O Zen de Encapar.

Postado às 17:44 do dia 15/02/12

Todo mundo é unânime em dizer que trabalho manual dá paz. Das artes milenares da ikebana e origami às mais modernas do tricô e crochê, elas provam que o ditado deveria ser mudado para “quem mexe com a mãos, os males espanta do coração.”

De minha parte, NOT. Não há nada que seja manual – exceto escrever à mão numa imaculada folha branca – que me deixe zen. Há pessoas que levam jeito. Não me incluo no rol.

Jardinagem? Não, não é comigo. É só pegar uma mangueira para aguar o jardim que fico mais enrolada que ela.

Costurar? Também não. Sabe aquela coisa necessária de passar o fio pela agulha? Comigo dá nó.

Pintura? Vixi, piorou. Se dependesse de mim, a Suvinil ficaria no vermelho.

Amassar pão? Até vai, mas não espere engrandecimento meu nesta área tampouco.

Daí me aparece na lista de material escolar um aviso: “Os livros de caligrafia e inglês devem vir encapados. Os demais já possuem capas plásticas.”

Lascou-se!

Quando eu era pequena, ficava pasma de ver minha mãe encapando não um, mas uma dezena de livros nossos. Encapava também cadernos, não importa se fossem espiralados ou costurados. Uma verdadeira mestra no ofício. Minha mãe era tão boa na arte zen de encapar que conseguia fazê-lo até com aquele troço grudento, lazarento que se chama “contact”, sabe?

Se alguém consegue encapar um livro com contact é ninja. Definitivamente ninja.

Eu me armei de durex e plásticos transparentes. Eram apenas seis míseros livros.

O desastre começou logo no início, porque não consegui destacar o adesivo que amarrava o rolo plástico. Acabei cortando o adesivo e um pedaço do plástico junto. Apesar do fracasso inicial, dei-me uma desculpa: “Também, quem é o filho da mãe do gerente de marketing que descobriu que vende mais plástico fazendo com que o cliente corte metade dele só de abri-lo?!”

Passado o teste de abrir o rolo, envolvi o primeiro livro no plástico e notei – ah, sim! que sensação gostosa o plástico lisinho sob minhas mãos. Quase tive um êxtase e entendi que a gente realmente pode alcançar o zen nas coisas do dia-a-dia. Vai ver foi isso que estimulou minha mãe a encapar nossos livros por tantos anos letivos.

Êxtase fugaz, no entanto: fui cortar o plástico e não cortei reto. Fui puxar o durex e ele enrolou no meu dedo. Fui pregar o durex num lado da capa e encurtei o plástico no outro. Fui dobrar uma ponta e ela escapou.

Depois dos rounds regulamentares, venci: estavam os seis livros encapadíssimos. Passei a mão sobre eles e tive aquela sensação prazerosa das capas lisinhas. Um frêmito zen percorreu minha espinha.

Quando entreguei os livros aos meninos, eles me disseram: “Ah, mãe, não queria que encapasse.”

Bá pros dois!

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