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A magia e o poder da lavanda – Maggie Tisserrand e Monika Jünemann

Postado às 17:50 do dia 24/08/12

A Madras é uma editora bem particular. Lembro de frequentar uma antiga livraria esotérica em Curitba, A Pirâmide, quando ela ficava nas imediações da Reitora da UFPR, e comprar vários livros da Madras. Ainda tenho muitos deles sobre astrologia, ocultismo, numerologia, plantas medicinais e demais assuntos holísticos. Outra editora que comparecia em peso nas minhas sacolas de compra d´A Pirâmide era a Pensamento, antes dela virar Pensamento-Cultrix. Quase todos meus livros de astrologia são da Pensamento e uma das coisas simpáticas é que eram todos bastante acessíveis, para não dizer baratos. Fico pensando que, se essas duas editoras se sustentavam em meados dos anos 90, quando comprar livro era algo bem mais difícil que hoje, como é que as editoras modernas reclamam tanto para sobreviver neste país.
É que o negócio do livro, na atualidade, quer mais e mais lucros. Quando olho para o catálogo da Madras e da antiga Pensamento, percebo que lá havia outra coisa, além de lucros: o amor por disseminar o bem.
A Madras editou este livrinho de Maggie Tisserand, aromaterapeuta inglesa, autora de dois outros prestigiadíssimos livros de aromaterapia de bem-estar – o Aromaterapia para Amantes (IBRASA, 1995) e o Aromatherapy for Women (Healing Arts Press, 1996). A Magia e o Poder da Lavanda fala sobre o mais versátil dos óleos essenciais clássicos, a Lavandula angustifolia. Se não fosse pelo óleo essencial da lavanda francesa, Gattefossé não teria inventado a aromaterapia e Maggie, que foi casada com Robert Tisserand por 11 anos, não teria dedicado sua vida a essa arte. Mas a lavanda, diante da descoberta de novos óleos essenciais e oleorresinas, sobretudo aqueles tropicais, vem perdendo seu apelido de “Bombril, 1001 utilidades.” Já conheço aromaterapeutas que deixam de colocar a lavanda num kit de primeiros socorros. Quando pensam em princípios ativos, talvez ponderem que valha mais a pena ter, num kit, uma copaíba, uma hortelã-pimenta, um tea tree e um limão que a suavidade da lavanda.
Mas a lavanda, em termos olfativos, permanece insubstituível, seja na aromaterapia, seja na perfumaria. Apenas acredito que nossa sensibilidade moderna tenha se acostumado demais com sua onipresença. Recentemente, no curso promovido pelo IBRA que trouxe o Dr. Daniel Pénoel da França para Belo Horizonte, pudemos conhecer o óleo essencial de Fragônia ™, uma preciosidade australiana sem equivalentes europeus. Concordo que, ao sentir um aroma novo, somos tomados por excitação e se se tratar de uma novidade inebriante, como é o caso da Fragônia ™, mesmo a mais estérica lavanda ficará para trás.
Por esses motivos, acho super oportuno resenhar o pequeno livro de Maggie e Monika. Acredito que a leitura dele nos ajude a olhar para o básico, senão para a origem da aromaterapia e resgatar uma de suas técnicas primordiais: relaxar pela ação do aroma alcoolico e estérico das sumidades floridas da destilação da Lavandula angustifolia geotipo França mediterrânea.

A lavanda na história
– Uma curiosidade sobre a lavanda que eu desconhecia: sem ela, Joseph Niepce não teria conseguido tirar a primeira fotografia, pois sua invenção, o heliograma, um prato de prata, foi revestido com uma camada de betume natural previamente diluído em óleo de lavanda.
– Parece que em algum momento do século I d.C. inicia a história da lavanda, quando um médico romano, Pedanios Dioscurides, mencionou-a num tratado: óleo de Spica ou Stoechaeus.
– Ao que tudo indica, a Lavandula stoechas foi levada para o sul da França pelos gregos por volta de 500 a.C..
– Durante a Idade Média, vem da Alemanha as maior parte das referências sobre a lavanda, inclusive o apelido de “planta de Virgem Maria”, por suas supostas habilidades para debelar os desejos carnais. (È verdade, turma, a lavanda é super anafrodisíaca!)
– A partir de 1500, com a redescoberta da destilação por arraste a vapor, o uso da lavanda se dissemina, tendo sido usada inclusive por Nostradamus enquanto tratava as vítimas da peste conhecida como le charbon.
– Do século XVI para o XVII, a lavanda selvagem já era regularmente colhida na Alta Provença, mas também já era plantada nas proximidades de Viena e, um pouco mais tarde, na Inglaterra (Surrey e Norfolk).
– Sabe-se que Henrique VIII possuía canteiros de lavanda nos jardins de seu castelo e é de supor que a futura rainha Elizabeth I brincasse entre elas quando criança.
– A amante de Molière, Ninon de Lenclos, nascida em 1520, disse ter tido uma vida excitante e corpo esguio até a idade de 85 anos graças a uma mistura em cujos ingredientes se encontrava a lavanda.
– O uso histórico mais famoso da lavanda, em combinação ao alecrim e à bergamota, é na formulação da Água de Colônia 4711. Fabricada como remédio desde 1508 em Florença, Itália, atingiu seu apogeu no início do século XVIII, quando a higiene pessoal foi finalmente relacionada à manutenção da saúde.
– Na perfumaria, o ano de 1882 constituiu um marco no uso da lavanda, com o lançamento de Fougère Royale, de Houbigant, onde o aroma da planta entrava nos constituintes principais.

