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Aromaterapia durante o sono

Postado às 18:59 do dia 24/05/17

É uma dúvida comum: “Profe, usar aromaterapia durante o sono, tem efeito?” A resposta é curta, mas o que está por trás do tamanho dela, pra variar, é complexo. Então, sim, os óleos essenciais têm efeito durante à noite, mas… este mas é bem longo. Continue lendo.

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Quando a gente fala sobre o efeito dos óleos essenciais (OEs), a gente precisa delimitar alguns territórios. O primeiro é o território do que seja um efeito. O segundo, o território do que seja a natureza deste efeito. E o terceiro, o território do que seja o mecanismo que levou a este efeito. Além de que, em se falando sobre inalação de óleos essenciais, sempre precisamos levar em conta questões de segurança e toxidade versus eficácia.

Ataquemos de primeira esta questão, que é a mais simples: segurança e toxidade versus eficácia.

Já disse algumas vezes que mais valem curtas inalações que longas inalações. Nosso olfato é um serzinho muito do enjoado: rapidamente “cansa” de um odor (fenômeno da acomodação olfativa), depende de uma mucosa fácil de ficar sensibilizada, e está à distância de poucas sinapses do cérebro (duas entre o nervo olfativo e a amígdala cerebral; três até o hipocampo), de forma que tudo que atravessa o nariz chega chegando pra valer no sistema nervoso. Entonces, devagar com o andor. Você pode se beneficiar de todo o potencial terapêutico dos OEs fazendo de 2-3 inalações que durem de 10-20 min por dia, em vez de ficar com um aromatizador ligado por horas no ambiente, ou ficar horas com um colar olfativo dependurado no pescoço. Dito isso, espero que você, de fato, considere: precisa, mesmo, dormir com um aromatizador ligado na tomada a noite toda?

Bão, agora aos territórios que precisamos delimitar.

1º O que seja um efeito

O que você entende por efeito? É algo que você precisa observar assim que entra em contato com o OE ou é algo que você espera observar depois de um longo e duradouro contato com os OEs? É algo que obrigatoriamente deva ser positivo ou você também entende que efeito possa ser algo negativo? – o que é super passível de ocorrer com o uso inadequado dos OEs. Efeito é uma reação, uma alteração ou uma transformação? E é algo efêmero ou algo que durará para todo o sempre amém? Sabe por causa de quê que estas peguntas são deveras importantes? Pra lidarmos com a sua expectativa.

Yes, você pode não acreditar, mas o efeito dos OEs são mega suscetíveis às expectativas que atribuímos a eles. Tem pesquisa falando sobre isso, tem uma palestra inteirinha que eu dei falando sobre isso. De maneira que sua expectativa de efeito pode levar toda a ação da aromaterapia ir pro brejo, ou pode reputar-lhe mais efeitos do que na real aconteceu. Então, pergunte pra si, quando for usar OEs durante o sono, que tipo de efeito você busca? Controlar a insônia, ter um sono mais profundo, ter sonhos lúcidos, respirar melhor, tossir menos caso esteja gripado, controlar a rinite? Quando você tem claro o efeito que busca, delimitar o 2º território fica mutcho fácil, veja.

2º A natureza do efeito

Vamos pegar o exemplo mais simples dos efeitos acima: respirar melhor. Como que se respira melhor à noite? Ah, puxa, tem várias coisas, vou tentar resumir: 1) posição da cabeça em relação ao corpo (deitar de bruços, de barriga pra cima, de lado), 2) nível de elasticidade da mucosa do palato, 3) quantidade de gordura abdominal, 4) quantidade de muco dentro das fossas nasais e 5) nos pulmões, 6) quantidade de alérgenos no ar do ambiente onde você dorme, 7) temperatura e umidade do ar do ambiente onde você dorme e inclusive 8) o tipo de gulodice que você comeu no jantar e ao longo do dia. Dureza, hein? Agora pegue um oleozinho manjado pra ajudar na respiração: eucalipto glóbulos. Ele vai ter um efeito positivo pra ajudar a respirar melhor se usado durante o sono? Considerando as causas, de 1 a 8, que elenquei acima, será que o OE de eucalipto teria um efeito nelas? Leia as respostas abaixo:

Causa de número…

1) nenhum efeito

2) a princípio não

3) de jeito nenhum

4) pode ajudar, mas depende da forma de difusão

5) mais pra não que pra sim e, quando sim, depende da forma de difusão

6) tem chance mas vai depender da forma de difusão

7) nada a ver

8) ah, seria bão, né?; mas, infelizmente, não.

Veja que os efeitos onde o OE de eucalipto pode ajudar neste exemplo são limitados. Se você não souber a natureza do efeito que precisa obter dos OEs, difícil chegar a grandes conclusões se usá-los à noite ajudaria ou não.

Segundo exemplo de efeito esperado: dormir profundamente.

Como que se dorme profundamente à noite? Eu não sei! rsrsrs Me conte se descobrir uma fórmula mágica. Mas, pelo que a gente lê de pessoas que se dedicam a estudar o sono, alguns fatores interferem: A) Tomou sol, benzinho, pra produzir melatonina suficiente pra ter sono? Não, hum, sei…; B) Ingeriu cafeína ou qualquer outro estimulante da hora do almoço pra frente? C) Ficou usando a tela com brilho azul do celular ou mudou pro night shift? D) Tá com fome? E) Comeu demais? F) Muito stress? G) Dor nas costas, no ciático, de cabeça? H) O filho voltou da balada? Tá com febre? Tem cólica? Tá amamentado? H) Que idade você tem, xuxu? Já passou dos 40?

