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“Irmão Rico, Irmã Rica” e as nossas equivocadas relações entre dinheiro e espiritualidade

Postado às 11:48 do dia 23/06/10

Agora, nas livrarias, está na moda um tipo de literatura que é a da autoeducação financeira. São livros que ensinam como controlar as finanças, como investir na bolsa, como guardar 1 milhão de reais, como traçar estratégias financeiras inteligentes.

Eu já folheei muitos destes livros, como aquele que mostra o quanto um casal pôde economizar para a casa própria deixando de tomar cafezinhos na rua. Mas não fiquei motivada a ler nenhum deles realmente, porque eu nunca tinha sentindo tanta vontade de guardar dinheiro de fato.

Até que fiz um treinamento no Sebrae – o Empretec – e percebi que minha relação com dinheiro é no mínimo confusa. E, pior, que costumo trabalhar para empatar resultados, sobretudo porque não quero me confrontar com eles. Foi um baque!

Como apoio, juntei-me a duas outras amigas “empretecas” e montamos nosso próprio Clube do Dinheiro, nos moldes do Clube do Dinheiro das Smart Cookies, que dá nome ao livro homônimo que – este sim, eu comprei como parte de meu próprio programa de autoeducação financeira.

As Smart Cookies originais, que escreveram o livro Clube do Dinheiro

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Talvez a lição mais importante do Clube do Dinheiro seja que se deve falar aberta e francamente sobre ele, se você quiser saber exatamente para onde está escoando o seu. Então, em nosso Clube, analisamos as planilhas de ganhos e gastos umas das outras e tiramos valiosas lições delas.

Mas uma coisa que não aparece no livro – e que é comum a várias amigas empresárias minhas – é que “não sabemos cobrar”. Todas, incluindo eu mesma, dizemos que temos dificuldade em precificar corretamente nossos serviços e produtos de acordo com o que valemos.

Fiquei refletindo sobre isso e notei que muitas de nós têm em comum negócios ligados ao bem-estar das pessoas. E, se queremos fazer o bem, certamente passa pela nossa cabeça que devemos, em certa medida, agir de forma altruísta com o quanto cobramos dos outros, porque, afinal, nosso trabalho reflete nossa busca pela espiritualidade. E espiritualidade tem a ver com desapego, certo?

Falando sobre estas aflições a uma amiga minha, ela me deu o livro Irmão Rico, Irmã Rica para ler. Foi o livro mais relevelador que já li até hoje sobre a relação que fazemos entre dinheiro e espiritualidade. E, certamente, foi a conversa mais aberta e franca de uma monja querendo ganhar dinheiro e um capitalista querendo encontrar Deus.

Capa do livro Irmão Rico, Irmã Rica de Robert e Emi Kiyosaki

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Robert Kiyosaki, coautor do livro, é um capitalista norte-americano, veterano da Guerra do Vietnã, que tem como missão na vida ajudar outras pessoas a enriquecer.

A coautora, sua irmã Barbara Emi Kiyosaki, é monja ordenada pelo Dalai Lama com o nome de Tenzin Kacho e lutou contra a Guerra do Vietnã buscando o caminho da espiritualidade, do budismo e da ajuda ao próximo. Sua meta em vida é iluminação.

A ideia de escreverem o livro juntos foi para tornar Tenzin rica. Por quê? Porque ela teve câncer e é cardíaca e descobriu que sua vida  espiritual não a preparou para as contas do hospital e da velhice. O reencontro dos dois, apesar de terem trilhado caminhos tão diferentes, se deu num momento em que Robert, milionário, descobriu que seu dinheiro vinha do trabalho infantil na China – o que o levou a refletir que deveria fechar seu negócio e buscar algo que fosse trazer o bem para as pessoas.

Os relatos de como Robert foi descobrindo uma vida espiritual através do dinheiro não são tão comoventes quantos os relatos de como Tenzin foi descobrindo que abraçou um estilo de vida onde dinheiro não era importante apenas para ser bem aceita em seu meio budista.

Chega um momento no livro em que ela diz que percebeu que o voto que fizera de ter uma vida simples não era o mesmo que ter voto de pobreza. Ela conta como descobriu que esperar que outros cuidassem de suas necessidades materiais era o oposto de sua missão de ajudar as pessoas e como isso a impulsionou a ser mas diligente em prover seu próprio sustento, de acordo como sua vontade de permanecer saudável. Ela diz:

[…] Como monja, viver abaixo do que ganho parece ser bem “adequado”. Há diferença entre “viver abaixo do que se ganha” e “viver adequadamente”. Abaixo do que ganho me coloca em risco financeiro e físico. (pg. 170)

Depois da leitura deste livro, percebi que muitos fazemos associações equivocadas entre dinheiro e espiritualidade. Alguns mantêm uma relação de desapego extremo com o dinheiro, tornando-se perigosamente dependentes da ajuda do governo ou de outras pessoas, comprometendo, assim, sua liberdade. Outros, se tornam místicos com o dinheiro e acham que seu trabalho, por ser nobre, voltado para o bem, em algum momento irá lhes reverter um bom karma, que serão as benesses financeiras e/ou a iluminação.

O que o Irmão Rico, Irmã Rica mostra é que, em se tratando de dinheiro, há apenas duas verdades: primeiro, o dinheiro que pensamos ser suficiente para vivermos bem, frequentemente é menos do que de fato precisamos; e, segundo, que educação financeira é a chave para ganhar este dinheiro suficiente, ao invés de muito trabalho, orações ou meditações ou bom karma.

Agora eu comprei o Pai Rico, Pai Pobre de Robert e espero, com ele, educar-me melhor em termos financeiros. Com minhas amigas, descobri que o meu suficiente – como previra Robert – é mais do que tenho hoje; e, com Tenzin, descobri que a espiritualidade requer uma relação madura com o dinheiro, inclusive sabendo cobrar pelos mesmos serviços que muitas pessoas, por opção pessoal ou por voto, resolveram não cobrar ou cobrar simbolicamente.

Namaste, Mayra.

 

OBS:

Para acessar o site das Smart Cookies em inglês.

Para acessar o site da The Rich Dad Company de Robert Kiyosaki.

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