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A fada que tinha ideias – Fernanda Lopes de Almeida

Postado às 16:16 do dia 13/01/13

Monteiro Lobato, Maurício de Souza, José Mauro de Vasconcelos, Ana Maria Machado, Maria Claro Machado – perdoem-me. Meu livro de infância preferido é mesmo A Fada que Tinha Ideias. Um clássico no cenário da literatura infantil brasileira, lançado em 1971 com texto de Fernanda Lopes de Almeida (1944) e ilustrações de Elvira Vigna, o livro foi relançado em 75 com desenhos em aquarela de Edu, que recheiam as páginas até hoje, 28 edições após.

Trata-se da história da fadinha rebelde Clara Luz que, entediada com a mesmice do sistema de ensino de fadas no céu, resolve fazer as coisas à sua maneira, causando confusões como assar bolinhos que crescem até explodir ou colorir a chuva, o que acaba por despertar o mau humor da Bruxa Feiosa, colocando a Rainha em alerta. Clara Luz, que é crítica, inteligente e xereta como toda grande pequena menina de 10 anos de idade, quer mostrar à Rainha as vantagens de modernizar o ensino, abrindo os horizontes e deixando que as fadas criem suas próprias mágicas e não apenas aquelas que estão no Livro.

Se o que cativa em Clara Luz é sua porção travessa, a autoconsciência de que é apenas uma garota e de que precisa, portanto, das orientações de uma boa mãe e de uma boa professora nos faz lembrar que o livro foi escrito durante o regime militar. Foi possível criticar a falta da liberdade de expressão; mas seria – como ainda é – impensável criticar o valor da família e da educação.

A Fada que Tinha Ideias é lido até hoje nas escolas de ensino fundamental. Em 2011, quando meu filho mais velho estava sendo alfabetizado, a professora adotou a leitura do livro como obrigatória. Ciumenta de meu próprio exemplar, comprei outro para ele e lemos juntos, deitados na cama, à noite, com o irmão mais novo também a tiracolo. Garanto que se encantaram tanto quanto eu me deliciei há 30 anos. O capítulo em que Clara Luz dá a receita dos Bolinhos de Luz continua imbatível em diversão e a brincadeira de modelar as nuvens como se fossem massinha atiça a imaginação do mesmo jeito que antes.

Se você tem filhos em idade escolar, não deixe de presenteá-los com esse clássico. A literatura infantil brasileira é gloriosa e A Fada que Tinha Ideias é um de suas joias. Comemore!

 

 

Ideias de Clara Luz

“Quando alguém inventa alguma coisa, o mundo anda. Quando ninguém inventa nada, o mundo fica parado. Nunca reparou?” (p. 7)

“Para colorir chuva não precisa ordem não. Basta a gente ter a ideia.” (p. 20)

“Eu acho que criança também pode escrever livros, se quiser, a senhora não acha?” (p. 23)

“Mas é preciso deixar as pessoas inventarem as mágicas que quiserem, Majestade. Não pode ser pelo Livro.” (p. 58)

 

 

A lógica de Clara Luz

“ – Minha filha, isso não é da sua conta. Você precisa se convencer de que você não é a Rainha, ouviu?

– Sabe, mamãe, na minha opinião, tudo é da conta de todos. Justamente isto é que dá um trabalhão.

A Fada-Mãe ficou olhando para Clara Luz:

– Minha filha, você não será muito pequena para ter tantas opiniões? Tenho medo que faça mal à sua saúde!

– Não se preocupe, mamãe. Desde o três anos de idade, eu comecei a ter opiniões. Agora estou com dez, de modo que tenho sete anos de prática.” (p. 30)

 

“Entre Vossa Majestade e mamãe, gosto muito mais de mamãe, que eu conheço há muito mais tempo.” (p. 52)

 

“[..] Minha opinião é essa: se D. João VI, que não era fada, pôde abrir os portos, por que Vossa Majestade não pode abrir os horizontes?” (p. 53)

 

– Não falei? Clara Luz é o máximo!

 

 

revisto por Mayra Corrêa e Castro ® 2013

 

ALMEIDA, Fernanda Lopes de. A fada que tinha ideias. Ilustrações: Edu. São Paulo: Ática, 2007, 28ª edição.

 

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