Já deu pra perceber que mesmo um lindo e santo OE como o da lavanda francesa não vai resolver boa parte das causas pra você dormir mais profundamente, né? A lavanda não terá efeito pra tudo…

Mas se você espera pelo menos um efeito, digamos, o desestressante, sim, a lavanda pode, talvez (vou escrever em maiúsculas: TALVEZ) te ajudar. De que forma ela fará isso? Pra responder, vamos delimitar o 3º território:

3º O mecanismo do efeito

Grosso modo, a aromaterapia pode atuar assim: farmacologicamente, emocionalmente e espiritualmente/energeticamente. Não quero entrar no mérito da questão espiritual/energética porque teríamos que conceituar o que é espírito, o que é energia, o que seria um estado de saúde e um de doença no âmbito energético-espiritual. Mas apenas pra não deixá-lo de mãos vazias, digamos que a aromaterapia pode se comportar como um medicamento homeopático, como um remédio floral (Bach, Saint Germain, tipo esses), sensitivos podem perceber alterações no campo áurico e inclusive, neste exato momento, tem até engenheiro agrônomo no Brasil descobrindo como testar o potencial de energia dos OEs. Belê?

O enrosco pra entender como os óleos essenciais atuam é quando o efeito desejado é no comportamento. O efeito físico, dependendo da doença, é mais fácil de entender (fácil na superfície, porque na profundidade é uma farmacodinâmica danada de difícil): micose de pele: o óleo foi lá e matou o fungo; dor de pancada: o óleo foi lá e cooptou os termorreceptores; dor muscular: o óleo foi lá e modulou a liberação de citocinas pró-inflamatórias… Mas, agora, como explicar o efeito, por exemplo, ansiolítico dos óleos? Tudo bem que o SilexanTM nos trouxe alguma luz sobre isso, mas ansiedade é um negócio metade físico/orgânico, metade emocional, não é? E mesmo emoção, ô conceito punk! Emoção depende de uma certa bioquímica acontecendo no corpo, mas se fosse apenas isso – e ainda que a humanidade conheça pouco sobre a bioquímica do comportamento – existem fatores que não conseguimos explicar, mas que conseguimos enxergar: algo no comportamento que parece “puramente psicológico”, algo no nível da consciência que ninguém sabe onde fica, o que é, mas que existe, um algo meio que emocional/energético/espiritual.

Então, voltemos ao OE de lavanda pro nosso insone dormir mais profundamente. O SilexanTM é um OE de lavanda padronizado, encapsulado em 80 mg/dose, que se ingere 1x ao dia e que, em testes farmacológicos, se mostrou eficaz pra distúrbios do sono, transtornos de ansiedade, neurastenia e desordens de somatização. Seu efeito foi comparado ao do Lorazepam mas sem a parte ruim. Possivelmente, estamos falando aqui de uma ação inibitória do glutamato, de um efeito antagonista nos receptores NMDA, e de uma ação nos receptores 5TH1A (serotonina). Logo, perceba: um efeito “psicológico” do tipo “dormir profundamente” tem um mecanismo bem químico no caso de uma lavanda, não tem? Mas a aromaterapia é uma terapêutica holística. Então, como explicar pessoas que não conseguem dormir com lavanda? Pessoas que dizem ter sonhos lúcidos com lavanda? Pessoas que começam usar lavanda e se abrem mais espontaneamente pro modo como enxergam as relações familiares e, com isso, sentem uma melhora em tudo e, por consequência, menos tensas, conseguem dormir?

Ninguém sabe o mecanismo de ação de efeitos como estes, mas eles existem.

Desta forma, usar lavanda pra dormir melhor vai depender do tipo de expectativa que você tem sobre dormir melhor, e o quanto você conhece de si próprio enquanto um ser físico/emocional/espiritual que tem N motivos pra não dormir bem.

Usei estes dois exemplos – eucalipto pra respirar melhor à noite, e lavanda pra dormir a noite toda – e acho que você já sacou o que pode ou o que não pode ser “efeito” – e, com  a advertência lá em cima sobre toxidade, sacou se é o caso de se buscar este efeito usando os OEs a noite toda.

Mas ainda preciso te falar de um ponto importantíssimo: nós somos anósmicos durante a noite. Ah, fala sério, profe? Super sério: à noite, não cheiramos. Aliás, por que você acha que existem alarmes de incêndio? Porque não sentimos o cheiro da fumaça se estivermos dormindo. Podemos acordar por causa do calor, por escutar o barulho da construção sendo consumida pelas chamas e podemos acordar tossindo sufocados – mas nunca pelo cheiro. Então, achar que a percepção do cheiro do OE está contribuindo pro seu efeito à noite é bobagem (aliás, tem pesquisa em ratos anósmicos mostrando que o mecanismo ansiolítico da lavanda não depende da percepção de seu cheiro). Sendo assim, se você quer usar um OE a noite toda, ou você está atrás dos efeitos que são intermediados por suas moléculas (elas sim, elas continuam indo pra sua corrente sanguínea via alvéolos pulmonares), ou você está atrás daqueles que são intermediados pelo além.

Tá joia, meu amor? Consegui explicar?

Minha opinião pessoal sobre usar OEs a noite toda – que é não – não deve impedir de você tomar sua própria decisão nem pensar com cabeça própria. Eu sou professora, não sou a verdade. Professores apresentam cenários, hipóteses e fazem perguntas. Às vezes dão respostas, quando elas estão presentes – mas na maior parte das vezes a gente faz é enfiar minhoca na cabeça do aluno porque nossa missão é fazê-lo pessoa autônoma na geração do conhecimento e na escolha do que fazer com o conhecimento.

Me conta o que você acha. Tô esperando e usando lavanda aqui pra aguardar seu feedback numa nice.

Beijo de cheiro, Mayra.

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