer teoria feita pelos ungidos, classe de intelectuais e acadêmicos definida pelo economista americano Thomas Sowell como ´aqueles que acham que sabem mais do que todo mudo em todos os tempos”. (posição 1117 Kindle)

– Aqui é uma grande celeuma: há os que creem no mérito individual e há os que creem que todos podem chegar ao mesmo patamar se as condições forem iguais. Como dá pra imaginar, nem uma coisa, nem outra. As condições podem (deveriam, por uma questão moral) ser iguais, mas nem todos chegarão no mesmo lugar. Não parei pra pensar se é ético premiarmos, por conseguinte, o esforço pessoal, dado que é certo que uns terão êxito e outros não. Mas aqui, desconfio, a questão não é moral. A questão é que somos simplesmente fascinados pelo sucesso. Então o premiamos, mesmo sabendo que ele, no limite, a distribuição entre vitoriosos e fracassados é aleatória.

 

Arrogância divina

“Como já disse em outros momento, superei a angústia de ter método. Portanto, este livro não tem nenhum método específico, a não ser dividir com você meu espanto ao longo desses anos em que pratico a filosofia como acho que ela deve ser praticada, para além dos muros da universidade – que tem uma função essencial na formação de filósofos profissionais, ninguém se engane acerca disso. Se Descartes (século XVII) estava certo, e ter método é uma confissão de humildade porque só Deus não precisa de um método, então que eu seja condenado por essa pequena arrogância.” (posição 142 Kindle)

– Para mim, Deus é incoerente. Se eu me conformar a incoerência, deixando de querer persegui-la, deverei também ser condenada à arrogância? Se si, já estou: buscar a coerência é pretensão humana, mas talvez Deus tenha nos punido exatamente assim, com este desejo de sermos coerentes.

“Então, o que sobra disso tudo? Vale a pena buscar ser racional e responsável? Claro que vale, mas não queira recompensas. Nada garante que vai dar certo, mas, creio, a experiência do amadurecimento mostra que, ainda que seja precária, a tentativa de olhar para o mundo pelos olhos da razão sempre nos ajuda a entendê-lo melhor. E isso nos leva a alguma experiência de autonomia. O homem não é um ser racional plenamente, nem pode sê-lo, a menos que seja doente. Nem por isso devemos desistir de ser racionais em alguma medida. Como dizia o grande Nelson Rodrigues (século XX), a razão é algo que se busca com o mesmo sofrimento que a santidade.” (posição 762 Kindle)

– Não, queridão: racionalidade e incoerência não são incompatíveis. Talvez até um leve ao outro.

“Não quero falar só do tema já desgastado da sustentabilidade. É o desejo humano que é insustentável. A felicidade vai destruir o mundo. Uma humanidade de 6 ou 7 bilhões de pessoas felizes será a maior praga que já caminhou sobre o mundo.” (posição 1445 Kindle)

– Quando almoçamos em praças de alimentação, meu marido sempre olha ao lado e repete, como um rogo, que a humanidade é gafanhoto. Talvez seja injusto com os gafanhotos.

 

Discordo, mas ok.

“Quem nunca leu nada não tem opinião sólida sobre nada, apenas achismo, uma opinião vazia, como dizia Platão, quando fazia a diferença entre ter opinião (doxa) e conhecer algo (episteme).” (posição 206 Kindle)

