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Usabilidade pra que usabilidade

Postado às 15:41 do dia 08/08/17

O ano era 2000. O do bug do milênio que não aconteceu. Termos modernos entravam pro vocabulário do marketing no Brasil, como homepage, pop-up, landpage, hotsite. A navegação pela internet em celulares ainda era meramente acessar pequenos bancos de dados por uma tecnologia pioneira chamada Wap, que poderia desbancar o SMS, antes que víssemos smartphones nascerem.

tabuleta do diluvio

Tabuleta do Dilúvio, c. 700 a.C. O mais antigo registro escrito. Bristish Museum

Minha missão era ser o ponto de contato entre marketing e TI na construção do novo site da startup da banda B de celular do PR e SC. Não havia muito que pudesse orientar o meu trabalho.

Eu, que tinha visto pasma um primeiro uso do email em 1993 no laboratório de computação da Unicamp, ficava sozinha à noite, com um acesso discado, pesquisando no Cadê e no Yahoo algo que pudesse me ajudar.

Então uma pesquisa retornou o nome de Jakob Nielsen e um termo: usability. Por sorte, a Editora Campus tinha traduzido e recém-lançado seu livro no Brasil, que eu comprei por encomenda na Saraiva do Shopping Crystal, a melhor livraria de Curitiba na época, último exemplar de algo que se chamou megastore.

Devorei o livro de Nielsen, e todo seu site, basicamente páginas sem fotos com hiperlinks muito racionais. Havia lá quanto uma homepage deveria pesar, como links deveriam ser construídos, tamanho e número máximo de imagens, existência ou não de pop-ups, uso ou não de tecnologias como Flash.

Junto com a PontoCom – hoje uma referência regional na área – estruturamos o site da Global Telecom depois que eu, tímida mas corajosamente, apresentei a dois diretores, três gerentes e alguns coordenadores pra onde teríamos que ir. Foi uma das reuniões mais difíceis que fiz, eu era muito nova e falava de TI sem nunca ter escrito uma linha de código na vida (anos depois eu falaria de farmacologia sem nunca ter escrito uma fórmula na vida depois do segundo grau). Mas deu certo. E um novo site foi ao ar, com um fundo vermelho, fotos de pessoas e aparelhos de celular que faziam a coisa toda funcionar em conexões discadas e com promoções a toda hora de planos, a briga saudável entre Tim e GT, entre Sercomtel e GT.

Hoje a usabilidade tem outro nome e você realmente precisa ser um especialista pra construir um site que funcione bem e ganhe nota 10. O meu próprio não ganharia.

Outra coisa que mudou – e talvez Nielsen não tivesse pensado nisso – é que o hábito de usar algo falho o transforma em algo padrão, como os famigerados CLIQUE AQUI, que hoje ganharam status de usabilidade de tanto terem sido usados.

Mas uma coisa não mudará: ainda lemos melhor quando há um limite seguro onde os olhos podem ir e voltar em pontos fixos. Ou seja, um rolamento de tela que rola algo fixo é mais confortável pra leitura que um rolamento de tela que faz as coisas sumirem/aparecerem como muitos sites fazem hoje.

Ainda precisamos de âncoras visuais bem firmes.

Por isso, um apelo aos especialistas em moda: parem de usar este lixo de design fluido pra sites, coisas que se mexem, aparecem e somem conforme se rola a tela pra baixo ou pra cima.

A internet muda, as gerações mudam. Mas o olho humano é relativamente o mesmo ao longo destes 3 mil anos de registros escritos.

 

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