O cultivo da lavanda

“Desenvolver uma fazenda de lavanda é um negócio demorado e complexo.” (p. 47)

– No livro, Maggie e Monika dedicam algumas páginas para contar a história da lavanda Norfolk, que começou a ser cultivada nos anos 1930 pelo empreendedor Linneaus Chilvers. Ele conta que, entre a escolha da muda adequada e a colheita de 1 acre e extração do óleo, decorre um tempo que nunca pode ser menor que 10 anos. A sua fazenda selecionou 6 variedades entre quase 100 híbridos avaliados. Imagine que, para empreender algo que exige tanta paciência, esforço e investimento, só mesmo se se tratar de uma paixão. Por isso as autoras dizem que:

“(…) a única coisa capaz de equiparar-se à tenacidade que a lavanda possui de crescer sob condições adversas é a determinação do homem em fazer de seus sonhos uma realidade.” (p. 49)

A destilação da lavanda
– Flores, folhas e talos da lavanda dão óleo essencial, mas a perfumaria gosta particularmente do óleo extraído apenas da flores.
– O melhor rendimento na destilação da lavanda é obtido com plantas que tenham entre quatro e sete anos, colhidas com até 48 horas. A cor das flores não guarda relação com a qualidade do óleo obtido.

“O óleo de lavanda pura deve ser tão agradável ao nosso nariz quanto uma peça musical bem orquestrada é aos nossos ouvidos. Deve consistir em um tema básico melodioso, parafraseado por diferentes instrumentos em chaves diferentes, que se misturam num conjunto harmonioso – uma composição no verdadeiro sentido da palavra.” (p. 36)

– Para mim, o aroma da lavanda tem um nota de saída alcoolica, levemente ácida, balsâmica, como se fosse uma luz esfumaçada de branco. Quando estes ésteres se volatilizam, vem um aroma mais floral herbáceo, adocicado, como o suave balanço que perdura num berço quando tiramos o bebê lá de dentro.

A aromaterapia

“Já que os óleos de essência representam substâncias vegetais altamente concentradas, a aromaterapia pode ser considerada uma espécie de fitoterapia nuclear.” (p. 61)

– Gente, é um nome muito feliz este “fitoterapia nuclear”. O adjetivo remete tanto ao que existe de mais vital na planta, sua alma, seu núcleo, quanto nos lembra reações nucleares e, daí, física quântica.

“Os óleos de essência são produtos da luz do sol, ou, no dizer de alguns amigos nossos, são conhecimento sob a forma de aroma.” (p. 100)

– Gostei dessa também: “conhecimento em forma de aroma” – quantaroma, eu diria!

O uso da lavanda

“Especialmente quando estamos com dúvidas, a essência de lavanda pode nos fazer pensar claramente e servir de apoio para uma escolha correta.” (p. 69)

– O livro fala de todos os usos tradicionais da lavanda, desde sua incrível capacidade de regenerar a pele queimada até sua conhecida característica ansiolítica. Mas eu quero, nesta resenha, trazer o que li de diferente, aquilo que só mesmo neste livro pude aprender. A questão da lavanda dirimir dúvidas me parece muito interessante. Sabemos que a lavanda é antisséptica; já a confusão pode ser explicada, simbolicamente, como sujeiras que se acumulam na mente e turvam o discernimento. Deve vir daí a indicação.
– Abaixo vou transcrever um caso que Maggie relata que é de uma esperteza incrível. Para mamães e cuidadoras de bebês, é uma dica valiosa de como acalmá-los com lavanda. Leia:

“Quando viajava para São Francisco, para fazer uma palestra sobre aromaterapia, na fileira oposta à minha, do outro lado do corredor do avião, estava uma criança que mal havia começado a andar. (…) Dez horas de voo eram uma esticada e tanto para uma criança pequena. Porém durante as primeiras horas, [a criança cujo nome é] Anna comportou-se maravilhosamente. (…) Depois, cansou-se e começou a chorar. (…) Quando a tomavam no colo, ela chorava; quando deixada no seu lugar, gritava. (…) Após um momento, eu me ofereci para segurar Anna ‘para ajudar a sua mãe’, mas antes tive o cuidado de esfregar um pouco de óleo de lavanda no pescoço. Segurar a criança no colo fez-me lembrar dos meus filhos e da grande ajuda que a lavanda me deu para criá-los. As crianças crescem, meus filhos são todos quase adolescentes, porém a lavanda permanece a mesma. Em poucos minutos, Anna estava dormindo e manteve-se assim até a hora em que a aeromoça veio despertá-la, quando já nos aproximávamos do Aeroporto de São Francisco.” (p. 75-76)

– Não é uma história danadinha?! Assim, quando vir uma mãe estressada com uma criança de colo aos berros, passe lavanda no seu pescoço e se ofereça para segurar o bebê no colo. 😉

“Segundo Martin Henglein, a lavanda corresponde à carta de Tarot Os amantes, simbolizando o despertar da integridade perdida e a abolição de dicotomias – a fusão ao fluxo da experiência atual. Essa imagem capta perfeitamente os efeitos da lavanda no plano mental.” (p. 101)

– No livro, as autoras citam que a lavanda, para Nicholas Culpeper, era regida por Mercúrio. Assim, quando a energia de Mercúrio está nos dominando, devemos usar seu símilio para domá-la: ideias fixas devem ser transformadas em fluxos de ideias. Bem bacana.

revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2012
TISSERAND, Maggie e JÜNEMANN, Monika. A magia e o poder da lavanda. São Paulo: Madras Editora, 1999.
Pra variar, mais um livro esgotado no mercado editorial brasileiro. Encontre-o nos sebos da Estante Virtual.

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