– Muito da polarização que vemos hoje são polarizações de OPINIÕES. Isso, oposição de pensamentos vazios, de achismos. Certa vez, discuti com uma pessoa no Facebook sobre a opinião dela de que ingerir óleos essenciais ricos em fenóis e aldeídos aromáticos não impunha nenhum risco particular à saúde. Por mais argumentos, com base em evidência científica, que eu lhe desse, a pessoa insistia que suas evidências anedóticas eram suficientes pra se contrapor de mim: ela própria ingeria e nunca tinha tido problema, seu filho ingeria e nunca tinha tido problema. Quando finalmente a pessoa veio com aquele fechamento clássico de discussões em redes sociais – “discordo, mas ok” -, eu tive que dar uma de professora pra cima dela: mostrei que ela não tinha conhecimento suficiente pra discordar de mim. Que o dia que ela tivesse estudado o que eu estudei e tivesse a experiência que eu tenho, poderíamos discordar uma da outra. Até lá, era apenas um achismo dela mesmo. Claro que a pessoa ficou puta e disse que eu me achava superior a todas as pessoas. O que respondi? Que eu de fato era superiora pra alguns assuntos em aromaterapia, mas que pra todas as outras, inclusive pro assunto que é o tema da profissão que ela exercia, com certeza absoluta eu estaria em posição inferior. Eu não tenho mais saco pra conversar com gente que não quer aprender. E cada vez mais, na minha atividade, vejo que preciso ensinar epistemologia em vez de aromaterapia na primeira aula.

“Quando um intelectual abraça uma causa, passa a ser um picareta”. (posição 1026 Kindle)

– Uma das coisas fáceis em Pondé é que ele se repete bastante, então, se você o acompanha, como eu, sabe que ele já disse isso de mil e umas formas. Mais recentemente, voltou a dizê-lo àqueles que o acusaram de apoiar e não apoiar mais o Bolsonaro, ao que ele rebateu: quando apoiei? quando deixei de apoiar? Intelectuais não apoiam nem retiram apoios, quem faz isso são militantes e ex-militantes.

“Além de tudo, professor, em grande maioria, é gente que ganha mal e perde o tesão, com o tempo, pelo que faz, mas a pose é essencial nesse ramo.” (posição 1130 Kindle)

– Sempre achei fraco o argumento de que professores devem ser muitíssimo bem remunerados simplesmente porque educação é a coisa mais importante. Em primeiro lugar, ela não é, a educação. Do ponto de vista das necessidades puramente humanas (pirâmide de Maslow), comer é mais importante. Então, se fosse por isso, agricultores e fazendeiros deveriam ser os mais bem remunerados num país (bom, os fazendeiros grandes sabemos que são muito bem remunerados). Em segundo lugar, não é obrigatoriamente verdadeiro que aquilo que é mais importante deva ser o mais bem remunerado. Nós damos muito valor a coisas desimportantes e o fato de jogadores de futebol terem salários astronômicos demonstra isso. O importante costuma caminhar com o raro, com o desviante da curva. Tudo que é comum costuma não ser importante. Portanto, professores deveriam ser mais bem remunerados apenas porque, de fato, ganham pouco. (Assim como a esmagadora maioria da população brasileira.) Receio que alçar qualquer categoria profissional à mais importante automaticamente cria comparações pra demonstrar que ela não é; e penso que essas comparações desviam o foco do se tem que discutir: os caras ganham pouco. Ponto. Dá pra aumentar o salário? Além disso, ninguém é obrigado a ser professor. É uma escolha. Quem escolhe já sabe dos ônus e bônus. Imagine um cenário onde a carreira de professor remunerasse acima da média das demais profissões. Acusariam-na de ser elitista, porque a competição selecionaria os melhores. Ah, Mayra – você me responderia – , mas não tem problema uma carreira em educação pública selecionar os melhores porque isso estaria a serviço da população. Bom, se você pensa assim, olhe para o Congresso Nacional: lá está uma carreira elitista, onde apenas os que conseguiram se provar melhores do que os outros conquistaram a vaga. Estão a serviço da população? Agora olhe pra educação privada: é tentador supor que nela estejam os melhores professores, e que na educação pública estejam os piores, já que os melhores vão atrás dos melhores salários. Mas, como é fácil imaginar, isso está errado: a distribuição de bons e maus professores é igual na educação privada e na pública e isso porque os melhores talentos não necessariamente são atraídos apenas pelos melhores salários. Outra coisa que falam muito é que colocar o salário de professores no topo das profissões faria com que as pessoas mais capazes de um país se sentissem atraídas pelo magistério. Ou seja, se o salário não fosse bom, ela não pensaria no magistério quando saísse da faculdade, mas já que é, esta ideia passará por sua cabeça. Claro que isso poderia funcionar para algumas pessoas, pois sempre existem os que escolhem uma profissão pensando no quanto ela tem potencial de lhe trazer de riqueza – só que é falso supor que os melhores talentos é que vão pras profissões mais bem remuneradas. De um modo geral,é pressupor muito pressupor que melhores salários atraiam os melhores talentos. As pessoas têm os motivos mais variados pra escolherem trabalhar no que trabalham, e salário é apenas parte do pacote. Finalmente, este debate não pode ignorar um ponto importante: as pessoas não têm mais uma única profissão a vida inteira. Hoje você é vendedor, amanhã você é engenheiro, depois você vira consultor, então abre uma pizzaria de bairro e depois é professor. É impossível o Estado, com seu planejamento centralizado, prever toda esta dinâmica à qual o mercado é tão rápido e apto a gerenciar. Os serviços oferecidos pelo Estado tendem inexoravelmente à deterioração devido à sua baixa capacidade de reação e adequação aos anseios das pessoas. Não vou me estender mais. Meu único ponto era mostrar que questionar sensos-comuns exige coragem porque quanto mais se olha mais se percebe que o buraco é fundo. Tapá-lo não fará com que ele suma.

