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Crepúsculo – Stephenie Meyer

Postado às 12:28 do dia 30/12/12

É impressionante que uma história com 355 páginas contenha praticamente diálogos. Mais incrível é que, sendo uma narrativa em retrospectiva – ou seja, existe um fato no presente e a narrativa recua até ele – , a narradora, Isabella Swan, consiga se lembrar exatamente do teor das conversas e do que pensava, em minúcias, quando estava em companhia de Edward Cullen. Ou seja, tudo leva a crer que, realmente, ela seria uma vampira extraordinária, senão pela força, certamente com relação à memória. Por que Stephenie não explorou essa faceta nas habilidades dela também?
Ok, isso é ironia. Quero dizer que Crepúsculo-livro é muito pior que Crepúsculo-filme. Como a autora foi quem produziu os filmes, ela deve ter tido chance de consertar os excessos e apurar as personagens quando as colocou para a tela. Bella-livro, por exemplo, é uma lamúria só do começo ao final e nem de longe se parece com a Bella-filme interpretada por Kristen Stewart, que é doce, interessante, profunda e linda. Edward-livro, por outro lado, é muito mais engraçado que Edward-filme, de quem ficamos com sono só de olhar. E, certamente, Edward-filme não é o Apolo descrito no livro. Mas Robert Pattinson tem uma habilidade útil: quando atua, sempre faz o seu oponente masculino brilhar. Foi assim com Cedrico, que morreu para que Harry Potter sobrevivesse, e com Edward, que, branquelo, só torna Taylor Lautner (Jacob Black, o lobo) ainda mais sedutor.
Então por que ler Crepúsculo? Porque você quer saber se a história se passa da mesma forma que no filme. Claro que há coisas diferentes; isso é um business e se, as histórias fossem iguais, o filme não ajudaria na venda do livro nem vice-versa.
Crepúsculo é absolutamente careta; estão todos os valores lá: virgindade, fidelidade, família, respeito aos professores, à pátria, ao próximo, ecologia, apologia aos estudos e à vida de trabalho, amor ao próximo. Um conto de fadas com final feliz onde o pior que pode acontecer à princesa é viver pra sempre com seu príncipe. (Sorry, ironia de novo.)
Mas uma coisa se salva: a cena em que Edward, com habilidades predatórias, convence Bella a viajar, numa velocidade extraordinária, montada nas costas dele. Uma pequena ode protopornográfica. É o trecho que escolhi para transcrever. Leia em silêncio, com pausas; o efeito será acentuado.

“Ele me observava intensamente, com cuidado, mas havia humor no fundo de seus olhos. Apoiou as mãos no Jeep dos dois lados de minha cabeça e se inclinou para a frente, obrigando-me a encostar na porta. Chegou mais perto ainda, o rosto a centímetros do meu. Eu não tinha espaço para escapar.
– Agora – murmurou ele, e seu cheiro perturbou meu processo de pensamento – , com o que exatamente está se preocupando?
– Bom, hmmm, bater numa árvore – engoli em seco – e morrer. E depois ficar enjoada.
Ele reprimiu um sorriso. Depois baixou a cabeça e tocou com os lábios frios a base de meu pescoço.
– Ainda está preocupada? – sussurrou ele contra minha pele.
– Sim. – Lutei para me concentrar. – Com bater em árvores e ficar enjoada.
Seu nariz traçou uma linha pela pele de meu pescoço até a ponta do queixo. Seu hálito frio pinicou minha pele.
– E agora? – Seus lábios sussurravam em meu rosto.
– Árvores – arfei. Enjoo de viagem.
Ele ergueu o rosto para beijar minhas pálpebras.
– Bella, você não acha realmente que eu bateria numa árvore, acha?
– Não, mas eu posso bater. – Não havia confiança nenhuma em minha voz. Ele farejou uma vitória fácil.
Edward beijou lentamente meu pescoço, parando perto do canto de minha boca.
– Eu deixaria uma árvore machucar você? – Seus lábios mal roçaram meu lábio inferior trêmulo.
– Não – sussurrei. Eu sabia que havia uma segunda parte em minha defesa brilhante, mas não conseguia resgatá-la.
– Está vendo – disse ele, os lábios movendo-se nos meus. – Não há motivo para temer, há?
– Não – eu suspirei, desistindo.
Depois ele pegou meu rosto nas mãos quase com indelicadeza e meu beijou, os lábios inflexíveis movimentando-se nos meus.” (p. 261-262)

Não é mole quando se tem 17 anos?! Boa leitura!

revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2012

MEYER, Stephenie. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2009, 3ª edição.

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