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Uni-du-ni-tê, este é o yoga pra você.

Postado às 02:24 do dia 06/01/08

Neste final de semana, fazendo minhas leituras usuais na internet, bati os olhos no texto de um conterrâneo e também professor de yoga, Vitor Caruso Jr. Seu texto, Se Você Conhece um Mestre ou Professor de Yoga, CUIDADO!!!, dá 11 dicas para se certificar de fazer uma boa escolha do local onde estará praticando. Gostaria de tê-lo lido anos atrás…

O principal alerta deste texto parte da premissa de que yoga é yoga legítimo enquanto respeita os princípios dos Yoga Sutras, escritos por Patanjali, mestre que teria vivido entre os séculos II-III a.C, na Índia. Os Yoga Sutras codificaram toda a tradição do yoga presente até aquela época, definindo suas bases de maneira tão justa e perfeita que se tornaram a referência principal para qualquer modalidade de yoga praticada desde então e inclusive na atualidade.

Todos que já se aventuraram pelos Yoga Sutras sabem que sua base é a conversão para um caráter ético e reto, que siga os Yamas e Niyamas, códigos comportamentais. E sabem também que o pináculo do yoga é alcançado quando se dominam as ondas mentais ao ponto de suprimi-las, sem o quê o espírito não pode se fundir à energia cósmica. Ou seja, o yoga começa no comportamento e termina na mente. Este é o caminho rumo à realização espiritual. O domínio do corpo, da respiração, das funções orgânicas, etc são apenas vias de acesso ao domínio do psicológico; e o psicológico deve ser dominado apenas para que o espiritual possa se exprimir em sua totalidade

É por conta deste enfoque, da aceitação dos Yoga Sutras, que Vitor Caruso diz para desconfiarmos do yoga que se diz mera prática de relaxamento, já que yoga é “prática para evolução pessoal”. É pelo mesmo motivo que o estudioso Georg Feuerstein diz que o yoga é uma “tecnologia espiritual” em vez de uma tecnologia de relaxamento, ou de alongamento, ou de aperfeiçoamento físico.

Ambos os alertas são coerentes, valiosos e fundamentais. Tornam-se ainda mais fundamentais se você já passou por experiências não tão boas sendo instruído por algum professor.

Entretanto, vem aquela pessoa pedir informações sobre suas aulas de yoga. Ela toca a campainha, entra, você oferece um chá e lhe pergunta o que a traz até o yoga. E esta pessoa responde:

– Eu tô muito estressado, tenho me irritado fácil. Além disso, meu médico me mandou fazer yoga porque eu preciso de alongamento e preciso melhorar minha respiração.

O que você lhe responde? Esta pessoa lhe apresenta sintomas, ela não lhe apresenta causas que queira investigar. Ela lhe apresenta respostas comportamentais e não uma personalidade que queira mudar. O que você vai lhe responder? Que dê meia-volta e vá buscar um pilates para se alongar? uma fisioterapia respiratória? umas férias? uns ansiolíticos? Claro que não. E tampouco você poderá dizer “o yoga só vai lhe ajudar se você quiser aperfeiçoar seu ser, senão, o yoga não é a resposta para suas queixas”.

Você lhe dirá que o yoga vai, sim, melhorar tudo isto que ela precisa; que ela vai, sim, relaxar, respirar melhor e alongar-se.

O problema do yoga ser visto, hoje, apenas como uma atividade física (quiçá psíquica) e não como uma atividade espiritual não está nos professores que não aplicam os Yoga Sutras, está, de um modo geral, na humanidade que deixou de buscar as causas e as origens para se satisfazer apenas com os efeitos.

A Adidas diz hoje “play yoga” em sua propaganda, como se yoga fosse um esporte tal qual correr ou nadar. Ninguém nem a Adidas está desvirtuando ou se aproveitando do yoga, a humanidade é que está desvirtuada e só quer saber de aproveitar.

(Assista ao video da propaganda abaixo ou leia o comentário do video com link para making-off)

A maior parte das pessoas não têm paciência para combater uma doença transformando um comportamento – toma-se remédio, que é imediato. Ninguém tem paciência de rever hábitos alimentares para adoecer menos – ingerem-se alimentos funcionais (o cúmulo, para mim, é a Coca-Cola vitaminada, a Diet Coke Plus, vendida pela empresa como healthy beverage, bebida saudável). Ninguém tem paciência para nada.

O fato do Ocidente não acreditar em reencarnação muda a perspectiva de tudo: desde o quanto de paciência se tem até de como o yoga é encarado. Mesmo que eu viver 100 anos, o que são 100 anos se não houver nada depois? Passa num minuto! Qual é a razão de mudar meu comportamento, de me cuidar, se a medicina me dará mais 10, 20 anos mantendo o meu mesmo estilo de vida? Nenhuma, não há por que mudar.

Particularmente, não vejo problema naquele que “vende” yoga apenas como relaxamento, porque a prática serve para isso também. Não critico aquele que vem praticar apenas porque quer relaxar e não está interessado no espiritual. Pelo contrário, acho que a ancestralidade do yoga se deve à sua ampla tolerância e versatilidade quanto a usos e costumes, a credos e a incrédulos.

Tampouco posso fazer algo, além de lamentar, contra aqueles que usam o yoga para tirar proveito das pessoas. Prefiro a perspectiva do karma, que nos ensina que temos apenas aquilo que merecemos. Prefiro esta perspectiva para mim. E para o outro lado, o daquele que se aproveita, também prefiro a perspectiva do karma: você recebe de volta aquilo que planta. E se não for nesta vida, agüente que será numa próxima.

Se eu fosse lhe dar uma dica para acertar na busca de um professor de yoga, eu diria: estude a lei do karma. Daí, abra o Google ou a lista telefônica e busque os endereços. Tire o máximo de informações que puder sobre o professor. Então, escolha. Sensatamente. Ou não tire nenhuma informação, faça o uni-du-ni-tê e se matricule. De uma maneira ou outra você vai praticar onde deveria estar praticando, para o bem ou para o mal.

Abraços, Mayra.

PS: Leia outro post meu sobre o comercial da Adidas, sobre o uso de to play or to do yoga e mais um trecho de artigo do estudioso Georg Feuerstein sobre a ocidentalização do hatha yoga.

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