 

Vertigem?

“Na democracia, o que importa é a maioria e não a verdade sobre coisa alguma. Mas isso Platão já sabia: o motivo de a democracia esconder a hipocrisia da moral pública é porque a democracia é sofista.” (posição 1038 Kindle)

– Penso que o maior prejuízo à democracia na era PT foi as pessoas terem sido ensinadas de que democracia é sinônimo de justiça social, crescimento econômico, igualdade de oportunidades, meio-ambiente seguro – em suma, que democracia é Deus. Democracia é apenas a gente tentando fazer as coisas da forma menos pior possível. Democracia é a forma da gente se responsabilizar pelos nossos próprios erros. Em algum momento, as pessoas começaram a infantilizar a democracia.

“Política é a arte de conquistar, manter, ampliar ou destruir o poder. E, assim fazendo, tornar a vida dos seus súditos mais ou menos instável. Ponto final. Uma engenharia de algum tipo, descolada de qualquer idealização. O bem político é uma sociedade em que o poder está organizado de forma tal que as pessoas andam razoavelmente bem nas ruas. Não há um bem moral de qualquer tipo na política. A política não deve discutir modelos de sociedade, a política deve organizar essa coisa violenta chamada poder. […]

“Não se deve esperar da política um mundo melhor. Deve-se esperar um mundo em que o Poder fique tão controlado que ele nos deixe em paz e nem lembremos dele ao acordar.” (posições 1038 e 1068 Kindle)

– Amém, Pondé. Da mesma forma que não podemos confiar em ninguém que tenha outros valores que não a grana, não devemos confiar em nenhum político que diga querer ser político por valores diferentes do poder. Quando um político diz “quero ajudar os pobres”, pra mim ele já começou errado. Quem quer ajudar os pobres faz caridade, ninguém precisa estar na política pra ajudar os pobres, construir hospital, dar escola pra população, etc. Você vai pra política basicamente pra ter o poder que nunca teve. Ponto final. Aqueles que são honestos em relação a isso costumam ser ótimos políticos, inclusive conseguindo ajudar os pobres. Finalmente, Friedman, que dizia que políticas públicas não devem ser feitas com base na intenção, mas com base em resultados. Ter poder depende de resultados e toda pessoa que mira o poder sabe que os resultados devem ser duradouros pra sustentar este poder. Até nisso, quem é honesto em relação ao que deseja na política tem mais chance de focar em resultados, e não apenas em suas ótimas intenções.

