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Cosmetologia ou Aromaterapia?

Postado às 20:02 do dia 11/01/18

Você usa um creme que contém óleos essenciais, então é legítimo se perguntar: isso é cosmetologia (natural) ou é aromaterapia? Boa pergunta, e foi tentando respondê-la que, no ano passado, dei uma palestra sobre o assunto em Curitiba. Mas faltaram alguns pontos que acho legal comentar.

cosmetologia e aromaterapia Out17

Abertura da palestra dada no I Simpósio de Estética e Cosmética das Faculdades OPET (2017)

SE VOCÊ QUISER OUVIR A GRAVAÇÃO DESTA PALESTRA, SOLICITE O ACESSO GRATUITO aqui.

O primeiro ponto que quero comentar é que cosmético com óleo essencial NÃO é aromaterapia. E você deverá ler bem o enunciado porque nesta leitura atenta está a chave pra entender o que coloco. (Linguista é um pé-no-saco, releve.) Pra começo de conversa, não são substantivos de mesma natureza: “cosméticos com óleos essenciais” é algo bem concreto, você pega um na mão e o passa na pele; já “aromaterapia” é de natureza abstrata, você não é capaz de segurar a aromaterapia nas mãos. Então, dar equivalência a nomes que possuem natureza distinta é meio complicado. A menos, é claro, que você se valha de metonímia, pois sabemos que uma das vias de administração mais tradicionais da aromaterapia é se valer de bases carreadores pros óleos essenciais serem aplicados na pele. Mas, como em toda metonímia, a relação existe, mas não é completa e, com o tempo (e a preguiça mental), a gente acaba transformando aquela substituição em tudo que existe.

O problema de você achar que cosméticos com óleos essenciais são aromaterapia é você reduzir a natureza da aromaterapia a um de seus instrumentos e, pra piorar, reduzir a cosmetologia natural à mera adição de óleos essenciais numa base qualquer. Você sabe que ambas são maiores que isso.

Então, talvez, pra ajeitar a situação, já que não dá pra dizermos que “cosméticos com óleos essenciais” é igual à aromaterapia, você talvez dissesse que “cosmetologia com óleos essenciais” é igual à aromaterapia. Tentativa válida – é bom quando a gente se esforça. Mas, de novo, nã-nã-ni-nã-não: cosmetologia natural, linda, maravilhosa, feita com óleos essenciais puros, lindos e maravilhosos NÃO é aromaterapia.

Mas há momentos em que uma se confunde com a outra. São este momentos de interseção – como quando você está aprendendo a dirigir e consegue fazer uma baliza ou sair com o carro numa rampa sem que ele morra – que te fazem acreditar que, usando um cosmético com óleos essenciais, você está fazendo aromaterapia ou que, diluindo óleos essenciais num punhado de óleo extra-virgem (ou numa base muita simples como cera + óleo vegetal), você está fazendo cosmetologia. Fazer uma baliza ou sair com o carro numa rampa não o tornam motorista habilitado. É preciso gastar muito pneu pra você orgulhosamente mostrar sua CNH e dizer: sou motorista. Mais tempo ainda pra dirigir seu próprio carro.

Um cosmético até pode ter efeito aromaterapêutico mas, na minha opinião, se ele tiver sido formulado pra tanto. E, ainda assim, eu preferiria dizer que ele terá um efeito aromacológico e/ou dermatológico em vez de um efeito aromaterapêutico. É uma questão de concentração de OEs, é uma questão de forma de uso, é uma questão de onde este uso se encaixa dentro de um tratamento maior e é, no limite, uma questão muito impalpável de intenção. Então, não, não acho que cosmético com óleo essencial tenha automaticamente efeito aromaterapêutico. Entendo o que as pessoas querem dizer com isso, aceito seus pontos de vista, mas prefiro a palavra aromacológico (se o efeito for emocional) ou a palavra dermatológico (se o efeito for físico na pele). E também posso aceitar o efeito preventivo, no sentido que, de um modo muito, mais muito sutil, os OEs estarão agindo lá pro bioterreno se manter legal, pra alma se manter conectada. Mas assumir um efeito aromaterapêutico num cosmético com óleos essenciais é algo de que ainda não me convenci. (Por outro lado, tenho convicção total do efeito aromaterapêutico dos OEs quando aplicados na pele. Mas vamos deixar estas questões filosóficas pra lá porque o assunto seria mais bem conversado ao vivo, em cores e sentados, nós todos, em roda.)

A principal questão é que Cosmetologia e Aromaterapia têm objetivos diferentes. Em algum momento elas se esbarram, poderiam ser primas – mas não irmãs. Nem mesmo meio-irmãs. Primas.