“O mundo contemporâneo pensa em termos de direitos. Esse mundo rico, capitalista bem-sucedido, de gente jovem, saudável, narcisista, que tem poucos filhos e anda de bike. A psicologia dessa gente é: o mundo me deve. Eles operam a partir de que o outro deve prover e não do que eles devem prover.” (posição 1335 Kindle)

– Gostaria de pensar se Pondé acha que a minha geração, a X, pensa assim, pois é o que eu penso das gerações Y e millenial.

“Eu suspeito que quem terá destruído esse mundo (visto como um paraíso por um futuro mais pobre) será a cultura dos direitos, que nos torna incapazes de acordar cedo e enfrentar o fato de que a vida não tem garantias.” (posição 1376 Kindle)

– Um fato básico da vida é que perdemos quando outro ganha. Nunca acreditei na quimera de negociações ganha-ganha. Ganha-ganha é uma ilusão: todo mundo cede. Se todo mundo cede, significa que perderam juntos. Cultuar o ganha-ganha é ficar feliz por ter tirado o título de Miss Simpatia no Miss Universo.

 

Ame seus fantasmas

“Se este pequenos manual não fosse escrito para os bravos, eu diria que sim, a honestidade paga bem na vida. Mas não escrevo este livro para acomodar o pânico da classe média. Escreve para quem deseja falar sua própria língua em filosofia, e o primeiro passo é não ter medo do que pensamos em silêncio, apesar de termos medo de dizer em voz alta.” (posição 474 Kindle)

– A empatia não nasce da bondade. A empatia nasce de nossa capacidade imaginativa de nos colocarmos, em pensamento, na mesma condição que o pior dos seres humanos, e de emergirmos com a coragem de que, sim, seria possível, mas eu escolho não.

“Somos seres medrosos porque sabemos mais do que devemos e menos do que precisamos.” (posição 823 Kindle)

– Como eu enxergo, a ciência materialista produz uma quantidade de conhecimento incompatível com a natureza humana. Por isso o espanto. E o desespero.

“A economia é uma ciência triste porque é a ciência da escassez. Os recursos a nossa mão são sempre menores do que aquilo que queremos.” (posição 1148 Kindle)

– Nunca pensei sob este ângulo. Qual seria, então, a ciência da abundância? Não tem? Seria uma ficção?

“A pressa é a marca essencial do contemporâneo. A forma ideal de vivê-la é com leveza. Como se a pressa fosse um elemento da natureza. Como você a enfrenta diz muito de onde você está na cadeia alimentar desse mundo.” (posição 1222 Kindle)

– Acabei de resenhar um livro onde uma neurocientista, Maryanne Wolf, traz uma exortação de Ítalo Calvino – festina lente! – para explicar como poderíamos nos tornar leitores melhores no mundo digital. A exortação significa “apresse-se devagar”. Reflete a experiência de alguém que, considero, está bem acima na cadeia alimentar, muito acima de nós. Eu amo Calvino!

“Vivemos numa era eugênia: todos querem ser belos, saudáveis, eternos, bem resolvidos e cheios de técnica.” (posição 1407 Kindle)

– Sim, quando passamos a acreditar que ser saudável é o que nos traz liberdade, acabamos de nos prender à eternidade. Mas tenha certeza: ser saudável não se transformou num valor de per se. Ser saudável transformou-se numa valor porque dá uma grana violenta a muita gente. Dizem que a saúde preventiva é menos cara. Sim, ela é, mas apenas se comparada às tentativas pra manter alguém vivo. Morrer sempre foi mais econômico, exceto em tempos de guerra.

 

Escrito por Mayra Corrêa e Castro (C) 2020

(Se compartilhar, por favor, cite a fonte. É algo simpático e eu fico agradecida.)

PONDÉ, Luiz Felipe. Filosofia para corajosos. São Paulo: Planeta, 2016. Edição do Kindle.

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