O objetivo da aromaterapia é uma ação terapêutica, e uma ação terapêutica que, se a ciência não consegue explicá-la em sua magnitude, pelo menos na intenção de efeito, e na observação empírica deste efeito, trata-se de uma ação terapêutica nos campos físico, mental/emocional e energético (ou seja, corpo, mente, espírito). A cosmetologia tem objetivo mui diverso.

A cosmetologia, que é um ramo da farmácia, tem por objetivo a criação de produtos cosméticos. Por cosméticos, conforme definição da Anvisa, temos os de grau 1 e grau 2. Pra resumir, no grau 1 estão os produtos de higiene pessoal e de hidratação da pele mais banais, junto com os perfumes e maquiagem, nenhum deles alegando que tenham qualquer efeito além do limpar, hidratar, perfumar e “colorir o rosto” (rsrsrs); e, no grau 2, estão os destinados a crianças ou aqueles que podem trazer risco químico, ou que prometem algo como fotoproteção, proteção antibacteriana, os antitranspirantes, pastas de dente com flúor ou clareadoras.

Claro que existe uma linha tênue pra burro entre o grau 1 e o grau 2 e mais tênue ainda entre os chamados cosmecêuticos e os cosméticos convencionais. Mas não é da minha competência discutir isso. Minha questão é que um cosmético não tem por finalidade tratar terapeuticamente nada que vá da pele pra dentro, ou da pele pra fora (corpos sutis, emoções, etc). O lance do cosmético é a pele e seus anexos, além de dar uma cuidada benfazeja nos dentes e no hálito.

Curiosamente, os óleos essenciais – QUE SÃO MATÉRIAS-PRIMAS – são, no Brasil e em quase tudo quanto é lugar no mundo – encaixados pra fins legais e tributários na categoria de cosméticos. Há casos em que figuram como complementos alimentares. Então, é uma situação realmente esquizofrênica: se você for uma indústria e quiser comprar um OE de laranja pra aromatizar seu suco, você o comprará como matéria-prima, se você for uma indústria e comprar OE de tea tree pra colocá-lo como ativo num enxugatório bucal, você o comprará como matéria-prima, mas se você for uma indústria e quiser vender OEs, você os comprará como matéria-prima, mas os venderá como cosméticos. Não é simplesmente ridículo?! Eu acho. Mas a realidade é que a aromaterapia é tão nova que ninguém ainda parou (ou teve ânimo pra isso, já que o assunto é deveras espinhudo) pra achar um jeito de arrumar a coisa.

A razão desta situação ridícula existir é que veio lá a Dona Aromaterapia e alertou pro mundo que, veja só, aquela matéria-prima que desde sempre vem sendo usada pra dar flavor a alimentos, que desde sempre vem sendo usada pra fazer perfumes, que desde sempre vem sendo usada na síntese de medicamentos, é, na verdade, um produto-final terapêutico: a Dona Aromaterapia se atreveu a dizer que, bem, nós não precisamos de produtos acabados se podemos usar a própria matéria-prima.

Só que não tô aqui tampouco pra ficar discutindo o mérito dessas questões. Só quis levantar estas lebres pra você perceber que, se delimitar fronteiras entre cosmetologia e aromaterapia às vezes é um desafio, o desafio surge justamente por conta da natureza da própria matéria-prima chamada óleo essencial. Talvez – e esta é a minha mais secreta esperança – paremos de brigar nestas fronteiras quando (daqui uns séculos) os paradigmas mudarem, mas mudarem tipo muito – a gente terá que mudar do segmentado pro holístico, do eu e eles pro tudo junto misturado. Então… sabe-se lá quando, né?

Outro ponto bom de levantar aqui (tô considerando que você ouvirá a gravação da palestra e lerá os slides dela, porque na palestra estão a maioria dos pontos; o que escrevo aqui é só a detalhes) – então, outro ponto bom de levantar aqui é que não existe razão nenhuma pra desmerecer a cosmetologia que se vale de óleos essenciais apenas porque ela não é (eu penso que não é) aromaterapia. Talvez a coisa toda seja semântica (não acho que seja, mas posso concordar que é pra não gerar discussões hostis). Podemos, numa boa, conviver, aromaterapeutas, cosmetólogos, artesãos do aroma, aromatólogoas, “aromatoxonados” pelo bem do que é natural, do que nos irmana, planeta Terra e espécies-irmãs que aqui co-habitam.

Peça o link da gravação, ouça e depois volte aqui pra me dizer o que achou.

 

Beijo de cheiro, Mayra.

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